sábado, 2 de abril de 2022

Um pouco sobre Isaías 9. 6

Is. 9.6 “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Este verso é muito utilizado pelos trinitarianos, eles afirmam que os títulos, deus forte, pai da eternidade confirmam que o Messias foi profetizado como sendo o próprio Deus eterno.

No entanto, devemos reconhecer que nenhum dos escritores do Novo Testamento cita a linguagem de Isaías como evidência da divindade de Cristo. Se os apóstolos, que continuamente citam o Antigo Testamento para apoiar suas afirmações, vissem essa passagem como muitos cristãos modernos veem, certamente a teriam empregado em seus próprios argumentos. Contudo, ver essa passagem como prova de que o homem Jesus foi anunciado como sendo o próprio Deus, teria sido uma interpretação tão estranha para seus ouvidos quanto é para os judeus de hoje.

Jesus não é chamado de “Pai da eternidade” em nenhum outro lugar nos escritos bíblicos, curiosamente, negar que Jesus é o Pai é na verdade um princípio do Trinitarianismo. Os trinitários não acreditam que Jesus é o Pai, mas acreditam que ele é uma pessoa separada que compartilha a mesma essência com o Pai. Se Jesus deve realmente ser identificado como o Pai, então o Trinitarianismo está equivocado, sim, se Jesus é o pai, logo o modalismo deve ser admitido pelos trinitarianos.

Talvez uma tradução mais apropriada da palavra “eterno” traria Jesus como o “Pai da era” vindoura, uma referência à era messiânica de Jesus. Na Bíblia, o chefe ou o fundador de uma coisa é muitas vezes chamado de “pai”. Gn. 4. 20-21 “E Ada teve a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e têm gado.” E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão.”

Obviamente, esses homens não são os progenitores literais de todos que participam de tais atividades, mas eles são mencionados dessa maneira porque são fundadores dessas coisas. Da mesma forma, o Messias será o fundador e governante do mundo vindouro. Devemos também notar que no Novo Testamento, Paulo até se retrata como o verdadeiro “pai” de Timóteo. 1ª Tm 1. 2 “A Timóteo, meu verdadeiro filho na fé: graça, misericórdia e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e da de Cristo Jesus, nosso Senhor.”

Certamente porque foi ele quem promoveu a obra da fé em sua vida, não porque ele era literalmente seu pai. Paulo também chamaria Abraão de nosso Pai na fé, e nós, seus filhos Gl. 3.29 “E, se sois de Cristo, então, sois descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa.” A tradução “Deus forte ou Poderoso”, embora seja uma tradução literal, também parece inadequada para os leitores modernos. A palavra “deus” (Elohim) teve uma aplicação muito mais ampla do que nos círculos cristãos de hoje, que usam “Deus” como uma espécie de nome próprio.

No entanto, os leitores de Isaías teriam entendido que um “deus” era qualquer um que governasse com o poder de Deus. O próprio Jesus, citando o Salmo 82 chama os juízes de Israel de “deuses” Ele repete isso em Jo. 10. 34-35 “Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses? Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada).

O que Jesus disse foi: ora, os juízes foram chamados de deuses e todos entenderam, qual é a dificuldade agora? Uma apresentação moderna mais apropriada do título “Deus Poderoso” (el gibbor) de Isaías 9. 6 pode ser “Herói Poderoso”. Para falar de Jesus em Isaías 9. 6, os tradutores trinitários exibem suas traduções quando traduzem a mesma palavra (Elohim) como “Deus”. Mas, a traduzem como “governante” ou “heróis” como Ezequiel 32. 27 “E não se acharão com os valentes que caíram dos incircuncisos, os quais desceram ao sepulcro com as suas armas de guerra e puseram as suas espadas debaixo da sua cabeça, e a sua iniquidade está sobre os seus ossos, porque eram o terror dos heróis na terra dos viventes.”

Em outros lugares, a Bíblia usa “Deus” para descrever os homens, Moisés por exemplo, Ex. 7. 1 “Então, disse o Senhor a Moisés: Eis que te tenho posto por Deus sobre Faraó; e Arão, teu irmão, será o teu profeta.” O profeta Samuel, 1ª Sm. 28.13-14 “E o rei lhe disse: Não temas; porém que é o que vês? Então, a mulher disse a Saul: Vejo deuses que sobem da terra. E lhe disse: Como é a sua figura? E disse ela: Vem subindo um homem ancião e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra e se prostrou.”

O Rei Salomão, Sl. 45. 6 -7 O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de equidade. Tu amas a justiça e aborreces a impiedade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros.” E outros autoridades humanas sobre Israel. Nós até descobrimos que o próprio Jesus nem sequer usou o termo “Deus” para se descrever no Novo Testamento, mas quando acusado de se fazer Deus, reivindicou apenas o título de “filho de Deus”.

Mesmo que Jesus tivesse se intitulando “deus”, ele ainda estaria dentro do costume de sua época, os israelitas seguiam a prática do próprio Deus que “chamou [homens] deuses aos quais foram destinados a sua palavra, conforme vimos em João 10. No entanto, encontramos Jesus sempre tomando seu devido lugar abaixo do Pai, a quem ele chama de “o único Deus verdadeiro” Jo. 17. 3 “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” Ele nunca tentou usurpar qualquer denominação que não lhe tenha sido concedido de cima.

Finalmente, Isaías 9. 6 não indica que essa figura do Messias seja realmente o próprio Deus o qual a bíblia chama de pai, ou de alguma forma igual a ele. Jesus é retratado como o governante de Deus, designado por Ele para governar com poder e autoridade. Nenhum exegeta trinitário honesto tentará afirmar que os antigos israelitas já ouviram falar da Trindade, ou que o Messias seria realmente Deus.

As profecias de Isaías, que vieram diretamente do próprio Deus, simplesmente afirmam que “um menino nos nasceu e um filho se nos deu”. À luz do uso histórico e bíblico da linguagem de Isaías 9. 6, encontramos duas traduções melhores. Uma é a Septuaginta, conforme encontrada no Codex Alexandrinus; onde é dito: “Maravilhoso, Conselheiro, Poderoso, Potentado, Príncipe da Paz, Pai do mundo vindouro.” E a outra é a Tradução do Tanach do texto massorético hebraico, que diz: “Maravilhoso Conselheiro do Deus Forte, do Pai Eterno, Príncipe da Paz.” Isso descreve perfeitamente o caráter e o ofício de nosso Senhor Jesus Cristo, o governante do Reino vindouro de Deus.