quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Salmo 110.1 - Mais um desacerto dos trinitários.

At. 2.22 (Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis.)

A palavra varão grifada acima, no grego é (ανερ = aner) e significa homem, como todos nós conhecemos. Pedro estava dizendo que Ele apresentava para os seus que Jesus o qual foi crucificado era ele o Messias, homem aprovado por Deus, Eu disse homem e não Deus.

Jesus veio primariamente para a nação de Israel como seu Messias. E o que eles fizeram com ele? Eles o mataram! E na sua maioria o rejeitaram. Porém sendo um homem justo não foi deixado na morte, At. 2.24 (Ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela.)

Deve-se salientar que o fato de Jesus não ter ficado retido na morte não foi porque Ele fosse o Deus Todo-Poderoso, mas sim que o Deus todo poderoso o Criador dos céus e da terra, que não pode mentir, prometeu na profecia do Antigo Testamento, que Ele levantaria Seu Filho dos mortos, Sl. 16.10 (Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.) Apesar de ser um salmo de Davi era também um salmo messiânico.
     
E é por isso também que "as portas do inferno” ou sepultura, Mt. 16.18 (Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.) não poderá manter seus prisioneiros, ou aqueles que forem de Cristo.

Como já fora mencionado Jesus Cristo foi um homem justo, sem pecado, portanto não merecia a pena, ou o "salário" do pecado, que é a morte, no caso a morte eterna. Sendo assim Deus podia legal e eticamente ressuscitá-lo dos mortos. A estrita absoluta obediência de Jesus a Deus foi a causa de não ter ficado para sempre no túmulo.

No pentecostes Pedro estava discursando para os judeus, e neste meio tempo Ele Pedro cita um dos personagens máximo dos hebreus, Davi, com o intuito de lembrar o povo que o próprio Davi falou acerca do Messias. At. 2.25 (Porque a respeito dele diz Davi:
 Diante de mim via sempre o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja abalado.)
         
Pedro também cita o verso 27 (porque não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.) Verso este que os judeus acreditavam que se referia ao próprio Davi, talvez na ressurreição dos justos, mas Pedro imediatamente faz uma afirmação que mexeu com os ânimos dos judeus. At. 2.29 (Irmãos, seja-me permitido dizer-vos claramente a respeito do patriarca Davi que ele morreu e foi sepultado, e o seu túmulo permanece entre nós até hoje.)

Pedro disse aos judeus que Davi havia profetizado sobre a ressurreição do homem que tinha sido entregue pelos judeus aos romanos o qual o assassinaram. Então ele corajosamente declarou que a ressurreição havia sido realizada. At. 2.32 (A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas.)

Sl. 110.1 (Disse o Senhor ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés.) Este salmo de Davi os judeus entendiam que se tratava do salmo do rei o qual ocupava o trono davídico, mas até aquele momento não existia ninguém que testemunhasse que um homem da linhagem do rei Davi tivesse subido aos céus; até a declaração de Pedro que Ele e outros testemunharam a ressurreição e ascensão do Cristo.

Sendo assim Pedro declarou também que Deus o fez Senhor e ungido ou Cristo At. 2.36 (Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.) Pedro enfaticamente declara aos ouvidos do povo que Jesus da linhagem de Davi é o Messias ou o Cristo,o ungido de Deus.

Esses textos mal entendidos são utilizados pelos trinitarianos com o intuito de ratificarem a doutrina da trindade, reparem que o salmo 110.1 diz: (Disse o Senhor ao meu senhor.) Logo os trinitarianos afirmam que este verso está se tratando de um Deus em unidade, pois no seu início o verso diz que Deus é Senhor e que o Messias é senhor.

Na realidade não era para ser assim, a palavra Senhor do início do salmo 110 foi traduzida pelos setenta, do qual vem o nome septuaginta, no original era Yahweh, mas como os judeus tinham receio em pronunciar o nome de Deus eles copiaram como SENHOR.

Repetindo o salmo 110 Pedro disse para os judeus que Davi não havia subido aos céus, então o Senhor que iria se assentar a destra de Deus não foi Davi e está registrado em At. 2.34-35 (Porque Davi não subiu aos céus, mas ele mesmo declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés.)

No original hebraico a primeira palavra Senhor é   יהוה Y ̂ehovah ou Javé =Aquele que existe”. Já a segunda palavra Senhor é ’adown ou senhor, chefe, mestre. Já a septuaginta a tradução para o grego dos setenta as duas palavras que diz Senhor é Kurios ou Kyrios que tem o mesmo significado que Adown ou Adonai.

