segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Jesus já voltou?

Neste tópico quero demonstrar o porquê não aceito o preterismo como o método de interpretação das profecias feitas por Jesus, principalmente a sua forma radical onde é dito que todas as palavras de Jesus descritas em Mateus 24; Marcos 13 e Lucas 21 já tiveram o seu cumprimento total. Naturalmente não acredito no oposto, ou seja, de que nenhuma profecia de Jesus se cumpriu e que irá cumprir-se no futuro, não sou futurista. Acredito que as palavras de Jesus tiveram tem e terão cumprimento, logo a minha visão é progressista.

Os preteristas usam os textos bíblicos a seguir com o intuito de dar suporte a sua interpretação 1ª Jo. 2.18 (Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora.) 2ª Tm. 3.1 (Sabe, porém, isto nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis.)

Última hora, último tempo, últimos dias, tudo isso tem sido a base do ensino preterista, afirmam eles que tais palavras foram dirigidas únicas e exclusivamente para os dias que antecederam o ano 70 dC. É ensinado que a última hora está relacionando o juízo de Deus sobre Israel, nada além disso. No entanto, acredito parcialmente que tais ensinamentos faziam parte sim da crença dos discípulos, baseado nos ensinos de Jesus registrados nos evangelhos, Jerusalém sofreria a condenação descrita, tanto que não sobraria pedra sobre pedra, e realmente ocorreu assim.

Mt. 24.1-2 (Tendo Jesus saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos para lhe mostrar as construções do templo. Ele, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.) Lc. 21.20 (Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação.)

Não pode se negar o fato de que o juízo veio sobre os judeus naqueles dias. Mas dizer como alguns preteristas que a palavra última hora entre outras não é escatológica não é cem por cento seguro. Por exemplo alguns tem ensinado que Paulo dirigiu-se exclusivamente a Timóteo quando disse: os últimos dias os tempos “seriam” difíceis. Os preteristas dizem: “Se Timóteo não está vivo, e se os últimos dias é escatológico, por que então Timóteo deveria se preocupar com um ensinamento do qual ele não presenciaria”.

Se esta mentalidade for levada a sério, então guardamos a bíblia para nada, sem nenhum objetivo. Ou em outras palavras, para que escreveram tais palavras se o cumprimento seria imediato e nada temos a ver com isso? Muitos tem argumentado que as palavras (última hora) devem ser interpretadas literalmente a partir das palavras dos escritores bíblicos. Porém a palavra grega eschatos para último, não se restringe somente aquele momento de tempo, é abrangente, serve para último no tempo ou no lugar, e último numa sucessão temporal.

Outro fato interessante percebido se dá quando fazemos uma analogia, por exemplo: vezes por outra utilizo-me da personificação para falar do pecado do diabo e assim por diante, sabemos no entanto que as denominações tradicionais rejeitam tais ensinamentos, mas quando é para fortalecer os seus pensamentos valem-se da mesma estratégia, é o caso do ensino preterista.

Mc. 13.24-25 (Mas, naqueles dias, após a referida tribulação, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados.) Argumentam os preteristas que esta profecia se cumpriu na integra, pelo fato dela suceder as palavras “após a referida tribulação” do mesmo verso. Ensinam que o sol a lua e as estrelas neste verso não podem ter uma aplicação literal, valem-se então do mesmo argumento que tanto combatem.

Neste caso específico argumentam que o sol a lua e as estrelas são as autoridades judaicas. Acredito também que em muitos casos a bíblia se vale de uma linguagem figurada, mas o problema do emprego desta linguagem neste assunto se dá quando a transcorrência da interpretação, ou seja, Jesus profetizava sobre a destruição de uma forma literal e incisiva e de repente sem mais nem menos ele espiritualiza o seu discurso, seria isso desta forma?

Pois para os preteristas a grande tribulação destruição de Jerusalém, foi literal e única na história, mas o escurecimento do sol a ausência da luz da lua e etc. são apenas acontecimentos simbólicos, isso para dar suporte ao ensinamento preterista das profecias do fim descritas por Jesus. Baseado neste ensinamento Jesus já voltou.

Porém para confirmar tal ensinamento somente se a personificação continuar sendo utilizada e é isso mesmo que os preteristas fazem, e é neste ponto que eu rejeito este entendimento. Mt. 24.30 (Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória.)
       
