Vimos em outro assunto: http://evandro-blogdoevandro.blogspot.com.br/o-verbo-de-joao-1-nao-e-jesus-cristo_11.html. Deus sozinho trazendo todas as coisas
a existência pela autoridade da sua palavra, Is. 44.24 (Assim diz o Senhor, que te
redime, o mesmo que te formou desde o ventre materno: Eu sou o Senhor, que faço todas as coisas, que
sozinho estendi os céus e sozinho espraiei a terra.) Sl.
33.9 (Pois ele falou, e tudo se fez;
ele ordenou, e tudo passou a existir.)
Em Isaías, a "palavra" de Deus é mencionada como um
agente independente, mas totalmente a serviço de Deus, Is. 55.11 (Assim será a palavra que sai da minha boca:
ela não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e terá sucesso naquilo
para que a enviei.) Isso lembra a personificação da sabedoria em
Provérbios, onde "ela" é retratada como ajudante de Deus na criação:
Pv. 8.22, 23 e 30 (O Senhor me trouxe
[sabedoria] adiante como a primeira de suas obras, antes de suas obras de
idade; fui nomeado desde a
eternidade, desde o início, antes que o mundo começou. Então eu era o seu artesão ao seu
lado. Eu estava cheio de alegria
dia após dia, regozijando-se sempre na sua presença.)
Percebemos na bíblia que "Palavra", "Espírito" e
"Sabedoria" são personificações, e estão intimamente ligadas à forma
como Deus tem relacionado com o mundo como seu Criador, e que o uso de João do logos é consistente com este uso bíblico.
Podemos ver como João baseia-se em todos os ensinamentos do Antigo Testamento.
A sabedoria é personificada em Provérbios 8, dizendo que ela estava no começo, e estava com Deus, e que ela era Seu instrumento na criação. A Palavra de Deus criou os céus (Sl 33:6), e assim fez o Espírito, conforme descrito em Jó. 26.13 e Gênesis 1.2. A linguagem bíblica é claramente uma figura de linguagem uma metáfora, personificação, e não uma realidade última.
João está dizendo exatamente a mesma coisa do logos. Nenhum leitor judeu educado nos
escritos dos profetas teria
deduzido que João estivesse se referindo que o início do seu evangelho fosse uma
pessoa que já existia com Deus desde os tempos eternos. Eles entenderiam que as
palavras de João foi uma linguagem apropriada para descrever uma continuação
das imagens pelo qual a Palavra ou Sabedoria ou as manifestações do Espírito de
Deus que são inseparáveis dele são descritas como as intenções de
Deus em vigor.
Barclay, um acadêmico e respeitado grego, também reconhece que o logos está intimamente ligado ao poder e
sabedoria. "Primeiro, a Palavra de Deus não é só discurso é poder. Segundo, é impossível separar as
idéias da Palavra e Sabedoria; E foi a Sabedoria de Deus, que criou e permeou o
mundo, que Deus fez. Há ainda mais evidências para ligar o entendimento semita de logos com "poder". O Targum
aramaico são paráfrases do texto hebraico, e eles são bem conhecidos para
descrever a sabedoria e a ação de Deus como Sua "Palavra". O aramaico
era a língua falada de muitos judeus na época de Cristo, incluindo o próprio
Cristo, e assim as pessoas na época de Cristo eram familiarizadas com elas.
Lembrando que um Targum geralmente é uma paráfrase do que o texto
hebraico diz, note como os seguintes exemplos de atributos de ação para a
"palavra" do Senhor; Targum é
qualquer uma das traduções em aramaico, mais ou menos literal, de partes do
Antigo Testamento. Gn. 39.2 (O Senhor
estava com José.) (E a palavra do Senhor foi ajudante de José). Ex. 19.17 (E
Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus). No targum: (E Moisés levou o povo "para atender a palavra do Senhor.) Jó.
42.9, no hebraico: E a palavra
do Senhor aceitou a face do trabalho de Jó.) No Targum (E o Senhor aceitou a face de Jó). Salmo 2.4 (E
a palavra do Senhor se rirá por causa do desprezo.) (O Senhor se rirá deles).
O contraste entre o texto hebraico e as paráfrases aramaicas nos
versículos acima mostram que os judeus não tinham nenhum problema em
personificar a "Palavra" de Deus de tal forma que ela a “palavra”
poderia agir em nome de Deus. As
paráfrases também provam que os judeus estavam familiarizados com esta idéia
referindo-se a Sua sabedoria e ação. Para os
judeus Deus estava sozinho, por isso eram estritamente monoteístas, e não
acreditavam de forma alguma em um “Deus Trino”.
"Eles estavam familiarizados com os idiomas de sua própria língua,
e compreendiam que a sabedoria e o poder de Deus estavam sendo personificados e não representavam de forma alguma
uma pessoa real. Ao lermos o Evangelho de João com uma verdadeira compreensão do conceito
de logos, o maravilhoso amor do nosso Pai
celeste é mostrado claramente. Desde
o começo Deus tinha um propósito, um plano que deveria se materializar no mundo,
de uma forma que revela o Seu amor e sabedoria. Deve estar claro, então, que o uso de logos no prólogo de João reflete a riqueza
do uso bíblico do termo "Palavra" quando é usado em relação a Deus e
Seu propósito criativo e suas atividades.
O logos no grego também significa “palavra”, “verbo”, mas foi a partir
de Heráclito que o logos teve outro significado, então no 3º século AC. Os
estóicos passaram a afirmar que o universo era corpóreo e consequentemente
governado por um logos divino, noção esta que os estóicos tomaram de Heráclito e
a desenvolveram.
Percebe-se claramente que esta idéia do logos divino oriunda dos
estóicos influenciou grandemente os líderes cristãos do primeiro século; ao
passo que para os judeus a “palavra” descrita em vários versos na bíblia
representa a auto-expressão de Deus, Sua sabedoria, plano e propósitos, e que
pode incluir seu poder e suas ações.
Quando passamos a compreender a influência que a filosofia teve sobre os
primeiros cristãos e como isso afetou a compreensão do correto uso de “palavra,
ou verbo” aí sim estaremos em condições de entendermos o pleno significado da
frase, "No princípio" descrito em João 1.1.
O cristianismo tradicional e suas variantes ensinam aos seus seguidores
que o princípio relatado no evangelho de João 1.1 é o mesmo princípio registrado
em gênesis 1.1-2 isso é suposto pelo fato de acreditarem que a palavra de João
1 é Jesus Cristo, portanto ele estaria também no princípio em gênesis, mas se
entendermos que a palavra de João 1 é o plano de Deus sendo trazido a
existência compreenderemos que o princípio de João nada tem a ver com o
princípio de gênesis.
O princípio relatado em João 1. 1 refere-se ao começo ou a
materialização do plano de salvação de Deus, manifestado na pessoa de Jesus
Cristo, dando a entender que a nova criação da qual fala a bíblia estava
começando a se materializar.