sábado, 16 de abril de 2016

Idolatria antiga e moderna.

Começo este assunto com uma pergunta que talvez para um cristão soe até deselegante, a pergunta é a seguinte: somos ou não potenciais idólatras? Acredito que até o final do assunto teremos a resposta. A bíblia nos dois testamentos condena totalmente a idolatria, porém nos dias bíblicos era fácil detectar um idólatra, ou seja, um idólatra era aquele que fazia e se prostrava diante de um ídolo. Is. 44.14-15 Um homem corta para si cedros, toma um cipreste ou um carvalho, fazendo escolha entre as árvores do bosque; planta um pinheiro, e a chuva o faz crescer. Tais árvores servem ao homem para queimar; com parte de sua madeira se aquenta e coze o pão; e também faz um deus e se prostra diante dele, esculpe uma imagem e se ajoelha diante dela”.
                           
O conceito de idolatria na atualidade deve seguir o mesmo padrão estipulado pela bíblia, no entanto a sua abrangência é infinitamente maior. Mediante o ensinamento da bíblia podemos definir o que era idolatria e assim ter uma base para poder interpretar a idolatria dos dias atuais. Um pouco da idolatria nos dias do AT. Gn. 31.19 Tendo ido Labão fazer a tosquia das ovelhas, Raquel furtou os ídolos do lar que pertenciam a seu pai”. Ídolos do lar são algumas espécies de imagens em que o povo da época fazia (e faz) o seu culto doméstico.

Ex. 32. 3-4 Então, todo o povo tirou das orelhas as argolas e as trouxe a Arão. Este, recebendo-as das suas mãos, trabalhou o ouro com buril e fez dele um bezerro fundido. Então, disseram: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito”. Para os judeus daqueles dias não existia a possibilidade de se conceber a Deus, a menos que fosse por meio de uma imagem de escultura. Tanto é assim que eles disseram: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito”.

Sendo assim nos dias antigos e mesmo nos dias atuais a idolatria era e é confiar aos ídolos aquilo que só é devido a Deus, em outras palavras o ídolo não serve como meio intermediário que represente ou intermedeie entre os homens e Deus, ou seja, as invenções da mente humana não podem nem mesmo tentar reproduzir a Deus, Dt. 4.15 Guardai, pois, cuidadosamente, a vossa alma, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o Senhor, vosso Deus, vos falou em Horebe, no meio do fogo”.

Para o povo bíblico idolatria era se envolver com os ídolos, a despeito de acharem que o ídolo era a melhor maneira de descrever a Deus. E nos dias atuais, como se dá a idolatria? Naturalmente ainda nos dias de hoje as pessoas que se servem dos ídolos os quais pensam representar a Deus ou mesmo os ídolos que servem como seu intermediário, dentro do ensinamento bíblico é acusado de idolatria. Porém, mediante a bíblia o conceito de idolatria para os dias atuais é um tanto mais abrangente.

E de uma forma mais abrangente, como se dá a idolatria? Vários são os ramos da idolatria, por exemplo, no mundo capitalista em que vivemos podemos dizer seguramente que o dinheiro é um ídolo bastante adorado. Vale ressaltar aqui que o adorar não significa apenas ajoelhar emocionalmente ou sem nenhuma razão para quem quer que seja. Naturalmente a adoração prestada a Deus é racional espiritual e isenta de egoísmo, já a adoração ao dinheiro é uma adoração ao inverso, ela é mundana, desprovida de espiritualidade e egoísta.

Muitos poderão dizer: - Quer dizer que você não corre atrás do dinheiro? Na realidade em um mundo capitalista quem não tem dinheiro não pode sobreviver. O que estou dizendo não é o fato de se preocupar em ter ou não dinheiro, mas o que fazem para ter o dinheiro, esta é a questão. Inúmeras são as formas ilícitas as quais temos presenciado em que as pessoas se submetem para poder adquirir dinheiro e manter um status, desde um pequeno roubo até um terrível assassinato, se esses métodos não são idolatria o que mais será?

Além da famigerada perseguição ao dinheiro para satisfazer ao ídolo chamado ego os ramos que abrangem a idolatria são variados, todos os dias nos deparamos com tentações as quais nos instigam a criar novos ídolos, ídolos esses nos quais muitas das vezes depositamos nossa esperança. Esta esperança e confiança, em qualquer outra coisa, que não Deus, é a essência da idolatria. Em termos bíblicos um ídolo é qualquer coisa que toma o lugar de Deus, principalmente aquilo em que empregamos o nosso coração. Vale ressaltar também que diferentemente da interpretação popular empregar o coração não é só simplesmente está cativo a algo, mas empregar o tempo as forças e os recursos. 

Lc. 12.29 Não andeis, pois, a indagar o que haveis de comer ou beber e não vos entregueis a inquietações”. Mt. 6.24 “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”. Podemos atestar enfaticamente que Toda sorte de coisas são ídolos em potencial, claro que isso depende das nossas atitudes e ações em relação a elas. Em muitos casos o idólatra não negará a existência de Deus. E mais, a idolatria pode ser um afeto excessivo a alguma coisa que configura algo perfeitamente lícito. Um ídolo pode ser um objeto físico, uma propriedade, uma pessoa, uma atividade, uma posição, uma instituição, uma esperança, uma imagem, uma ideia, um prazer, um herói, qualquer coisa que possa substituir o Deus criador.