Para o preterista estes versos são coisas do passado, Jesus já veio, como assim Jesus já veio? É aqui que entra uma mirabolância teológica tremenda, Dn. 7.13 (Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele.) Segundo a interpretação preterista a volta de Jesus se deu de uma forma espiritual no céu, tem até uma semelhança com o ensinamento adventista sobre a volta de Jesus em 1844, se valem do mesmo verso.

Se este ensinamento for uma realidade nos depararemos com alguns problemas uns de ordem emocional espiritual e outro teológica. O problema de ordem emocional espiritual se refere a decepção dos cristão que viveram e vivem após o ano 70. Se Jesus já “voltou” e ninguém viu os que o aguardam não passam de pessoas enganadas e desiludidas, já o problema de ordem teológica é o verso seguinte, Mt. 24.31 (E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus.)

Lógico que para responderem este dilema irão espiritualizar o verso, dirão que foi a libertação dos judeus do cerco romano ou a conversão ao evangelho e etc. Mas isso não ameniza a causa teológica nem mesmo o problema espiritual sugerido. E mais, segundo este ensinamento o reino de Deus é a igreja, e por meio dela Jesus está reinando, não irei contestar que Jesus está agindo no meio da sua igreja, mas atualmente não vemos fazê-lo de um modo físico, e principalmente no que diz respeito a exercer um reinado.

Acredito piamente que o reino de Cristo não será um reino onde poderemos contemplar a injustiça como ora presenciamos, a igreja de Cristo a visível não poderá estar dividida e muito menos com conjuntos de partidos, tanto interno quanto externo. Sendo assim, acredito que a destruição do templo e a tribulação parcial realmente aconteceu entre 66-70 dC. Mas não chego ao extremo de dizer que Jesus já voltou e que o seu reino está operante. 

Evandro.


terça-feira, 17 de novembro de 2015

Diabo e Satanás, seres espirituais, ou pessoas impenitentes?

Quando fazemos uma leitura superficial da bíblia percebemos que a interpretação popular acerca do diabo e satanás ganha forças, veremos alguns versos que nos dão a impressão de estarmos lidando com o ser defendido pela cristandade; portanto em um assunto como este o ideal é deixarmos a interpretação popular de lado e focarmos em outras interpretações.

Lc. 22. 3 (Ora, Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era um dos doze.) Lc. 22. 31 (Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo!) Jo. 13. 2 (Durante a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que traísse a Jesus.) Jo. 13. 27 (E, após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás. Então, disse Jesus: O que pretendes fazer, faze-o depressa.)

Dentro do pensamento popular estes versos não só são citados, mas tidos mais do que suficiente para provar a existência do diabo ou um ser super espiritual do mal; qualquer pessoa que fora criado dentro dos limites do cristianismo popular irá pensar desta forma, porém tal interpretação deixa lacunas. Nos versos acima o diabo colocou o pensamento de traição no coração de Judas, mas logo após o bocado, ao invés do diabo foi Satanás que entrou nele. Os versos citados foram João 13.2 e 27.

Surge então uma pergunta: Será que Satanás entra em alguém que já foi capturado pelo diabo? Os defensores da tradição popular irão questionar dizendo que são nomes diferentes para designar o mesmo ser, mas não é isso que o original grego quer dizer, por exemplo: diabolos é dado à calúnia, difamador, que acusa com falsidade. Já satanás mesmo no grego é adversário, alguém que se opõe a outro em propósito ou ação. Ou seja, seres distintos.

Jo. 6. 70 (Replicou-lhes Jesus: Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo, um de vós é diabo.) Logicamente Jesus não escolheu um ser espiritual para ser seu discípulo, na verdade Jesus escolheu doze pessoas, seres humanos, apesar de todos serem pecadores as ações de Judas distinguia-o dos demais, e o verso seguinte nos mostra o porque ele era um diabo, Jo. 6.71 (Referia-se ele a Judas, filho de Simão Iscariotes; porque era quem estava para traí-lo, sendo um dos doze.)

Ainda sobre a distinção entre "o diabo" de João 13. 2 e "Satanás" de João 13. 27 temos a seguinte sugestão: assim como o diabo é uma referencia a traição a calúnia e a difamação significa que algum emissário dos sacerdotes semeou no coração (mente) de Judas que ele traísse a Jesus. Quanto a Satanás que significa adversário pode muito bem representar o maior adversário do homem, o pecado, o qual “entrou” Judas e dominou-o por completo tornando-se seu senhor e mestre.

