Quando
certa pessoa de bem, conquista honestamente alguma coisa, somos
tendentes a exclamar: ele (a) merece, lutou para isso. O problema é
que essa mentalidade do mérito invadiu o mundo religioso cristão,
por muitas das vezes ouvimos as pessoas dizerem: fulano de tal
morreu, mas ele vai para o céu, afinal era uma boa pessoa. O fato de
ser “boa pessoa” aos olhos de outrem lhe proporciona um mérito
para sua salvação espiritual, no entanto, essa visão é apenas
algo confortador, movido por um sentimentalismo inspirador.
Contudo,
existe no meio cristão uma tendência muito grande Para perverter a
verdade da salvação espiritual realizada única e exclusivamente
por Deus, o cristianismo tem se esforçado em difundir a salvação
meritória. Por exemplo: o meio religioso cristão acredito eu, que
quase sem exceções, acreditam que Deus é onisciente, ou seja, de
que todos os acontecimentos quer seja passado, presente e futuro, são
definidos por Deus segundo a sua vontade.
Mas,
quanto a questão da salvação o meio cristão tem outra
interpretação, e essa interpretação segundo eles é que a eleição
se baseia na presciência de Deus, e esta “presciência” é
interpretada no sentido de que Deus previu que alguns seriam mais
dóceis, ou melhores do que outros, que estes responderiam mais
prontamente aos esforços do Espírito e, visto que Deus sabia que
eles creriam, por conseguinte, predestinou-os para a salvação. Mas
tal declaração é radicalmente errônea.
Por
que é errado acreditar assim? Se acredito que existem pessoas
espiritualmente melhores do que outras, logo eu tenho que renunciar a
vários textos bíblicos que dizem que todos somos iguais, Jr.
13. 23
“Porventura
pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então
podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal”. Rm.
3. 10
“Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer”. Rm.
3. 23
“Porque
todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”.
Assim
sendo, se acredito que há algo de bom em alguns homens, a dependência de Deus quanto a salvação fica nula, pois faz com
que a sua escolha em relação a salvação se apoie naquilo que Ele
descobriu na criatura. Assim a salvação espiritual passa a ser um
mérito humano, sim, se digo que Deus previu que certos pecadores
creriam em Cristo e, por isso os predestinou para a salvação, é o
inverso da verdade. As Escrituras afirmam que Deus, em Seu
conhecimento escolheu alguns para serem recipientes de Seus
distinguidos favores.
At.
13. 48
“
E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do
Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna.
E,
portanto, determinou conferir-lhes o dom da fé. A falsa teologia faz
do conhecimento prévio que Deus tem da nossa fé a causa da eleição
para a salvação, ao passo que a eleição de Deus é a causa, e a
nossa fé em Cristo, o efeito.
Quando
se faz a pergunta: o que significa a palavra “presciência”?
“Conhecer de antemão”, parece ser a resposta mais correta. Mas
não devemos tirar conclusões precipitadas, nem devemos apelar para
o dicionário, o que é preciso é descobrir como a palavra é
empregada nas bíblia. A palavra “presciência”
(pré-conhecimento) não se acha no Velho Testamento. Mas “conhecer”
(ou “saber”) ocorre ali muitas vezes. Quando esse termo é
empregado com referência a Deus, com frequência significa
considerar com favor, denotando não significando mero conhecimento,
mas sim afeição pelo objeto em vista, Ex.
33. 17 “Então
disse o Senhor a Moisés: Farei também isto, que tens dito;
porquanto achaste graça aos meus olhos, e te conheço por nome”.
Dt.
9. 24 “Rebeldes
fostes contra o Senhor desde o dia em que vos conheci”.
Am.
3. 2 “De
todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; portanto
eu vos punirei por todas as vossas iniquidades”.
Nestas
e em outras passagens, “conheci” significa amei ou designei.
Assim também a palavra “conhecer” é empregada muitas vezes no
Novo Testamento, no mesmo sentido do Velho Testamento; Mt.
7. 23
“E
então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim,
vós que praticais a iniquidade”.
Jo.
10. 14
“Eu
sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou
conhecido”.
“Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele” 1ª
Co. 8. 3
“
Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele”.
2ª
Tm. 2. 19 “Todavia
o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os
que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da
iniquidade”.
O
fato é que a palavra “presciência” nunca é empregada na bíblia
em relação a eventos ou ações; em lugar disso, sempre se refere a
pessoas. Pessoas que Deus declara que “de antemão conheceu”
(pré-conheceu), não as ações dessas pessoas. Vejamos: At. 2.
23 “A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e
presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e matastes
pelas mãos de injustos”. Vemos aqui que o apóstolo não estava
falando do conhecimento antecipado que Deus tinha do ato da
crucificação, mas sim da Pessoa crucificada: “A este (Cristo) que
vos foi entregue”, e tal.
Rm.
8. 29-30 “Porque
os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre
muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos
que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes
também glorificou”. O
verso é claro em dizer que o que foi chamado, justificado e
santificado, não foi algo, mas pessoas,
que ele conheceu, de antemão. O que se tem em vista não é a
submissão da vontade, nem a fé do coração, mas as pessoas mesmas.
Rm.
11. 2 “Deus
não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a
Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo”.
Uma
vez mais a clara referência é a pessoas, e somente a pessoas. 1ª
Pe. 1. 2
“Eleitos
segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito,
para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e
paz vos sejam multiplicadas.
Quem
são “eleitos segundo a presciência de Deus Pai”? 1ª
Pe. 1. 1
“Pedro,
apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto,
Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia”. O
verso faz referência aos “estrangeiros dispersos”, isto é, os
judeus crentes. Portanto, aqui também a referência é a pessoas, e
não aos seus atos previstos. Portanto, baseado nestas passagens, não
existe base bíblica há para alguém dizer que Deus “pré-conheceu”
os atos de certas pessoas, ou seja, o seu “arrependimento e fé”,
e que devido a esses atos Ele as elegeu para a salvação. A Bíblia
não fala de arrependimento e fé como tendo sido previsto ou
pré-conhecido por Deus.