A bíblia nos dá duas diretrizes as quais devemos sempre estar atentos afim de não sairmos do caminho que leva a vida eterna a primeira dela se encontra em 1ª Jo. 5.4 porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. Vencer o mundo, esta é uma ordem dada por Jesus e seus discípulos, porém temos percebido que este mandamento ou não é obedecido ou é interpretado de forma inversa ao ensinamento de Cristo. Na mentalidade cristã vencer o mundo não é sobrepujá-lo, ao contrário é evitá-lo, Rm. 12.2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.

Conformar com este século significa estar padronizado com o modelo mundano. Existem aqueles os quais conseguem ainda que parcialmente se separar das influências mundanas, no entanto a maior batalha encontrada na vida dos cristãos é a segunda diretriz mencionada logo acima, são as obras da carne, Ef. 5.5 Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus”. Todas essas práticas estão associadas ao deus ego o qual é de certa forma “cultuado”.

Assim sendo todos nós em maior ou menor grau somos idólatras. Outro exemplo de ídolo é o orgulho. Qual deve ser a atitude de uma pessoa quando essa é corrigida, ou aconselhada? Isto é claro para o seu próprio bem. Em outras palavras se alguém leu este assunto e desaprovou, não gostou achando que ela não se encaixa em tal definição, creia em algo muito real, o seu ego ou o ídolo foi ferido. Naturalmente tal pessoa deveria ser grata, mas a realidade humana tem demonstrado um número muito pequeno daqueles que aceitam uma advertência como sendo uma repreensão construtiva, a maioria fica irados raivosos isso só demonstra que o ídolo foi ferido, Rm. 4.15 “Porque a lei suscita a ira; mas onde não há lei, também não há transgressão”.

Sabendo que somos idólatras por natureza qual deve ser a nossa atitude em relação a Deus, visto que lhe somos devedores quando as suas instruções e salvação? Ou seja, vemos nas escrituras que o idólatra não herdará o reino de Deus e idolatria aqui não se restringe apenas ao ídolo mudo mais todas as suas formas e ramificações, Cl. 3.5 “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria”.

Muitos podem argumentar dizendo que Paulo está falando que à avareza é idolatria, pode ser, mas se o amor ao dinheiro é idolatria o que dizer de todos os itens mencionados no verso acima, todos eles escravizam e todos eles trazem satisfação para o ego sendo assim todos os itens mencionados se transforma em um ídolo. Isso só nos faz meditar que não podemos censurar como fazem os evangélicos em relação aos católicos romanos, para os evangélicos só os católicos são idólatras, ledo engano, quantos evangélicos temos presenciado que são tremendamente idólatras. Claro está que não estou concordando com a atitude dos católicos de se curvar perante uma imagem.

N a questão religiosa os católicos estão sendo restritos na adoração aos ídolos, ao passo que os evangélicos estão sendo abrangentes em sua idolatria. Naturalmente eles não estão sozinhos neste erro, Rm. 3.10 Como está escrito: Não há justo, nem um sequer”. E quanto o que fazer em meio a esta situação aparentemente normal, mas degradante a vida espiritual? Acredito que o primeiro e principal fato é reconhecer que não estamos em uma posição de privilégio com relação aquilo que nos é requisitado pela bíblia, segundo, aceitar o fato de sermos falhos e pecadores, não pensar como os mundanos os quais agem assim mesmo naturalmente.

Terceiro, meditar em nossa condição e ver qual ídolo existe dentro de cada um de nós, quarto com a ajuda de Deus realizar aquilo que Paulo nos estimulou no verso acima: “Fazei morrer a vossa natureza terrena”. 1ª Jo. 5.21Filhinhos, guardai-vos dos ídolos”.

Evandro.

sábado, 2 de abril de 2016

Qual o modelo de ceia se aproxima mais da bíblia?

Como alguém que acredita no evangelho não deixo de participar da santa ceia, tento seguir a ordem do mestre. Lc. 22.19E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim”.  (Grifo meu) Assim como várias doutrinas cristãs as quais cremos foram desenvolvidas ao longo dos séculos o mesmo podemos perceber acerca da santa ceia. Mediante isso fiquei pensando, qual ensinamento acerca da ceia do Senhor se aproxima mais do ensinamento bíblico? Este pensamento veio a mente com dois intuitos, (1) me aproximar mais daquele que se aproxima do modelo bíblico e (2) rejeitar por inteiro aquilo que não tem apoio da mesma.  

Bem, podemos dizer que quatro são as concepções acerca da Ceia do Senhor dominantes no meio cristão e são elas: transubstanciação, consubstanciação, presença espiritual e memorial. Analisaremos as quatro questões expostas e veremos qual delas se aproxima mais do modelo bíblico. No entanto esta postagem irá tratar apenas da transubstanciação quanto aos outros modelos tentarei apresentar em outra postagem. Mt. 26.26 Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo.”

