segunda-feira, 15 de maio de 2017

Hebreus 4 apóia a guarda do sábado?

Os sabatistas se valem de textos os quais possam lhes dar uma segurança doutrinária. Principalmente os leigos, quando estes estão doutrinando recém convertidos. Imagine um membro sabatista instruindo alguém quanto a questão do sábado, naturalmente usará de todos os recursos para convencer o seu expectador e entre os vários textos usados destaco a carta aos hebreus capítulo 4.

Hb. 4. 1 Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a promessa de entrar no descanso de Deus, suceda parecer que algum de vós tenha falhado.” Sem sarcasmo, mas com honestidade quando um sabatista lê este verso logo lhe vem a mente o descanso sabático semanal. Outros versos relacionados podem ser citados, Hb. 4. 9-10 “Portanto, resta um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das suas.”

Para os “guardadores do sábado” tais versos estão relacionados com o livro de Gênesis, ou mais  propriamente com a parte a qual relata que Deus cessou a sua obra criadora. No entanto, não encontramos nenhuma menção da palavra “Sábado”, no livro de Gênesis e também nenhum mandamento para a humanidade descansar, Gn. 2. 1-3 Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.”

Segundo o relato bíblico a primeira vez a primeira vez que houve uma ordem para se guardar o sábado se encontra em Êxodo capítulo 16 verso 23 Respondeu-lhes ele: Isto é o que disse o Senhor: Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobrar separai, guardando para a manhã seguinte.”  Os versos 29-30 também confirmam isso, “Considerai que o Senhor vos deu o sábado; por isso, ele, no sexto dia, vos dá pão para dois dias; cada um fique onde está, ninguém saia do seu lugar no sétimo dia. Assim, descansou o povo no sétimo dia.”

Moisés, ao escrever Gênesis 2:1-3 sobre o descanso de Deus no sétimo dia, evitou usar o vocábulo Shabbth, porque segundo o autor inspirado, o Sábado só será imposto no Sinai, onde se tornará o sinal da Aliança Mosaica. O autor de Hebreus nos capítulos 3 e 4 também faz a mesma coisa para diferenciar a realidade (descanso de Deus) que “hoje” possuímos, da sombra (sábado semanal) que cumpriu sua função tipológica em Cristo, Cl. 2. 16-17 Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.”

O “descanso” de Deus registrado em Gênesis 2 existia antes da entrada do pecado e era uma realidade que continuou a existir, o Sábado foi dado para Israel como mandamento escrito no Sinai, após a entrada do pecado. Ao ensinar a Israel sobre a Antiga Aliança, Moisés estava “dando testemunho do que haveria de ser dito no futuro.” A Aliança Mosaica apresentada a Israel ensinou o povo de Deus sobre a vinda do Messias. Revelou-lhes seus pecados e sua necessidade de um Salvador. 

Tudo na Antiga Aliança apontava para Cristo. Tudo na Antiga Aliança foi cumprido Nele, até mesmo o Sábado.   Hb. 10. 1 Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem. Hb. 3. 7-8 Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração como foi na provocação, no dia da tentação no deserto.”

Observem que este descanso NÃO é um determinado dia da semana. Não é o domingo, ou o sábado. É HOJE! A palavra grega katapausis traduzida por “repouso” ou “descanso” aparece 8 vezes no NT. Iremos ver apenas três deles. At. 7. 49 O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso? Hb. 3. 11 “Assim, jurei na minha ira: Não entrarão no meu descanso.” Hb. 4. 1 “Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a promessa de entrar no descanso de Deus, suceda parecer que algum de vós tenha falhado.”

Assim sendo esta palavra não se refere à palavra grega sabatton ou sábado. Dando-nos a entender que o sábado era apenas uma sombra física do descanso espiritual que seria dado pela fé em Jesus.  Em Cristo, o perfeito descanso espiritual que Adão e Eva perderam quando pecaram foi agora restaurado. As obras criativas de Deus foram concluídas em seis dias e no sétimo “dia” (yom) Ele descansou de Sua obra criadora. Deus ainda está nesse descanso atualmente. Deus nunca deixou seu descanso.  (Apesar de nunca ter se cansado) Ao contrário dos outros seis dias, o sétimo “dia” (yom) da criação não teve tarde ou manhã, nem fim.

