quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Presciência de Deus não é simplesmente prever.


Quando certa pessoa de bem, conquista honestamente alguma coisa, somos tendentes a exclamar: ele (a) merece, lutou para isso. O problema é que essa mentalidade do mérito invadiu o mundo religioso cristão, por muitas das vezes ouvimos as pessoas dizerem: fulano de tal morreu, mas ele vai para o céu, afinal era uma boa pessoa. O fato de ser “boa pessoa” aos olhos de outrem lhe proporciona um mérito para sua salvação espiritual, no entanto, essa visão é apenas algo confortador, movido por um sentimentalismo inspirador.

Contudo, existe no meio cristão uma tendência muito grande Para perverter a verdade da salvação espiritual realizada única e exclusivamente por Deus, o cristianismo tem se esforçado em difundir a salvação meritória. Por exemplo: o meio religioso cristão acredito eu, que quase sem exceções, acreditam que Deus é onisciênte, ou seja, de que todos os acontecimentos quer seja passado, presente e futuro, são definidos por Deus segundo a sua vontade.

Mas, quanto a questão da salvação o meio cristão tem outra interpretação, e essa interpretação segundo eles é que a eleição se baseia na presciência de Deus, e esta “presciência” é interpretada no sentido de que Deus previu que alguns seriam mais dóceis, ou melhores do que outros, que estes responderiam mais prontamente aos esforços do Espírito e, visto que Deus sabia que eles creriam, por conseguinte, predestinou-os para a salvação. Mas tal declaração é radicalmente errônea.

Por que é errado acreditar assim? Se acredito que existem pessoas espiritualmente melhores do que outras, logo eu tenho que renunciar a vários textos bíblicos que dizem que todos somos iguais, Jr. 13. 23 “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal”. Rm. 3. 10 “Como está escrito:Não há um justo, nem um sequer”. Rm. 3. 23Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”.

Assim sendo, se acredito que há algo de bom em alguns homens, a independência de Deus quanto a salvação fica nula, pois faz com que a sua escolha em relação a salvação se apóie naquilo que Ele descobriu na criatura. Assim a salvação espiritual passa a ser um mérito humano, sim, se digo que Deus previu que certos pecadores creriam em Cristo e, por isso os predestinou para a salvação, é o inverso da verdade. As Escrituras afirmam que Deus, em Seu conhecimento escolheu alguns para serem recipientes de Seus distinguidos favores.

At. 13. 48 “ E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna. E, portanto, determinou conferir-lhes o dom da fé. A falsa teologia faz do conhecimento prévio que Deus tem da nossa fé a causa da eleição para a salvação, ao passo que a eleição de Deus é a causa, e a nossa fé em Cristo, o efeito.

Quuando se faz a pergunta: o que significa a palavra “presciência”? “Conhecer de antemão”, parece ser a resposta mais correta. Mas não devemos tirar conclusões precipitadas, nem devemos apelar para o dicionário, o que é preciso é descobrir como a palavra é empregada nas bíblia. A palavra “presciência” (pré-conhecimento) não se acha no Velho Testamento. Mas “conhecer” (ou “saber”) ocorre ali muitas vezes. Quando esse termo é empregado com referência a Deus, com freqüência significa considerar com favor, denotando não significando mero conhecimento, mas sim afeição pelo objeto em vista, Ex. 33. 17 “Então disse o Senhor a Moisés: Farei também isto, que tens dito; porquanto achaste graça aos meus olhos, e te conheço por nome”. Dt. 9. 24 “Rebeldes fostes contra o Senhor desde o dia em que vos conheci”. Am. 3. 2 “De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; portanto eu vos punirei por todas as vossas iniqüidades”.

Nestas e em outras passagens, “conheci” significa amei ou designei. Assim também a palavra “conhecer” é empregada muitas vezes no Novo Testamento, no mesmo sentido do Velho Testamento; Mt. 7. 23E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade”.

Jo. 10. 14 “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido”. “Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele” 1ª Co. 8. 3 “ Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele”. 2ª Tm. 2. 19 “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade”.

O fato é que a palavra “presciência” nunca é empregada na bíblia em relação a eventos ou ações; em lugar disso, sempre se refere a pessoas. Pessoas que Deus declara que “de antemão conheceu” (pré-conheceu), não as ações dessas pessoas. Vejamos: At. 2. 23 “A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”.Vemos aqui que o apóstolo não estava falando do conhecimento antecipado que Deus tinha do ato da crucificação, mas sim da Pessoa crucificada: “A este (Cristo) que vos foi entregue”, e tal.

Rm. 8. 29-30 “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou”. O verso é claro em dizer que o que foi chamado, justificado e santificado, não foi algo, mas pessoas, que ele conheceu, de antemão. O que se tem em vista não é a submissão da vontade, nem a fé do coração, mas as pessoas mesmas.

Rm. 11. 2 “Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo”. Uma vez mais a clara referência é a pessoas, e somente a pessoas. 1ª Pe. 1. 2 “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.

Quem são “eleitos segundo a presciência de Deus Pai”? 1ª Pe. 1. 1 “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia”. O verso faz referência aos “estrangeiros dispersos”, isto é, os judeus crentes. Portanto, aqui também a referência é a pessoas, e não aos seus atos previstos. Portanto, baseado nestas passagens, não existe base bíblica há para alguém dizer que Deus “pré-conheceu” os atos de certas pessoas, ou seja, o seu “arrependimento e fé”, e que devido a esses atos Ele as elegeu para a salvação. A Bíblia não fala de arrependimento e fé como tendo sido previsto ou pré-conhecido por Deus.