(1) Transubstanciação: Transubstanciação é a conjunção de duas palavras latinas: trans (além) e (substantia), e significa a mudança da substância do pão e do vinho na substância do Corpo e sangue de Jesus Cristo no ato da consagração. A doutrina da transubstanciação é defendida pela Igreja Católica Romana, sendo um dos temas centrais de sua teologia e prática. De acordo com essa visão, a ceia deve ser ministrada ao povo num só elemento, a hóstia, nome dado a um pequeno pão sem fermento, de formato arredondado. Esse elemento, dizem, após ser consagrado pelo sacerdote ministrante passa por uma transformação em sua substância (daí o termo transubstanciação), tornando-se, literalmente, carne, sangue de Cristo.

Os católicos entendem que essa transformação não é visível porque ocorre apenas na substância do pão e não na matéria. Assim, conforme entendem, o elemento eucarístico, ainda que apresente em sua forma e aparência os atributos do pão, é, na verdade, em sua essência, carne humana! Uma das implicações da doutrina da transubstanciação é que sempre que a eucaristia é celebrada no culto católico (e isso acontece em todas as missas), o sacrifício de Cristo se repete.

Portanto, se várias missas forem realizadas num só domingo numa mesma catedral, naquele dia o sacrifício de Cristo se repetirá ali várias vezes, o mesmo ocorrendo em outras igrejas romanistas ao redor do mundo. É essa suposta repetição contínua do sacrifício do Senhor que dá o motivo pelo qual as igrejas católicas celebram sua ceia num altar e não numa mesa. A doutrina da transubstanciação também explica porque os padres, pelo menos há alguns anos, orientavam os fiéis a não morder a hóstia, mas sim deixá-la dissolver-se na boca.

Essa era uma forma de tentar infundir nas pessoas incultas um entendimento maior acerca do suposto mistério presente no “corpo eucarístico de Cristo”. Essa doutrina é ainda o fundamento pelo qual os sacerdotes católicos tendem a fazer o “sepultamento” de hóstias consagradas que sobrou depois de encerrada a missa. No seu entender, jogá-las fora seria sacrilégio cometido contra o próprio corpo de Cristo e armazená-las não seria o modo digno de lidar com um cadáver tão santo.

Os católicos acreditam que é somente graças ao milagre da transubstanciação que o homem pode efetivamente conhecer Cristo como o pão da vida e se alimentar dele para viver eternamente, para isso valem-se dos seguintes versos. Jo 6.48 e 54. Eu sou o pão da vida”. “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. Segundo eles, comer a hóstia consagrada ajudará o fiel a conquistar a salvação, sendo imensos os benefícios espirituais que emanam da eucaristia.

Evidentemente, não há como sustentar essa concepção da ceia, nem lógica nem tampouco biblicamente. Primeiro porque não faz sentido propor a hipótese de uma mudança de substância sem uma consequente alteração na matéria, pois os acidentes de determinada substância pertencem necessariamente a ela. Assim, não há como um pedaço de pão deixar de ser pão e continuar com as células do pão. Negar isso seria contrariar as mais elementares noções de lógica.

O absurdo dessa concepção também é percebido quando se leva em conta a própria história da instituição da ceia. Ora, é óbvio que, quando o Senhor disse “isto é o meu corpo”, não estava segurando um pedaço dele próprio. Com efeito, naquele momento o pão estava nas mãos de Jesus, não era parte do seu corpo.

A doutrina da transubstanciação, com todos os seus desdobramentos, também não leva em conta ensinos fundamentais da Palavra de Deus. As Escrituras ensinam que o sacrifício de Cristo ocorreu uma vez por todas, não havendo necessidade de que se repita Rm 6.9-10 Sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus”.

Hb 7.27 “Que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu”. Ademais, quando Jesus afirmou ser o pão da vida, sendo necessário comer o seu corpo e beber o seu sangue para ser salvo, não pretendia com isso ensinar algum tipo de antropofagia ou canibalismo, como entenderam seus ouvintes naquela ocasião, Jo 6.52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne?

Na verdade Jesus estava figuradamente ensinando aos seus seguidores que aquilo que ele oferecia era melhor do que o maná distribuído na peregrinação de Israel. Jo. 6.35 Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede”.  O seu discurso registrado em João 6 deve ser entendido à luz do verso acima. Esse versículo revela a que Jesus se referiu quando fez alusão aos atos de comer sua carne e beber seu sangue. De fato, João 6.35 apresenta Jesus como o Pão da Vida, destacando que quem vai a ele se alimenta, e quem crê nele mata a sede. Logo, comer a carne de Cristo é buscá-lo; enquanto beber seu sangue é crer nele.  

Alimenta-se, pois, de Cristo, o indivíduo que o busca e deposita nele sua confiança. Este faz de Cristo sua comida e sua bebida, jamais tendo fome ou sede outra vez, lógico dito isto de uma forma espiritual. Fica claro que o ensinamento de ceia apresentado como transubstanciação não se aproxima do modelo bíblico, portanto na minha concepção fica rejeitado.

Evandro.