domingo, 15 de julho de 2018

Jesus viveu como Deus antes de seu nascimento? O que diz a bíblia?

Várias passagens bíblicas parecem implicar que Jesus Cristo existiu de alguma forma no céu antes de aparecer aqui na terra. A maioria destas passagens encontram-se no Evangelho de João.. Por exemplo: Jo. 6. 38 “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou.” Jo. 6. 62 “Que será, pois, se virdes o Filho do Homem subir para o lugar onde primeiro estava?” Jo. 8. 58 “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU.” Jo. 17. 5 “E, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo.”  

É argumentado que estas afirmações são claras e que devemos aceitar o ensino bíblico que Jesus viveu anteriormente no céu. É certo que as passagens são claras, mas isso não significa necessariamente que devemos considerá-las como literais. Existem outras passagens bíblicas que são tão claras como estas e, no entanto não as consideramos literalmente, ainda que as pessoas que as ouviram estas palavras não sabiam inicialmente como considerá-las. Muitas destas passagens também se encontram no Evangelho de João. Por exemplo: 

Jo. 2. 19-20 “Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás?” Jo. 3. 3-4 “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?”   

Jo. 4. 13-15 “Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna. Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la.” Jo. 4. 34 “Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra.” Jo. 6. 50 “Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça.” Lc. 9.23 “Se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora de ti”. E Gl. 2.19 “Estou crucificado com Cristo… 

Da mesma maneira como não tomamos as anteriores afirmações literalmente, tampouco devemos tomar em sentido literal as afirmações de que Jesus viveu anteriormente no céu antes de nascer na terra.. Em primeiro lugar, a Bíblia afirma que Jesus é um homem. Is. 53. 3 “Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum”. Jo. 1. 30 “Este é aquele do qual eu disse: Após mim vem um homem que é antes de mim, porque foi primeiro do que eu”.  

Jo. 8. 40 “Mas agora procurais matar-me, a mim, homem que vos tem dito a verdade que de Deus tem ouvido; Abraão não fez isto.” At. 2. 22 “Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis”. At. 17. 31 "Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos”. Rm. 5. 15 “Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos”.1ª Co. 15. 21 “Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem”.   

Quando nascemos trazemos as características de nossos pais, o mesmo podemos dizer de Jesus, assim por sermos humanos temos os nossos antecedentes com Jesus foi a mesma coisa, por ser homem ele teve os seus antecedentes, Mt. 1. 1 “Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão”. Se Jesus não nasceu de forma normal e real nessa altura, em que sentido pode ser filho de Abraão e Davi, ou mesmo de Maria? Outra característica humana de Jesus se encontra em Lc. 2. 52 “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens”.

Como pode ter crescido em sabedoria se antes de nascer já era um ser celestial dotado de sabedoria? E se Jesus abandonou toda a sua sabedoria e conhecimento anterior para nascer na terra como homem, como pode continuar a ser a mesma pessoa? Já que a essência de qualquer pessoa é a totalidade das suas experiências e sabedoria adquirida ao longo da sua vida. Também o autor de Hebreus diz que Jesus foi aperfeiçoado e aprendeu a obediência através das suas experiências aqui na terra Hb. 2. 10 “Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles”.  

Hb. 5. 8 “Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu". Mas como pode ter sido aperfeiçoado aqui se antes de nascer já era um ser celestial perfeito e poderoso? Existia entre os judeus a ideia de que um bom mestre “vinha de Deus”, mas não no sentido de ter vivido nos céus com Deus antes de nascer Jo. 3. 2 “Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele". 

No entanto, não há provas de que Nicodemos cresse que tinha existido literalmente nos céus antes de nascer. Se a Bíblia aparentemente insinua que Jesus veio do céu, diz o mesmo de outros homens. Jo. 1. 6 “Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João”. A frase afirma literalmente que João veio da presença de Deus, assim como Jesus, mas ninguém mantém que João tivesse preexistido no céu. Outro caso é o do profeta Jeremias, Jr. 1. 5 “Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta”. 