Os versos a seguir demonstram um completo apego ao pecado, Jo. 12.6 (Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, o que estava para traí-lo, disse: Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres? Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava.)

Lc. 22.31 (Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! (ARA). Eis que Satanás vos reclamou, é o que o verso diz, percebemos que Jesus utilizou do plural para chamar a atenção de Pedro, “vos reclamou” disse ele. Vejamos outra versão, («Simão! Simão!», disse ainda o Senhor, «olha que Satanás pediu para vos experimentar a todos, como quem passa o trigo por um crivo.) (TPC). Esta tradução é enfática em dizer que Satanás (pediu visto que este é o verdadeiro sentido de vos reclamar) conforme Lucas 22.31. Podemos entender este verso como sendo os líderes judaicos insistindo com Pedro e os demais acerca de entregarem a Jesus, assim como fizeram com Judas e tiveram êxito.

At. 5.3-4 (Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus.) Vemos nestes versos que Satanás é uma clara referencia ao pecado, Pedro disse que Satanás encheu o coração de Ananias com a mentira, porém o verso seguinte diz que o próprio Ananias foi quem assentou este designo no coração, a palavra assentaste é tithemi e significa: colocar, pôr, estabelecer, em outras palavras o próprio Ananias assentou na mente tal intento. 

Sob uma ótica não popular quando a bíblia diz que Satanás entrou em alguém significa que tal pessoa foi completamente dominado pelo pecado. No entanto o verso a seguir tem sido muito utilizado com o objetivo de comprovar o pensamento popular da queda do diabo, Lc. 10.18 (Mas ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago.) A Interpretação popular diz que o verso só vem comprovar o pensamento de que realmente existiu um Anjo no céu o qual se rebelou e por isso foi lançado para a terra; será que existe apoio e comprovação bíblica para tal interpretação?

Sl. 5.4 (Pois tu não és Deus que se agrade com a iniquidade, e contigo não subsiste o mal.) Hc. 1.13 (Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?) Lc. 20.35-36 ( mas os que são havidos por dignos de alcançar a era vindoura e a ressurreição dentre os mortos não casam, nem se dão em casamento. Pois não podem mais morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição.)

Os versos acima nos mostram a impossibilidade da existência do pecado junto de Deus e nos diz também que aqueles que alcançarem a ressurreição dos mortos serão como os Anjos, pois não podem morrer. Ora segundo a bíblia a morte do ser humano é resultado do pecado, sendo assim como o diabo irá morrer; segundo a interpretação popular ele pecou, mas por outro lado a bíblia diz que os Anjos não pecam, isso está implícito quando ela diz que eles não podem morrer.

“Caiu do céu como um relâmpago” Jesus está usando uma linguagem figurada. Ainda segundo a interpretação popular Satanás caiu do céu antes ou nos dias de Adão, não nos dias de Cristo. Qualquer tentativa de relacioná-lo com o príncipe deste mundo que foi expulso é difícil, Jo. 12.31 (
Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso.) Pois tal ocorrência se deu no momento da morte de Cristo enquanto a queda de Satanás segundo o próprio Jesus ocorreu durante seu ministério. Como disse acima o pensamento popular, ensina que "Satanás" caiu do céu para o Éden, então ele já estava na Terra a milhares de anos, no entanto, nos é dito que Jesus viu isso acontecendo em seus dias.

Fato é que a interpretação popular acerca da Queda de Satanás se vale do pensamento de John Milton que retratou em seu livro O paraíso perdido, onde o anjo rebelde foi banido para sempre da sua morada de bem-aventurança. Se a encarnação do mal e seu exército de seguidores, literalmente, caíram do céu para terra, porque só Jesus o viu, e os seus discípulos não viram? Por que não há registro deste evento tão incomum? Queda do Céu é uma forma figurativa de perda de autoridade, é usado, por exemplo, como já visto em outro assunto na morte do rei de Babilônia, em Isaías 14.

Lm. 2.1 (Como o Senhor cobriu de nuvens, na sua ira, a filha de Sião! Precipitou do céu à terra a glória de Israel e não se lembrou do estrado de seus pés, no dia da sua ira.) Qual Satanás Jesus “viu” cair do céu? Como dito anteriormente Satanás representa não só um inimigo físico, mas também o governo do pecado que ora presenciamos, quando digo governo do pecado refiro-me a própria natureza pecaminosa do ser humano não regenerada.