Original hebraico diz: Disse  Yahweh a Adonai assenta-te a minha direita até que eu ponha os teus inimigos debaixo de teus pés. Para o povo judeus dos dias de Pedro o entendimento das declarações de Pedro foram claras, para eles Javé falou para Adonai o Messias que surgiria da linhagem de Davi.

Yahweh era o nome pessoal (próprio) de Deus no Antigo Testamento. Por outro lado, Adon foi um nome descritivo que significa "Senhor". Infelizmente, esses dois termos foram traduzidos do hebraico para a Septuaginta (Antigo Testamento grego) como kurios e depois para a nossa língua como "Senhor".  O que deve sobressair neste assunto é que o Salmo 110, Deus não estava falando consigo mesmo ou com a "segunda pessoa da Trindade." Em vez disso, Deus está falando com o Messias, da linhagem de Davi.

O salmo 110.1 em três traduções diferentes:

Disse o Senhor ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés. RA

O Senhor Deus disse ao meu senhor, o rei: “Sente-se do meu lado direito, até que eu ponha os seus inimigos debaixo dos seus pés.” NTLH


Jehová dijo a mi Señor: Siéntate a mi diestra, Hasta que ponga a tus enemigos por estrado de tus pies. La Santa bíblia reina-valera 1960.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O verbo de João 1 não é Jesus Cristo. Parte II

Vimos em outro assunto: http://evandro-blogdoevandro.blogspot.com.br/o-verbo-de-joao-1-nao-e-jesus-cristo_11.html. Deus sozinho trazendo todas as coisas a existência pela autoridade da sua palavra, Is. 44.24 (Assim diz o Senhor, que te redime, o mesmo que te formou desde o ventre materno: Eu sou o Senhor, que faço todas as coisas, que sozinho estendi os céus e sozinho espraiei a terra.) Sl. 33.9 (Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir.)

Em Isaías, a "palavra" de Deus é mencionada como um agente independente, mas totalmente a serviço de Deus, Is. 55.11 (Assim será a palavra que sai da minha boca: ela não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e terá sucesso naquilo para que a enviei.) Isso lembra a personificação da sabedoria em Provérbios, onde "ela" é retratada como ajudante de Deus na criação:

Pv. 8.22, 23 e 30  (O Senhor me trouxe [sabedoria] adiante como a primeira de suas obras, antes de suas obras de idade; fui nomeado desde a eternidade, desde o início, antes que o mundo começou. Então eu era o seu artesão ao seu lado. Eu estava cheio de alegria dia após dia, regozijando-se sempre na sua presença.)

Percebemos na bíblia que "Palavra", "Espírito" e "Sabedoria" são personificações, e estão intimamente ligadas à forma como Deus tem relacionado com o mundo como seu Criador, e que o uso de João do logos é consistente com este uso bíblico. Podemos ver como João baseia-se em todos os ensinamentos do Antigo Testamento.

A sabedoria é personificada em Provérbios 8, dizendo que ela estava no começo, e estava com Deus, e que ela era Seu instrumento na criação. A Palavra de Deus criou os céus (Sl 33:6), e assim fez o Espírito, conforme descrito em Jó. 26.13 e Gênesis 1.2. A linguagem bíblica é claramente uma figura de linguagem uma metáfora, personificação, e não uma realidade última. 

João está dizendo exatamente a mesma coisa do logosNenhum leitor judeu educado nos escritos dos profetas teria deduzido que João estivesse se referindo que o início do seu evangelho fosse uma pessoa que já existia com Deus desde os tempos eternos. Eles entenderiam que as palavras de João foi uma linguagem apropriada para descrever uma continuação das imagens pelo qual a Palavra ou Sabedoria ou as manifestações do Espírito de Deus que são inseparáveis ​​dele são descritas como as intenções de Deus em vigor.

Barclay, um acadêmico e respeitado grego, também reconhece que o logos está intimamente ligado ao poder e sabedoria. "Primeiro, a Palavra de Deus não é só discurso é poder. Segundo, é impossível separar as idéias da Palavra e Sabedoria; E foi a Sabedoria de Deus, que criou e permeou o mundo, que Deus fez. Há ainda mais evidências para ligar o entendimento semita de logos com "poder". O Targum aramaico são paráfrases do texto hebraico, e eles são bem conhecidos para descrever a sabedoria e a ação de Deus como Sua "Palavra". O aramaico era a língua falada de muitos judeus na época de Cristo, incluindo o próprio Cristo, e assim as pessoas na época de Cristo eram familiarizadas com elas. 