Estas palavras tomadas literalmente implicam que Jeremias existia antes de nascer, mas ninguém as toma nesse sentido. Significam que antes do profeta nascer, já sabia como seria e já tinha decidido que quando nascesse o nomearia para profeta às nações. Antes de nascer, Jeremias existia somente na mente e no plano de Deus, que conhece todas as coisas antes que existam. O Novo Testamento diz que Deus escolheu alguns antes que nascessem, falando como se já existissem. Ef. 1. 4“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. Paulo diz que Deus “nos escolheu nele [Cristo] antes da fundação do mundo,” o que implica que se Cristo existia naquela altura, também existiam as demais pessoas que iam crer nele. Na realidade, Paulo está falando da predestinação, o fato de que Deus conhece de antemão quem vai nascer e que papel terá no seu plano e propósito. 

Paulo ainda nos fala da “graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” 2ª Tm. 1. 9 “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos”. Como se todos os eleitos já existissem nesse tempo. Da mesma forma o apóstolo Pedro explica as alusões à suposta “preexistência” de Jesus Cristo ao dizer que foi “conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós” 1ª Pe. 1. 20 “O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós”. 

Uma das maneiras encontradas para tentar defender a pré-existência de Jesus é dizer que ele possuía uma glória antes de se encarnar e o texto utilizado é Jo. 17. 5 “E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse". É obvio que Jesus não pode ter desfrutado dessa glória ainda que realmente existisse nessa altura, visto que as Escrituras enfatizam que só se tornou merecedor dessa glória ao completar na cruz a sua vitória sobre o pecado, os versos a seguir nos confirmam isso. Hb. 2.9 “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”. 

At. 3. 13 “O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu filho Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, tendo ele determinado que fosse solto”. Isso só aconteceu após a ressurreição, Pedro também diz que Deus ressuscitou a Jesus e lhe deu glória. 1ª  Pe. 1. 21” E por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus”. O próprio Jesus, falando com dois discípulos enfatiza que a sua glorificação era posterior aos seus sofrimentos, Lc. 24. 26 “Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?”  

Jo. 7. 39 “E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado.” Jo. 12. 16 “Os seus discípulos, porém, não entenderam isto no princípio; mas, quando Jesus foi glorificado, então se lembraram de que isto estava escrito dele, e que isto lhe fizeram”. As passagens anteriores demonstram que Jesus não pode ter literalmente usufruído glória antes do seu nascimento, porque somente podia recebê-la depois de ter terminado o seu ministério com êxito.  

Tanto a existência de Jesus antes que o mundo existisse, como a sua glorificação, somente podem ter existido de forma antecipada na mente e propósito de Deus. Este propósito foi aos poucos revelado aos profetas. As passagens que são citadas para apoiar a ideia da suposta “preexistência” de Jesus Cristo não indicam que realmente vivesse no céu antes de nascer. Simplesmente enfatizam em linguagem figurada o fato que a aparição do Senhor Jesus na terra não foi uma coisa do acaso, mas um acontecimento que foi determinado e autorizado por Deus desde antes da criação do mundo.  

domingo, 1 de julho de 2018

Estamos ligados a videira?

Jo. 15. 1-6 “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.”  

Nos dias bíblicos as pessoas estavam familiarizadas com a questão da agricultura, portanto, eles não tiveram dificuldades em entender esta parábola. O verso dois, diz que simbolizado por um lavrador o dono da terra, Deus, limpa todo aquele que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. O interessante também é que todo aquele que se diz cristão é comparado com uma vara, vara esta que sustenta os frutos, contudo tal vara não pode por si só dá fruto, é preciso estar ligada a videira, que segundo o relato bíblico é Jesus Cristo.

Vemos então que Deus, como lavrador, amavelmente limpa, lava, purga e purifica os nascidos de novo de tudo aquilo que não contribui para sua maturidade espiritual Ou seja, “dar frutos”. Isto pode ocorrer de várias formas: disciplina, ensinamentos, provações, etc. Mas, o que acontecerá com as varas infrutíferas? Portanto, iremos atentar mais para essa questão. O que Deus irá fazer com as varas infrutíferas, e o que elas representam? Há ao menos dois pontos de vista que tentam interpretar essas passagens.