Quando Jesus disse para os discípulos que “Viu” Satanás cair ele estava intensificando a alegria dos discípulos. Os apóstolos tinham acabado de curar um monte de gente Lc. 10.17 (Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! Neste sentido estava sendo divulgado o reino de Deus que fará frente ao governo do pecado simbolizado por Satanás, reparem o que Jesus disse Lc. 10.19 (Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano.) Neste sentido o reino do pecado simbolizado por Satanás estava perdendo forças, em outras palavras estava caindo do céu.

Evandro.



segunda-feira, 2 de novembro de 2015

As mulheres e o sepulcro vazio.

Os evangelhos não terminam com o sepultamento de Jesus, mas com a descoberta do sepulcro vazio pelas mulheres. No Novo Testamento as histórias do sepultamento e do sepulcro vazio são a mesma história, apesar de terem sido escritas por fontes diferentes. Seria improvável que os primeiros cristãos fizessem circular uma história que terminasse com o sepultamento de Jesus, tal história ficaria incompleta se terminasse com o seu sepultamento, porém os evangelhos demonstram as mulheres vendo e relatando sobre o sepulcro vazio.

 Mc. 16.1-6 (Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem embalsamá-lo. E, muito cedo, no primeiro dia da semana, ao despontar do sol, foram ao túmulo. Diziam umas às outras: Quem nos removerá a pedra da entrada do túmulo? E, olhando, viram que a pedra já estava removida; pois era muito grande. Entrando no túmulo, viram um jovem assentado ao lado direito, vestido de branco, e ficaram surpreendidas e atemorizadas. Ele, porém, lhes disse: Não vos atemorizeis; buscais a Jesus, o Nazareno, que foi crucificado; ele ressuscitou, não está mais aqui; vede o lugar onde o tinham posto.)

Muitos teólogos preferem a fonte de Marcos, isso pelo fato de sua simplicidade escriturística. Apesar da ressurreição em si não ser testemunhada (somente o sepulcro já encontrado vazio) a fonte de Marcos a descreve de uma forma bastante simples acerca do triunfo de Jesus sobre o pecado e a morte, não há utilização de títulos nem citações de profecias cumpridas ou mesmo descrições do Senhor ressuscitado. Portanto, isso é muito diferente de uma ficção criada por cristãos. 

Para fazer uma ideia de quão comedida é a narrativa de marcos, basta ler o relato do evangelho apócrifo de Pedro, que descreve a triunfante saída de Jesus do sepulcro como uma figura de proporções gigantescas, cuja cabeça alcança as nuvens, sustentada por anjos gigantescos, seguida por uma cruz que fala, anunciada por uma voz vinda do céu e testemunhada pelos guardas romanos, líderes judeus e uma multidão de espectadores. Isso demonstra o quão real as lendas se parecem: elas são coloridas por acréscimos teológicos e apologéticos. Já o relato de Marcos, por contraste, é inflexível em sua simplicidade.                         

Pouco tempo depois da descoberta do sepulcro vazio pelas mulheres, Paulo passou a transmitir aquilo que havia recebido de forma oral, I Co. 15.3 (Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras.) Paulo cita uma tradição extremamente antiga que se refere à morte e ressurreição de Cristo, Paulo testifica que recebeu dos contemporâneos de Jesus a informação que ele realmente tinha morrido.

Mais não ficou só nisso 1ª Co. 15.4-8 (E que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E apareceu a Cefas e, depois, aos doze. Depois, foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora; porém alguns já dormem. Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo.)

Além disso, duas outras características da tradição paulina implicam o sepulcro vazio. Primeiro, a expressão “foi sepultado” seguida da expressão “ressuscitou” implica o sepulcro vazio. A ideia de que um homem pudesse ter sido sepultado e depois ressuscitado, mas seu corpo ainda ter permanecido no sepulcro é uma noção sem sentido. Para os judeus do primeiro século não haveria a menor dúvida de que o sepulcro de Jesus estaria vazio.