Lembrando que um Targum geralmente é uma paráfrase do que o texto hebraico diz, note como os seguintes exemplos de atributos de ação para a "palavra" do Senhor; Targum é qualquer uma das traduções em aramaico, mais ou menos literal, de partes do Antigo Testamento. Gn. 39.2 (O Senhor estava com José.) (E a palavra do Senhor foi ajudante de José). Ex. 19.17 (E Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus). No targum: (E Moisés levou o povo "para atender a palavra do Senhor.) Jó. 42.9, no hebraico: E a palavra do Senhor aceitou a face do trabalho de Jó.) No Targum (E o Senhor aceitou a face de Jó).  Salmo 2.4 (E a palavra do Senhor se rirá por causa do desprezo.) (O Senhor se rirá deles). 

O contraste entre o texto hebraico e as paráfrases aramaicas nos versículos acima mostram que os judeus não tinham nenhum problema em personificar a "Palavra" de Deus de tal forma que ela a “palavra” poderia agir em nome de Deus. As paráfrases também provam que os judeus estavam familiarizados com esta idéia referindo-se a Sua sabedoria e ação. Para os judeus Deus estava sozinho, por isso eram estritamente monoteístas, e não acreditavam de forma alguma em um “Deus Trino”.

"Eles estavam familiarizados com os idiomas de sua própria língua, e compreendiam que a sabedoria e o poder de Deus estavam sendo personificados e não representavam de forma alguma uma pessoa real. Ao lermos o Evangelho de João com uma verdadeira compreensão do conceito de logos, o maravilhoso amor do nosso Pai celeste é mostrado claramente. Desde o começo Deus tinha um propósito, um plano que deveria se materializar no mundo, de uma forma que revela o Seu amor e sabedoria. Deve estar claro, então, que o uso de logos no prólogo de João reflete a riqueza do uso bíblico do termo "Palavra" quando é usado em relação a Deus e Seu propósito criativo e suas atividades.

O logos no grego também significa “palavra”, “verbo”, mas foi a partir de Heráclito que o logos teve outro significado, então no 3º século AC. Os estóicos passaram a afirmar que o universo era corpóreo e consequentemente governado por um logos divino, noção esta que os estóicos tomaram de Heráclito e a desenvolveram.

Percebe-se claramente que esta idéia do logos divino oriunda dos estóicos influenciou grandemente os líderes cristãos do primeiro século; ao passo que para os judeus a “palavra” descrita em vários versos na bíblia representa a auto-expressão de Deus, Sua sabedoria, plano e propósitos, e que pode incluir seu poder e suas ações.

Quando passamos a compreender a influência que a filosofia teve sobre os primeiros cristãos e como isso afetou a compreensão do correto uso de “palavra, ou verbo” aí sim estaremos em condições de entendermos o pleno significado da frase, "No princípio" descrito em João 1.1.

O cristianismo tradicional e suas variantes ensinam aos seus seguidores que o princípio relatado no evangelho de João 1.1 é o mesmo princípio registrado em gênesis 1.1-2 isso é suposto pelo fato de acreditarem que a palavra de João 1 é Jesus Cristo, portanto ele estaria também no princípio em gênesis, mas se entendermos que a palavra de João 1 é o plano de Deus sendo trazido a existência compreenderemos que o princípio de João nada tem a ver com o princípio de gênesis.

O princípio relatado em João 1. 1 refere-se ao começo ou a materialização do plano de salvação de Deus, manifestado na pessoa de Jesus Cristo, dando a entender que a nova criação da qual fala a bíblia estava começando a se materializar.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

"Quem" ou "o que" é o diabo para o cristianismo? Uma leitura sem as lentes da ortodoxia cristã

Por uma leitura atenta da bíblia sem as lentes da chamada "ortodoxia cristã", podemos depreender que algumas crenças comuns entram em choque com o ensino das escrituras e que não conseguem, afinal, entrar em acordo sob alguns pontos importantes. Um desses pontos é a respeito de "quem ou o que" é o diabo.