Os israelitas receberam um símbolo cerimonial desse descanso, mas eles não conseguiram compreender para quem ele apontava. Nós estamos sendo chamados para esse descanso hoje através da fé em Jesus Cristo. Não estamos sendo chamados para uma sombra, mas para uma realidade. Estamos sendo convidados a retornar para o descanso espiritual que foi perdido no Éden. No relato da criação de Gênesis 1 e 2 há um fato curioso. Nos primeiros seis dias da criação fala-se da tarde e da manhã; em outras palavras, cada dia tinha seu começo e seu fim. Mas no sétimo dia, o dia do descanso de Deus, não se menciona absolutamente o sobrevir da tarde. A partir daqui os rabinos argumentavam que enquanto os outros dias se concluíam, o dia do descanso de Deus não tinha fim: era eterno e perdurável, o descanso de Deus não tem entardecer, mas sim perdura para sempre.

Portanto, ainda que na antiguidade os israelitas não tivessem podido entrar nesse repouso, este ainda permanecia, já que era um repouso eterno. Mesmo depois da entrada dos filhos de Israel na Terra Prometida sob a liderança de Josué, eles ainda continuavam fora do verdadeiro descanso de Deus. A Terra Prometida, assim como o sábado, era apenas uma sombra do descanso que Deus queria restaurar as pessoas. Há ainda um descanso para nós entrarmos, mas não é um determinado dia da semana. É o descanso espiritual que foi perdido no Éden e restaurado somente pela fé em Cristo. Hb. 4. 9 Portanto, resta um repouso para o povo de Deus.”

Neste verso a palavra utilizada para repouso não é sabatton, mas sabbatismos. A palavra grega sabbatismos traduzida corretamente por descanso sabático,  não significa “guardar o sábado nem o domingo”. Não estamos sendo convidados a entrar no dia de sábado semanal (sabbaton), mas no descanso eterno de Deus (sabbatismos). Não estamos sendo convidados a descansar durante um dia da semana, mas para descansar eternamente em Cristo e na Sua obra consumada. Outro fato importante está na realidade de que seria desnecessário o autor da carta aos hebreus convidar ou relembrar os seus conterrâneos de que eles deveriam guardar o sábado. Portanto, este não foi um apelo para retornarem as obras do passado mais sim para visualizarem ou entrarem em um novo descanso e este espiritual. 










segunda-feira, 1 de maio de 2017

O mito e sua influência.

Que cristão não aprendeu que antes da criação do mundo houve uma revolta dos anjos, sendo os rebeldes expulsos do céu? Milton escreveu um drama muito poético no seu paraíso perdido, alias algo que deu os retoques do drama da queda para muitas denominações religiosas. No judaísmo tardio circulavam narrações a esse respeito. Foram introduzidas por um livro de Noé, perdido, do século II a.C. A lenda – diretamente emprestada dos cananeus – concretizara-se num apócrifo, o livro de Henoc, descoberto na Etiópia, em 1773.

Consta de 108 capítulos, redigidos originalmente e aramaico, e talvez em parte em hebraico, mas na época do descobrimento só se encontraram parte em etíope. Encontraram-se nada menos que 26 cópias porque a igreja etíope antiga considerava canônico esse livro. É reconhecido como primeiro livro de Henoc – 1 Hn. Ou então como Henoc etíope. Foi compilado entre o século II e primeiras décadas do século I AC.

Os 36 primeiros capítulos do apócrifo livro de Henoc 200 “guardiães” ou anjos sob o comando de Semyasa, decidiram ter filhos com as mulheres humanas. Cada guardião comportadamente tomou uma só esposa. Essas duzentas mulheres 3000 filhos os quais se tornaram gigantes. Segundo a narrativa do livro de Henoc foi quando os gigantes começaram a destruir devorar os homens, que aterrados clamaram a Deus.

Foi então que Deus enviou o Anjo Uriel para prevenir Noé do dilúvio com que planejava matar os gigantes; e para reprimir Semyasa, Azazel e demais anjos guardiãs, envia Miguel. No entanto, no livro de Henoc é dito que os demônios não são esses guardiões que abandonaram os seus postos naturais. Demônios segundo o livro de Henoc, são os espíritos dos gigantes mortos no dilúvio.  

Os diabos (anjos guardiãs rebeldes) que se organizaram militarmente com um chefe para cada dezena, foram vencidos pelas milícias de Miguel e acorrentados em grutas subterrâneas durante 70 gerações, até o dia do grande julgamento quando serão lançados, juntos com os homens maus, no lago de fogo (setenta gerações) é um número simbólico, ou um número incalculável de tempo. No entanto, os demônios (espíritos dos gigantes que foram mortos no dilúvio percorrem continuadamente toda a terra, fazendo mal aos homens, também esses serão condenados no dia do juízo.

