quinta-feira, 1 de julho de 2021

Jesus e o maná.

Entre outros erros encontrado na “ortodoxia” cristã, está a propensão de tornar literal sempre aquilo que é naturalmente simbólico, ou espiritualizar sempre aquilo que é por natureza literal. Um exemplo claro de um simbolismo encontrado na narrativa bíblica está João capítulo 6. Jo. 6. 48 “Eu sou o pão da vida”. Estaria Jesus afirmando de modo cristalino de que Ele é um pão? E mais, estaria Jesus afirmando taxativamente que desceu do céu?

Precisamos entender todo o contexto bíblico somente assim não faremos afirmações precipitadas. O assunto começa a se desenrolar baseado em cima do pão, por que isso? Jo. 6.1-2 e 5 Depois disso, partiu Jesus para o outro lado do mar da Galileia, que é o de Tiberíades. E grande multidão o seguia, porque via os sinais que operava sobre os enfermos. Então, Jesus, levantando os olhos e vendo que uma grande multidão vinha ter com ele, disse a Filipe: Onde compraremos pão, para estes comerem?”

O pão está em relevo pelo fato de ser o item, o produto a ser utilizado naquele momento, ele não foi destacado para dizer que Jesus literalmente é um pão. Em outras palavras a realidade que seguiu aquele momento, serviu para Jesus fazer uma analogia, baseado naquilo que o povo precisava que foi o pão, em outras palavras o pão foi o meio utilizado por Jesus tendo como objetivo em levar o povo a tê-lo como o enviado de Deus.

Jo. 6. 24-26 “vendo, pois, a multidão que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, entraram eles também nos barcos e foram a Cafarnaum, em busca de Jesus. E, achando-o no outro lado do mar, disseram-lhe: Rabi, quando chegaste aqui? Jesus respondeu e disse-lhes: Na verdade, na verdade vos digo que me buscais não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes”.

Mas o povo não via assim, o milagre da multiplicação dos pães era algo “normal” para os judeus, eles conheciam o milagre do pão “maná” que já havia acontecido, tanto é assim que quando Jesus estava direcionando as suas mentes para que eles pudessem não segui-lo apenas pelo milagre da multiplicação, eles logo lançaram-lhe este acontecimento, a saber: o milagre do maná nos dias de Moisés.

Jo. 6. 30-31 “Disseram-lhe, pois: Que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos, e creiamos em ti? Que operas tu? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer o pão do céu”. Em outras palavras eles disseram: Moisés também fez um milagre idêntico e nem por isso disse que deveriam crer nele. Qual foi a resposta de Jesus? Jo. 6. 32-33 “Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade, na verdade vos digo que Moisés não vos deu o pão do céu, mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu. Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”.

Neste momento Jesus passa a fazer uso da analogia, ou seja, passa a ser simbolizado pelo pão. Assim como o maná que veio do céu, prolongou a vida terrestre dos judeus, Jesus estipulou as mesmas qualidades, propôs a vida, não a terrestre, mas a vida eterna, e para isso ele deveria ter as mesmas características do maná, ou seja, dar vida, vir do céu, ser enviado por Deus, os versos a cima deixa isso claro.

O contexto fortalece essa realidade, Jo. 6. 34-36 “Disseram-lhe, pois: Senhor, dá-nos sempre desse pão. E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede. Mas já vos disse que também vós me vistes e, contudo, não credes”. O pão repartido após o milagre, a busca da maioria dos seus seguidores pelo pão que perece, a lembrança do maná que foi distribuído no deserto, serviu de pano de fundo para a narrativa de Jesus. Os seus seguidores disseram: o milagre da multiplicação do pão existiu, associaram a história antiga relacionada ao maná, foi o que Jesus precisava, se o povo estava a procura de pão ele passou a ser o pão da vida dado por Deus.

Isso não significa de nenhuma forma ser Jesus um pão no verdadeiro sentido da palavra, os versos lidos acima continuam confirmando essa realidade, quando ele disse: (Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome;) vem a mim, em que sentido? Com o intuito em mastigá-lo? De maneira nenhuma! Ir até ele, é crer ser ele, o enviado de Deus. Caso seja diferente ele terá de ser considerado literalmente como a água, foi o que ele disse no mesmo verso: (e quem crê em mim nunca terá sede).

Nos versos a seguir Jesus volta a fazer a sua analogia, utilizando o maná, Jo. 6. 48-51 “Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.

Foi quando alguns dos seus seguidores não entenderam, então disseram: Jo. 6. 52 “Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como nos pode dar este a sua carne a comer?” Isso não pode ser, não existe esse costume entre os judeus, assim sendo os seus seguidores compreenderam corretamente de que Jesus não falava literalmente, infelizmente eles não conseguiram assimilar a ideia da analogia, entre o maná vindo do céu enviado por Deus, com o intuito de saciar o povo e Jesus o pão que propõe uma vida melhor.

Vejamos mais uma vez a associação feita: Jo. 6. 58 “Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.” Como disse anteriormente, o comer da carne de Jesus está associado a buscá-lo, a crer em seu nome, assim como os seus discípulos o seguiram por causa dos sinais e sobretudo pelo milagre da multiplicação, assim ele nos orienta a buscá-lo, como uma necessidade de alguém que almeja o alimento, neste caso o pão físico.

A maioria dos seus seguidores não compreenderam a analogia feita, fugiram pensando se tratar de um novo ensinamento o qual propunha até mesmo o canibalismo, muitos atualmente interpretam esse capítulo de João a questão do pão vindo do céu como sendo algo real, literal, mas reparem as palavras do próprio Jesus repreendendo os seus seguidores, Jo. 6. 60 “Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isso, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?”

Em outras palavras eles disseram: o homem deve estar louco como pode nos dá de comer de sua carne e a beber do seu sangue? Foi quando Jesus os repreendeu demonstrando que eles desconheciam as suas palavras e colocações, Jo. 6. 63 “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.” Em outras palavras Jesus disse: o que estou dizendo para vocês é algo puramente espiritual, e essa falta de compreensão espiritual impediu vocês de verem.