O
cristianismo do 3º século em diante achou necessário transformar Jesus em Deus. Talvez por
necessidade dos novos convertidos os quais viviam a realidade da cultura
helenística, isto é, respiravam o ensinamento os quais acreditavam que os
deuses podiam se encarnar, ou mais propriamente acreditavam que os deuses
tomavam para si mulheres e com estas tiveram filhos. Mas como transformá-lo em
Deus se ele Jesus era humano?
Foi
então que os padres dos primeiros séculos adeptos da filosofia de Sócrates, Platão,
Plotino, Heráclito e outros se valeram da mesma e ensinaram que Jesus é o
Deus-homem. No livro (História da filosofia ocidental, vol. Pág. 330) diz: “O Deão Inge em seu inestimável livro sobre
Plotino enfatiza com muita precisão o que o cristianismo deve a ele. O
platonismo diz ele, é parte da estrutura vital da teologia cristã, com a qual
ouso dizer, nenhuma outra filosofia pode se conciliar sem atritos. Há uma
absoluta impossibilidade de extrair o platonismo do cristianismo sem destruir
por completo o cristianismo.”
Assim
sendo e se valendo deste ensinamento, os pais conciliaram a filosofia grega aos
escritos apostólicos principalmente o texto de João o qual cita que a palavra
ou o verbo estava com Deus. Jo. 1.1 “No princípio era
o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Já a bíblia boa nova em
português corrente diz: “No princípio era a Palavra. A Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus.” Como já dito em assuntos anteriores os tradutores
optaram por Verbo com V em maiúsculo ao invés de palavra pelo fato desta ser
feminino.
Assim mesmo a própria tradução em
português corrente faz um trocadilho e opta por escrever palavra como sendo
masculino; Jo. 1. 2-3 “Aquele que é a Palavra estava no princípio
com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem ele nada foi criado.” O certo seria: “Todas
as coisas foram feitas por meio dela” . O que João pretendeu dizer ao
descrer a palavra grega logos? Estaria ele falando daquilo que ela representava
ou estaria dando outro significado?
Logos significa muitas coisas entre elas estão: O ato de falar, palavra proferida a viva voz, aquilo
que expressa uma concepção ou ideia. o que alguém disse. Palavra, os ditos de
Deus, seu uso com respeito a MENTE em si, causa, motivo. Este é a real aplicação
para o termo logos, mas através de Heráclito esta palavra ganhou outra
conotação, Foi nos escritos de Heráclito que a
palavra "logos" mereceu especial atenção na filosofia da Grécia
Antiga. (1).
O
estoicismo é uma doutrina filosófica que afirma que todo o universo é corpóreo
e governado por um Logos divino (noção que os estoicos tomam de Heráclito e
desenvolveram. A alma está identificada com este princípio divino, como parte
de um todo ao qual pertence. Este logos (ou razão universal) ordena todas as
coisas: tudo surge a partir dele e de acordo com ele, graças a ele o mundo é um
cosmos (termo que em grego significa "harmonia"). Visto que o homem
buscava intensamente essa harmonia e tranquilidade de vida.
Devido a
isso na teologia cristã o conceito filosófico do Logos viria a ser
adaptado e tornou-se um Deus encarnado. Assim sendo Para Heráclito o logos
é a razão que domina todo o universo e que faz possível a existência de ordem e
regularidade no acontecimento das coisas. Para Ele, o logos também está
presente em nós e que deve servir para guiar-nos na nossa conduta e como
instrumento para o verdadeiro Conhecimento. Já na comunidade cristã, o termo
logos tornou-se o divino mediador da criação que se fez carne. Muitos acreditam
que o termo logos pertence ao cristianismo genuíno. Porém o conceito logos
havia surgido no contexto cultural helenista.
Outra
questão importante reside no fato de os escritos do AT. Não atribuir ou
comparar a palavra criadora de Deus com uma pessoa; Gn. 1.3 “Disse Deus: Haja luz; e houve luz.” A palavra original “Disse Deus” אמר é traduzido como ’amar e significa literalmente: dizer, falar, proferir, ordenar; diz
apenas que Deus falou e tudo se fez, nada diz de um ser intermediário agindo
com função criadora. O salmista compartilha deste pensamento ao dizer em Sl. 33. 6 “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o
exército deles.”
O verso 9 do mesmo capítulo corrobora com esta visão “ Pois ele falou, e tudo se
fez; ele ordenou, e tudo passou a existir.” Não há como acreditar em um ensinamento tão
modificado, a bíblia é clara em dizer que o ato criador de Deus foi através de
sua ordem expressa, porém, ao estabelecer a filosofia grega como sendo a base
do ensino cristão maculou-se a religião.
Com o
intuito em objetar muitos irão recorrer o verso de João lido acima e dirão: se
é assim como resolver a questão onde diz que o Verbo estava com Deus e o Verbo
era Deus? Tendo em mente que Verbo é o mesmo que palavra, podemos entender que
a palavra, a sua voz, é em última instância a sua autoridade, vontade e intenção,
portanto o representa. Assim sendo a prova deve ser exigida para os objetores,
os quais terão de responder o seguinte:
O Verbo
ou palavra é uma pessoa separada de Deus e estava com Deus na criação? Se
disserem que sim, fica claro que existem dois deuses. Ou seja, não há nenhuma
lógica em afirmar que Deus estava com Deus e mesmo assim não ser dois deuses,
inclusive tal ensinamento joga por terra o monoteísmo bíblico e mesmo a
doutrina trinitária, portanto a única lógica plausível é acreditar que o Verbo
ou a palavra de Deus é a sua intenção, propósito e ação que em última instância
o traduz.
Hb. 11. 3 “Pela fé,
entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o
visível veio a existir das coisas que não aparecem.” Aqui o autor da carta aos hebreus
acertadamente confirma o ato criador feito por Deus e diz que tal ato foi feito
por sua palavra, o interessante que neste verso não é usado a palavra logos
para descrever palavra, mais sim rhema, que
quer dizer: aquilo
que é ou foi proferido por viva voz, algo falado, palavra, qualquer som
produzido pela voz e que tem sentido definido, fala, discurso, aquilo que
alguém falou.
Fica claro então que o ensinamento das duas naturezas de
Cristo, de um logos como sendo uma pessoa separado de Deus, contradiz
claramente o ensino bíblico, os pais da igreja levaram anos e mesmo séculos
para tentarem elaborar um ensinamento coerente acerca das duas naturezas de
Jesus, e por fim foi dogmatizado como infalível.
Evandro.