Mais adiante nos capítulos 37-71 o livro de Henoc vai apresentar repetidamente Satã como chefe dos anjos rebeldes. Esta última parte do livro de Henoc é já bem próxima da época de Cristo. Outro livro apócrifo que também fala dos gigantes é o livro dos jubileus (jb) que também começou a ser escrito no II século aC. O livro de jubileus repete a ideia de que os anjos ou guardiãs vieram ao mundo ensinar aos homens, mas logo se apaixonaram pelas mulheres, quase todas as fontes desta lenda falam em relações sexuais com mulheres, não de homens com anjos femininos.

A origem da tradição da queda dos anjos derrotados por Miguel fica assim muito clara. Igualmente fica clara a origem da crença em demônios que atormentam os homens. Na interpretação da bíblia, os rabinos fantasiaram as relações sexuais dos “filhos de Deus” com os homens. No Talmud se ensina: todos estes anos (Adão) gerou espíritos, demônios e fantasmas noturnos; pois se diz: Gn. 5.3 “quando Adão tinha 130 anos gerou a sua imagem e semelhança” o que quer dizer antes tinha gerado seres que não eram à sua imagem e semelhança. E eles continuam dizendo em (Rabba 24. 6) 

Durante todo esse tempo, da mesma maneira que Adão fecundava demônios femininos, Eva ficava grávida de demônios masculinos, dando-lhes abundante descendência. Nota-se claramente um erro de interpretação descomunal por parte dos rabinos, ou na verdade o que falou mais alto em sua teologia foi a crença no mito e nas lendas, eis o texto base para sua interpretação equivocada Gn. 6. 1-2 Como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes nasceram filhas, vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram.”

Aqui não cabe outra interpretação a não ser aquela que diz que os filhos de Deus e os filhos dos homens são na realidade seres humanos, o que o contexto anterior nos mostra são as disposições e inclinações do “espírito”, ou seja, a definição da espiritualidade de cada um, mas aceitar as palavras filhos de Deus como sendo seres espirituais só mesmo influenciados por mitos e lendas.

Talvez a parte do verso que mais contribuiu para o surgimento dessa lenda foi este Gn. 6. 4 “Ora, naquele tempo havia gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos; estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade.” Assim sendo a lenda judaica e cristã muito difundida identificará estes “filhos de Deus” com os diabos ou anjos que pecaram. Os gigantes filhos dos anjos também são identificados como os demônios.

Mais tarde se lerá no livro apócrifo chamado Eclesiástico 16. 8 “Os gigantes antigos não imploraram perdão de seus pecados, e foram destruídos, apesar de confiados na própria força.” Aconteceu como disse anteriormente, os judeus foram influenciados pela cultura circunvizinha e não interpretaram na integra a intenção real da bíblia, Jó 1. 6 Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles.” Seria este ser um satanás espiritual?

A crença tradicional diz que sim, mas repare o que outro texto bíblico nos mostra Dt. 32. 8 “Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando separava os filhos dos homens uns dos outros, fixou os limites dos povos, segundo o número dos filhos de Israel.” Algumas traduções dizem, (segundo o número dos filhos de Deus.) O livro dos jubileus corrige 1 Hn. Mostrando que o diluvio aconteceu para castigar os anjos e gigante, não os homens,  ora é a mesma coisa, se o diabo me leva a pecar, logo que culpa tenho eu.

Gn. 6. 5Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração.” Sem a influencia dos mitos e lendas vemos a bíblia dizer claramente que a maldade procede diretamente dos homens, não de anjos caídos. Assim, em ocasião de acontecimentos maldosos e quando a bíblia fala de demônios, deuses, ela está simbolizando e penalizando  apenas o homem pecador.

Não se pode descartar a realidade de que os escritores bíblicos, por serem seres humanos, sofreram influências enormes de mitos e lendas dos povos que os cercavam, principalmente pelo fato de terem sofridos influencias de diversas culturas. Infelizmente no florescente cristianismo ocorreu o mesmo, ao invés de se desvencilhar da superstição os primeiros cristão se apegaram a ela, isso pelo fato de estarem presentes na cultura greco romana. Mas o que isso tem a ver com a fé em Deus? Nada, não precisamos de dualismo, o mito não atrapalha a realidade, devemos depurá-lo, somente isso.