terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Deus não quer que ninguém pereça?

(2ª Pe. 3.9) Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.” As denominações religiosas exceto algumas, (e poucas) admitem que a questão do não perecimento referido pelo apostolo Pedro citado no versículo acima esteja relacionado a todas as pessoas que faziam parte do seu contexto. Como sabemos, os escritos bíblicos são direcionados para toda era cristã, logo, atribui tais denominações que Pedro está dizendo que o Senhor não quer que ninguém pereça, isto é, ninguém mesmo.

Uma visão como esta é lastimável, e bastante confusa principalmente no que tange a questão de Deus e sua soberania. Acredito que tais teólogos não conhecem ou se conhecem não acreditam que Deus age, julga, segundo a sua vontade. Ou que tais líderes não aceitam é o fato de que a decisão de Deus está acima do querer humano. Podemos analisar este verso de Pedro conjuntamente com o verso que se encontra em Ezequiel, onde Deus diz que não tem prazer na morte do ímpio. (Ez. 18.23)Acaso, tenho eu prazer na morte do perverso? — diz o Senhor Deus; não desejo eu, antes, que ele se converta dos seus caminhos e viva?”

Assim como Pedro, Ezequiel foi direcionado para o seu contexto, logo Deus estava arrazoando diretamente com Israel por meio do profeta. Da mesma forma se tomarmos o verso de Ezequiel e o direcionarmos para a era cristã, chegaremos a conclusão que ainda hoje, Deus não tem prazer na morte do perverso. Que Deus não tem prazer na morte do perverso ou ímpio em outras traduções é um fato real pois, muitos de nós fomos ímpios em algum tempo no passado e mesmo assim Deus nos poupou de perecermos antes de conhece-lo. (Rm. 5. 6-8) “Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.”

Outro fato é que Deus não compartilha a natureza humana e por isso não está sujeito as mesmas disposições oscilantes de espírito que nós estamos, tais como ódio e paixão, raiva e maquinações humanas. Sendo assim, podemos concluir que Deus não está preso as disposições e picuinhas humanas, isso faz com que Deus tenha uma atitude diferente da nossa com relação ao ímpio. Por isso a bíblia destaca que Ele não tem prazer na morte do perverso.

Acredito que este verso e outros que destacam a mesma ideia, contribuiu para que as denominações enfatizassem que Pedro estivesse relacionando todas as pessoas que estão sobre a terra, ou seja de que Deus não quer que ninguém pereça. (Is. 14.24) “Jurou o Senhor dos Exércitos, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e, como determinei, assim se efetuará.”  (Jó 42.2) “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.”

Estes versos e outros tantos é que faz com que tal visão do não perecimento universal se torne uma falácia. Em outras palavras é de dar pena quando ouço pessoas dizendo que Pedro é enfático em dizer que Deus não quer que ninguém pereça. E declarações como está são ditas todos os dias por pessoas e líderes religiosos os quais defendem as suas denominações como sendo a “menina dos olhos de Deus”. Ou seja, igreja verdadeira não profere algo que não seja somente a verdade, portanto segundo tais líderes Pedro está ensinando que Deus não quer que nem mesmo uma única pessoa pereça. 

Porque este ensinamento não subsiste? Pelo fato de que a vontade soberana e suprema de Deus deve sempre ser cumprida! (Gn. 1.3) Disse Deus: Haja luz; e houve luz.” Conforme diz o Dr. Sprou, “a luz não pode se recusar a brilhar”. Ou seja, se é a vontade soberana e eficaz de Deus que está sendo tratada em 2ª Pedro 3.9 logo ninguém irá perecer. Mas podemos ter a certeza de que não é a vontade eficaz de Deus que está sendo tratada no verso em segunda Pedro, pelo fato de que o perecimento é algo que está registrado na bíblia. (2ª Pe. 3.10)  Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas.” (Ap.20.15) E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo.”

Também não é a vontade de preceito ou aquilo que Deus exige, pois caso fosse às pessoas que vão perecer deveriam ser julgadas por terem perecido e assim sucessivamente. Isso pelo fato de que nós podemos nos rebelar contra as ordens de Deus, porém tal ação de nossa parte não será feita sem uma reação por parte de Deus. Sendo assim o verso de Pedro não está tratando da vontade de mandamento de Deus, pois a bíblia não ensina que os que perecerem por contrariar as ordens de Deus irão perecer novamente. Tanto o perecimento como a vida eterna serão são atos únicos.

Sem nenhuma sombra de dúvida o verso nove de 2ª Pedro capítulo três está falando dos resgatados ou dos ex-ímpios, não há outra explicação plausível. O contexto em que se situa o capítulo três de Pedro já nos assegura isso (2ª Pedro 3.1)Amados, esta é, agora, a segunda epístola que vos escrevo; em ambas, procuro despertar com lembranças a vossa mente esclarecida”. Pedro está se dirigindo não ao mundo ímpio mas aos crentes, nos versos subsequentes ele destaca que os homens ímpios iriam dizer que a vinda do Senhor não se daria, pois desde que eles eram crianças já houviam tais declarações.

Como se não bastasse o próprio verso nove nos diz com clareza explicita quem são aqueles que Deus e Jesus não quer que pereçam, “...pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça...” Longânimo para convosco, convosco quem? Ora, os que haviam crido e que estavam aguardando o Senhor isso é claro. E o nenhum é o mesmo que o convosco, logo os cristãos que haviam e que estão crendo estes estão debaixo da vontade soberana e eficaz de Deus e não irão perecer, os ímpios que não se converterem estes irão perecer.

Mas a bíblia não diz que Deus não tem prazer na morte do ímpio? Sim diz, e não tem mesmo, como disse acima, Deus não tem as mesmas disposições que nós temos. Mas por outro lado segundo a bíblia o perecimento (e isso se tratando de um perecimento espiritual) do ímpio do não convertido do descrente, faz parte dos planos eternos de Deus, ou seja, não é do agrado de Deus que o ímpio o perverso pereça, mas segundo a justiça de Deus é bom que ele pereça.

Lembremos sempre, caso fosse o contrário ou que Deus soberanamente e eficazmente impedisse o ímpio de perecer, ele jamais pereceria. Mas não é assim, Deus não pode negar-se a si mesmo, portanto é bom que o ímpio não pereça, mas é bom também que ele se converta,  caso contrário a justiça de Deus será feita e o ímpio certamente perecerá.