quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Jesus morreu para o homem ou para Deus?

 A cristandade com pouquíssimas exceções, tem um ensinamento fragmentado acerca da morte de Jesus, e consequentemente sobre a justiça de Deus. É ensinado no meio religioso cristão, que Jesus morreu para o homem, e que a justiça de Deus refere-se a justiça que torna alguém justo. Pergunto: é somente isso que a bíblia está dizendo? Aparentemente sim, mas será que este é o ponto principal ensinado pela bíblia, principalmente nas páginas do NT? Rm. 3. 21 “Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas.”

A questão da morte de Jesus está relacionada com a justiça de Deus. Primeiramente a justiça de Deus deve ser entendida de duas formas distintas, a saber: justiça que condena, e justiça aplicada, aquela que torna alguém justo. Analisando o verso lido acima, podemos destacar o fato de que o “agora sem lei” refere-se ao momento em que a proposta de Deus não estava vinculada somente ao plano material, a Jerusalém, e aos judeus propriamente ditos, a obediência a lei serviu de base para eles permanecerem ou não na terra da promessa.

Mas, agora já não seria assim, era algo mais abrangente, tanto que Paulo começou a descrever a incapacidade não só do judeu, mas também do gentil, Rm. 3. 9 “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado.” Paulo, também nos diz que a justiça de Deus foi testemunhada pela lei e pelos profetas, de que forma foi ela testemunhada? E, qual justiça foi testemunhada, a que condena, ou a que torna justo?

Naturalmente a lei foi o período de Moisés, e de todos aqueles que perfizeram a época do pentateuco, ou mais propriamente o período que os israelitas vagavam pelo deserto, Lv. 18. 5 “Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis; cumprindo-os, o homem viverá por eles. Eu sou o Senhor.” E neste sentido, o período dos profetas foi todo o momento que os próprios testificavam e repreendiam o povo devido as suas transgressões, Ez. 20. 11 “Dei-lhes os meus estatutos e lhes fiz conhecer os meus juízos, os quais, cumprindo-os o homem, viverá por eles.”

E onde se encontra a justiça de Deus nestes versos? “os meus juízos guardareis; cumprindo-os, o homem viverá por eles.” Um descumprimento do mesmo, implicaria em aniquilação do meio do povo, Nm. 15. 30-31 “Mas a pessoa que fizer alguma coisa atrevidamente, quer seja dos naturais quer dos estrangeiros, injuria ao Senhor; tal pessoa será eliminada do meio do seu povo, pois desprezou a palavra do Senhor e violou o seu mandamento; será eliminada essa pessoa, e a sua iniquidade será sobre ela.”

A eliminação devido a desobediência, era uma manifestação da justiça de Deus no AT. Isso pode ser confirmado com as palavras de Paulo, Rm. 6. 23 “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.” Em outras palavras, o preço da transgressão é paga com a morte, e isso de comum acordo, nos dois testamentos. Portanto, à justiça aqui referida, é a que condena.

Assim sendo, à justiça de Deus era e será aplicada por causa da transgressão, “o que significa era é será aplicada?” No AT. Para o povo permanecer na terra da promessa, deveria viver por meio da lei, qualquer deslize que ocorresse, era necessário ser aplicada à justiça de Deus, no futuro a promessa bíblica é de que todos os que não se submeterem a Cristo para serem participantes da justiça que torna a pessoa justa, sofrerá a justiça que condena, Rm. 5. 10 “Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.” Se, os que estão em Cristo estão isentos da justiça punitiva de Deus, fica claro então, que Cristo sofreu essa justiça, sim, e é exatamente isso que a bíblia nos diz, Rm. 3. 25-26 “A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.”

Isso deixa claro ao menos duas questões: que o pecador que se converte deveria receber a sua paga, e o meio que Deus utilizou para isso, foi fazer recair sobre cristo a sua justiça, ou seja, a justiça que paga a transgressão, a fm de que a justiça que salva pudesse ser transmitida para os regenerados por meio de Cristo. Hc. 1. 13 “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?”

A palavra justiça implica em ser justo, logo a justiça pela transgressão deve ser revertida para o transgressor, naturalmente se entende em primeira instancia, que se trata da justiça punitiva, essa que o NT. Nos diz que recaiu sobre Cristo e livrou os escolhidos, neste sentido podemos concordar com a cristandade quando ela afirma que Cristo morreu para o gênero humano, ou mais propriamente para os seus, 2ª Tm. 2. 19 “Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor.”

No entanto, o que a cristandade não ensina, foi que Cristo morreu primeiramente para Deus. Sim, a justiça de Deus deveria se manifestar, e para Deus equilibrar a equação, pecado versos justiça, ou melhor, para que a sua justiça que é um dos seus atributos pudesse sobressair sobre o pecado, o pecador deveria sofrer a penalidade, foi assim que Jesus primariamente não morreu para o homem, mas sim para Deus. Rm. 4. 25 “O qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.”

Em suma, o que a cristandade ensina sobre morte de Jesus e justiça de Deus, são pontos secundários da teologia, ou seja, de que Jesus morreu para o homem e que a justiça por meio de Cristo torna o gênero humano justo perante Deus, isso são questões verdadeiras, mas falhas do ponto de vista teológico, o ponto principal nesta questão, diz que Jesus morreu primeiramente para Deus, com o intuito de equilibrar e harmonizar a ordem no universo, recebendo com efeito a justiça punitiva de Deus, a fim de que as suas criaturas, os seus escolhidos pudessem viver para sempre.