Portanto quando a tradição bíblica diz que Jesus foi “sepultado e ressuscitou” nela está implícito que o sepulcro vazio foi deixado para trás. Dadas as remotas data e origem dessa tradição, os que a escreveram jamais poderiam ter acreditado em algo que dissesse que o sepulcro não estava vazio. A expressão “terceiro dia” testifica do sepulcro vazio. Embora bastante sintetizada, uma vez que ninguém de fato viu Jesus ressuscitar dos mortos.

Por que os primeiros discípulos proclamavam que Jesus tinha ressuscitado no “terceiro dia”? Por que não no sétimo dia? A resposta mais provável é que foi no terceiro dia que as mulheres encontraram o sepulcro vazio e, com isso, naturalmente a própria ressurreição veio a ser datada nesse dia. A descoberta do sepulcro vazio não pode ser relatada como um desenvolvimento posterior e lendário.

E mais! Existem boas razões para perceber a presença de fontes independentes para o relato do sepulcro vazio nos outros evangelhos e em atos. Mateus claramente trabalha com uma fonte independente, pois ele inclui o relato dos guardas no sepulcro, Mt. 27.62-63 (E, no dia seguinte, que é o dia depois da Preparação, reuniram-se os príncipes dos sacerdotes e os fariseus em casa de Pilatos, dizendo: Senhor,lembramo-nos de que aquele enganador, vivendo ainda, disse: Depois de três dias, ressuscitarei. 

Além disso, seu comentário sobre como o rumor de que os discípulos haviam roubado o corpo de Jesus era uma história inventada que circulava naqueles dias. Mt. 28.15 (E eles, recebendo o dinheiro, fizeram como estavam instruídos. E foi divulgado esse dito entre os judeus, até ao dia de hoje.) Esse relato em Mateus demonstra que ele está respondendo a uma tradição anterior. Lucas também possui uma fonte independente, pois ele conta a história, que não se encontra em Marcos, os dois discípulos que foram ao sepulcro para verificar o que as mulheres contaram sobre o sepulcro estar vazio.

Lc. 24. 13-15 (Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas. Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles.) A história não pode ser considerada uma criação de Lucas, pois o mesmo incidente e relatado de forma independente em João.

Jo. 20.1-2 (No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra estava revolvida. Então, correu e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram.) E também no livro de atos temos mais referencias indiretas ao sepulcro vazio. At. 2. 32 (A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas.)
            
Os historiadores pensam ter feito uma descoberta histórica útil, quando possuem dois relatos independentes do mesmo acontecimento. Mas no caso do sepulcro vazio temos não menos do que seis relatos independentes, sendo que alguns deles estão entre os materiais mais antigos que se encontram no Novo Testamento.

O fato das mulheres terem encontrado o sepulcro vazio só vem confirmar a sua veracidade. A fim de entender esse ponto precisamos entender duas coisas acerca do lugar da mulher na sociedade judaica. Primeiro, as mulheres não eram consideradas testemunhas dignas de crédito. Essa atitude em relação ao testemunho de mulheres fica evidente na descrição fornecida por Josefo, historiador judeu, ”das regras para testemunho admissíveis”.

Diz ele em Antiguidades IV.8.15 “Que um testemunho de uma mulher não seja admitido em função de sua leviandade e atrevimento. Na bíblia não se encontra um regulamento como esse. Antes, é um reflexo da sociedade patriarcal do judaísmo do primeiro século. Segundo, as mulheres ocupavam um baixo nível na hierarquia social judaica . comparadas aos homens elas eram consideradas como cidadãos de segunda classe.

Considere esses textos rabínicos: “Que as palavras da lei sejam antes queimadas do que entregue as mulheres” (Sotah 19ª) E também “Feliz aquele cujos filhos são homens, mas infelizes aqueles cujos filhos são mulheres” (Kiddushin 82b). A oração diária de todo homem judeu incluía a seguinte benção: “Bendito és tu, Senhor nosso Deus soberano do universo, que não me criou gentio, escravo ou mulher” (Berachos 60b).

Assim considerando o seu baixo status social e a incapacidade de servir como testemunhas legalmente reconhecidas, é um tanto surpreendente que tenham sido mulheres que encontraram, como principais testemunhas, o sepulcro vazio. Se o relato do sepulcro vazio não fosse verídico, ou seja, se fosse uma lenda, nessa lenda provavelmente seriam os discípulos que seriam postos como aqueles que encontraram o sepulcro vazio.

Extraído do excelente livro, Em Guarda.

Postado por Evandro.