A interpretação popular ou mais aceita no mundo cristão vem daqueles que acreditam no livre arbítrio, para eles as “varas infrutíferas” são cristãos autênticos que, por causa de sua falta de frutos, perdem a salvação. Para eles é de suma importância o cristão produzir frutos, em outras palavras nós temos por nós mesmos, produzir frutos.

A outra opção e a que mais está em conformidade com a bíblia é aquela que diz que as “varas infrutíferas” são supostos “discípulos” que experimentam somente uma conexão externa e superficial com Jesus. Embora eles “creiam” e “sigam” a Jesus em algum sentido, sua ligação “não se encaixa com uma união interna, espiritual pela fé pessoal e regeneração” Portanto “as varas sem frutos são varas sem vida contrariando aquilo que Jesus diz, todos os que estão em mim, esses dão muitos frutos.

Vejamos como a bíblia apoia esta última interpretação como sendo a mais lógica e acima de tudo mais bíblica. Afirmar que de qualquer maneira precisam produzir frutos todos os que se dizem ou serão lançados fora é algo que não tem apoio bíblico, Jo. 10. 28-29 “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”. Aqui é dito que aqueles a quem ele dá a vida eterna nunca perecerão.

Mais decisivo ainda é a palavra usada em Jo. 15. 6 “Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem”. Jesus diz que as varas infrutíferas serão “lançadas fora”. Jo. 6. 37 “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”

Assim sendo dizer que todos os que se dizem ser cristão precisam a qualquer custo produzir frutos é contradizer as palavras de Jesus. O que Jesus disse nesses versos é que há pessoas que produzem frutos, há aqueles que irão produzir é outros que jamais produzirão, e esses serão lançados fora, As varas infrutíferas são “lançados fora” (v.2). A vara infrutífera é “lançada no fogo” e “queimará”  Mt. 3. 12 “Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará”. Ap. 20. 15 “E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo”.

A realidade é que as varas infrutíferas são pessoas não-regenerados e é apoiada pelo que o Evangelho de João diz sobre “crentes” não-salvos. Em outras palavras, João frequentemente retrata pessoas como “crendo” em Jesus, que claramente não são nascidas de novo. Há crença e crenças. Jo. 2. 23-24 “E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia”.        

Mesmo entre aqueles que seguiam Jesus que se diziam ser seus discípulos, muitos não criam Jo. 6. 64 “Mas há alguns de vós que não creem. Porque bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar”. Portanto, deve haver uma distinção entre discípulos. Existe no Evangelho de João, portanto, uma “fé” ou “crença” superficial, transitória, que pode ser baseada unicamente em milagres vistos, mas não é fundamentada no fruto de um entendimento salvífico e a confiança em que Jesus realmente é. Pessoas como essas estão, de alguma forma, conectadas ou unidas a Jesus, o bastante para que elas possam ser chamadas de “discípulos”, ainda assim não são discípulos. Estas são as varas infrutíferas de João 15.

Permanecer em mim, o que significa? O permanecer em Cristo significa não só crer em Cristo, mas fazer o que ele ensinou. Assim sendo, não existem verdadeiros cristãos sem algum tipo de fruto. Frutificar é a marca infalível do verdadeiro Cristianismo; a alternativa é a madeira morta, e as exigências da metáfora da videira faz necessário que cada madeira esteja conectada com a videira. Não existe vida neles; eles nunca deram frutos, ou então eles seriam limpos, não lançados fora. Porque Jesus é a videira verdadeira, é impossível pensar que algum ramo que não dá fruto possa ser considerado parte dele.

A conclusão que se chega é que esta passagem não ensina que um cristão verdadeiro, nascido de novo, possa apostatar da fé e perder sua salvação. Ela ensina que é impossível dar frutos fora da união doadora de vida, salvífica, com Jesus, e é impossível não frutificar quando esta conexão com Jesus realmente existe. Também ensina que alguns (muitos) que professam estar “unidos” com Jesus, que afirmam “crer” nele, e que mesmo o “seguem” como “discípulos” serão revelados pelo tipo de fruto, como falsos, e, portanto serão lançados fora.