Infelizmente o que percebo é que nossa leitura da bíblia está influenciada demais pelos chamados concílios eclesiásticos (Nicéia, Constantinopla e Calcedônia) além de carregar em nossa bagagem, conceitos que vêm de poetas e filósofos que absolutamente nada têm a ver com a formação das escrituras sagradas. E por este motivo, toda nossa crença a respeito de qualquer questão, como a de quem ou o que é o diabo, inevitavelmente se inclinará para este mesmo lado, com uma falsa roupagem cristã. 
E o resultado disso: Um cristianismo cheio de misticismo e lendas, que vive constantemente com medo do mal.


Proponho com esta reflexão, um "re-exame" do assunto, a fim de trazer à superfície a verdadeira "identidade" deste personagem que está escondido sob a tradição cristã e com isto verificar o que a bíblia nos diz realmente sobre Ele. 

Será que a bíblia apóia a idéia de que o diabo é um ser sobrenatural? Onde estaria o texto bíblico que comprova esta afirmação?
O que significam as palavras "diabo" e "satanás" na bíblia? Somente se referem a este ser rebelde ou tem um sentido amplo?
Onde se encontra na bíblia que o diabo foi algum dia um "anjo de Deus" que se rebelou nos céus? 

De um modo geral no mundo, especialmente no chamado mundo "cristão", existe a ideia de que as coisas boas na vida vêm de Deus e as coisas ruins do Diabo. Esta não é uma idéia nova; nem mesmo é uma idéia apenas limitada ao cristianismo apóstata. 

Os babilônios, por exemplo, acreditavam que havia dois deuses, um deus do bem e da luz, e um deus do mal e das trevas, e que estes dois travavam combate mortal. 
Ciro, o grande rei da Pérsia, acreditava exatamente nisso. 

Por isso Deus disse a ele, "Eu sou o Senhor, e não há outro, fora de mim não há Deus... Eu formo a luz, e crio as trevas, eu faço a paz, e crio o mal (“ desgraça" na Nova Versão Internacional); eu, o Senhor, faço todas estas coisas" (Is. 45:5-7, 22). 

Deus cria a paz e Ele cria o mal ou desastre. Neste sentido Deus é o autor, o criador do "mal".



Um pequeno exemplo de como nossos conceitos não vêm da bíblia, é o seguinte: Qual de nós já não ouviu dizer a seguinte frase:

A maior estratégia do diabo é fazer você acreditar que ele não existe.

Pois bem, esta frase, tão repetida por muitos cristãos foi criada por um poeta francês chamado "Charles Baudelaire" no livro intitulado "As Flores do Mal". A frase exatamente é assim:

O maior truque do diabo foi convencer o mundo de que ele não existe

E onde entra o cristianismo nessa história?  Entra ao copiar conceitos que ouviu, não sabe de onde e repetiu ao longo de séculos, que de tanto repetir acabou "se tornando" uma verdade. Verdade, para os que crêem nela. 

Podemos encarar o problema de frente, elaborando algumas perguntas que julgo serem importantes, e que penso que todo cristão deveria fazer a si próprio e buscar, como tesouro escondido, as repostas na bíblia para elas:

Vamos levantar a problemática sobre o assunto e refletir em cima do que cremos e comparar com o que as escrituras dizem..... Vamos fazer o teste?


PERGUNTAS

1) O diabo era um anjo no céu e foi "lançado" a terra - no Éden, conforme Apocalipse 12:7-9?

2) Ele incorporou a serpente para tentar Eva, conforme Genesis 3:1-5? Mas os versículos 14 a 17 só mostram 3 seres sendo punidos, onde estaria aí o diabo (o 4º ser)?.

3) Em Isaías 14:12 "caiu" do céu, ou seja, foi "lançado" de novo à terra...(???), mas já não tinha sido expulso do céu?

4) Quando, afinal, ele foi lançado à terra? Qual texto bíblico confima isto?

5) Em Ezequiel 28:13,17 diz que ele era um "querubim", estava no Éden e que era perfeito em formosura e que "por terra" foi lançado. Mas, onde é o Éden, no céu ou na terra?

6) Em Zacarias 3:1,2 se encontra de novo no céu, acusando Josué...(???)

7) Em Jó 1:6 e 2:1,2 está de novo no céu tentando acusar Jó; (???) Ou seja, mesmo tendo sido expulso do céu por Deus, ainda tinha acesso a ele (????)

8) Em Mateus 4 já está na terra tentando Jesus...

9) Em João 12:31 ele é expulso para  fora do mundo....(???);


Vamos continuar.....



MARCELO VALLE

valle-teologo.blogspot.com.br