Dentro
do cenário religioso tradicionalmente é ensinado que os nossos deveres morais
vieram de ordens divinas, (verdade esta a qual também compartilho). O problema
está em afirmar que tais valores são oriundos dos dez mandamentos. Sendo assim,
as denominações cristãs enfatizam a necessidade de um dia separado para culto,
(pensamento que também compartilho). O argumento da maioria delas é que o
domingo tomou o lugar do sábado judaico no novo testamento, portanto os líderes
denominacionais enfatizam a guarda do domingo como sendo um cumprimento do dia
do Senhor.
Ao passo
que as denominações sabatistas ensinam a obrigatoriedade da guarda do sábado,
tendo como resultado da sua transgressão a perda da vida eterna. De uma forma
ou de outra, tanto sabatistas como dominguistas atribuem a guarda do dia do
“Senhor” como sendo um meio de adquirir a salvação.
Portanto,
visto que os dez mandamentos são ordens divinas e que trás no seu conteúdo os
deveres e os valores morais para reger a humanidade, concluiu-se então que a
guarda do sábado para os sabatistas ou do domingo para outras denominações
(dominguistas) é um dever moral o qual os crentes estão obrigados a cumprir.
Entretanto, na minha concepção não acredito que os nossos deveres morais
estejam restritos somente aos dez mandamentos. Ao contrário, acredito ainda que
os dez mandamentos não tragam no seu escopo integral valores morais objetivos,
veremos o porquê disso.
Podemos
dividir os valores morais em três níveis distintos, a saber: convenções
sociais, preferências pessoais, Deus. Logo em se tratando de questão religiosa
todas as denominações erguem a vos dizendo que o mandamento do descanso semanal
trás consigo um dever moral eterno. Não podemos negar o fato de que o descanso
semanal tem o seu valor moral inegociável, fato é que ninguém é de ferro, mas
acreditar que o dever moral está interligado com a obrigação universal de se observar um dia entre
os sete não faz sentido.
A menos
que seja uma ordem expressa do próprio Deus, como foi com o povo de Israel logo
após o êxodo. Repare na parte em itálico (universal)
acredito que muitos ao lêem este assunto dirão que foi Deus quem recomendou
separar um dia dentre os sete, logo se é uma recomendação expressa do próprio
Deus o dia de descanso (variando somente na interpretação do dia em cada
denominação.?) significa que tal dia trás consigo um valor moral objetivo e
eterno significando que todos, sem distinção, estão obrigados moralmente a
observá-lo.
Mas uma
simples leitura dos textos bíblicos nos mostra que a ordem divina de se guardar
o sábado foi para Israel Ex. 34.27 (Disse mais o Senhor a Moisés:
Escreve estas palavras, porque, segundo o teor destas palavras, fiz aliança
contigo e com Israel.) Dt. 4.13-14 (Então, vos anunciou ele a sua
aliança, que vos prescreveu, os dez mandamentos, e os escreveu em duas tábuas
de pedra. Também o Senhor me
ordenou, ao mesmo tempo, que vos ensinasse estatutos e juízos, para que os
cumprísseis na terra a qual passais a possuir.) 2ª Cr. 5.10 (Nada havia na
arca senão as duas tábuas que Moisés ali pusera junto a Horebe, quando o Senhor fez aliança com os filhos de
Israel, ao saírem do Egito.)
Argumentar
como fazem os líderes religiosos que tais ordens estenderam-se para o Israel
espiritual é forçar o texto bíblico, claramente a bíblia nos diz que a primeira
aliança foi feita exclusivamente com Israel Sl. 147. 19-20 (Mostra a sua palavra a Jacó, as suas leis e os seus preceitos, a Israel. Não fez assim a nenhuma
outra nação; todas ignoram os seus preceitos. Aleluia!)
A obrigatoriedade
da guarda do sábado para os judeus pós êxodo deve ser entendido como um dever
moral? Sim, pois partiu de uma ordem expressa do próprio Deus para a nação, não
de uma convenção seja ela religiosa ou social baseada em retóricas ou
revelações. O fato de ser consenso entre a nação judaica todo o complexo que
compreendia o mandamento do sábado para o povo judeu deve ser considerado um
valor moral objetivo.
Porém,
para nós os gentios (outros povos) que não recebemos uma ordem direta, vinda do
próprio Deus, o valor moral está baseado no princípio do descanso. Princípio
este que preenche a necessidade física, biológica e também espiritual do homem,
lógico daquele que busca a Deus, mas a questão cerimonial se encontra no fato
do mandamento ter o seu princípio regulador alicerçado no horário, ou seja, de
por do sol a por do sol.
A
obrigação moral de uma pessoa para com o seu semelhante compreende todos os
momentos em que vive tal pessoa, não é determinado por períodos. Imagine se o
mandamento que diz: não matarás, fosse regido de por do sol a por do sol,
podemos acreditar que a situação do mundo em que vivemos estaria pior do que se
encontra. O mesmo pode-se dizer do primeiro mandamento, a ordem de não se ter
outros deuses vai além de determinados períodos da semana.
Assim
sendo, dentro mesmo do decálogo encontramos sim princípios cerimoniais e
encontramos princípios morais dentro dos mandamentos ditos e ensinados como
cerimoniais. Êx. 22.21-22 (Não afligirás o forasteiro, nem o oprimirás; pois forasteiros fostes na
terra do Egito. A nenhuma viúva nem órfão afligireis.) Êx. 23.2 (Não seguirás a multidão para fazeres mal;
nem deporás, numa demanda, inclinando-te para a maioria, para torcer o
direito.) Lv. 19.16 e 18 (Não andarás como mexeriqueiro entre o teu
povo; não atentarás contra a vida do teu próximo. Eu sou o Senhor. Não te vingarás, nem guardarás
ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu
sou o Senhor.)
Atentemos para o seguinte, os mandamentos cerimoniais
estão sempre acompanhados das seguintes expressões: aliança perpétua, sinal
perpétuo, mandamento perpétuo, estatuto ou concerto perpétuo entre Mim e vós,
nas vossas gerações. A bíblia não fala
que não matar, ou não roubar ou amar a Deus sejam sinal perpétuo, porque
estes são mandamentos morais e não podem servir como sinal entre Deus e os
judeus , nem entre Deus e qualquer povo, porque são obrigatórios para todos os
povos.
As conotações de mandamentos perpétuos, sinal e estatutos
perpétuos, caracterizam apenas os mandamentos cerimoniais, conforme Gn. 17.11 (Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de
aliança entre mim e vós.) Êx. 28.42-43 (Faze-lhes também
calções de linho, para cobrirem a pele nua; irão da cintura às coxas. E estarão
sobre Arão e sobre seus filhos, quando entrarem na tenda da congregação ou
quando se chegarem ao altar para ministrar no santuário, para que não levem iniquidade e morram; isto será estatuto perpétuo para ele e para sua
posteridade depois dele.)
Êx. 31.16 (Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por
aliança perpétua nas suas gerações.) Quanto as denominações que insistem
que o domingo é um mandamento moral, erram pelo fato de não haver sequer uma
menção escriturística que aponte isso. Mas se querem descansar no sábado ou no
domingo que o façam, contudo ensinar que tal mandamento é um dever moral
passivo de salvação... isso é mentalidade de grupo que querem se destacar
dentro do cenário religioso competitivo.