quinta-feira, 1 de abril de 2021

João 14. e o pronome ele.


Jo. 14. 16-17 “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós”.
Existem três razões principais pelas quais as pessoas pensam que o espírito santo é uma pessoa. Primeiro porque é traduzido como “o” Espírito Santo", em vez de "espírito santo", mesmo quando o texto grego não possui o artigo "o" os tradutores assim o fazem. Segundo, o "E" e o "S" ficam em maiúsculo, indicando um nome próprio, mesmo quando não existe razão no texto grego ou no contexto do versículo. Terceiro, pronomes pessoais como "ele" nos versos referidos, dão a entender que se trata de uma pessoa.

A língua grega, como aquelas que foram derivadas do latim (português, espanhol, francês, italiano, etc.), atribui um gênero específico para cada substantivo. Cada objeto, animado ou inanimado, é designado como masculino ou feminino [ou neutro no caso do grego]. Por exemplo, em português a palavra “tijolo”, está no gênero masculino e se refere ao pronome português “ele”. Igualmente, a palavra “panela”, está no feminino. É claro, embora estes substantivos tenham gênero, esse gênero não se refere ao fato de serem macho ou fêmea.

Na língua hebraica, na qual o Antigo Testamento foi escrito, a palavra traduzida como “espírito”,ruach, é apresentada com pronomes femininos. Mas o Espírito Santo certamente não é do sexo feminino ou uma mulher. Em grego, palavras masculinas e assim como palavras de gênero neutro são usadas para se referir ao Espírito Santo. A palavra grega traduzida como “Consolador”, “Auxiliador”, “Confortador” e “Advogado” [dependendo na versão que usa] nos capítulos de João 14 a 16 é parakletos , uma palavra masculina no grego e, assim, referido nesses capítulos por pronomes gregos equivalentes ao português “ele”.

Por causa das regras gramaticais do grego e do português, é incorreto concluir que o Espírito Santo seja uma pessoa, porque é referido no masculino, como “ele” ou “o qual”. Somente se soubéssemos que o parakletos ou o auxiliador fosse de fato uma pessoa é que poderíamos concluir que é uma pessoa. O pronome masculino não garante que estamos falando de uma pessoa. No entanto, o termo parakletos, pode sim se referir a uma pessoa, quando realmente se referir a uma pessoa, como é o caso de 1ª Jo. 2. 1 “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo.”

Porém, o Espírito Santo em nenhum lugar é designado com pessoalidade. Além disso, não há absolutamente nenhuma justificativa teológica ou bíblica para se referir ao termo “Espírito Santo” com pronomes masculinos, mesmo em grego. A palavra grega pneuma, traduzida como “espírito” (mas também traduzida como “vento” e “sopro” no Novo Testamento) é uma palavra gramaticalmente neutra. Assim, na língua grega, os pronomes equivalentes ao português “que” ou “aquilo” são utilizados corretamente quando se refere a esta palavra traduzida ao português como “espírito”.

Por exemplo: At. 2. 33 “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis.” Reparem que o próprio Pedro designa o espírito como sendo algo, não como alguém. No entanto, quando a tradução de João Ferreira de Almeida foi concluída e impressa, em 1753, a doutrina da trindade já estava sendo aceita há mais de mil anos. 

Então, naturalmente, os tradutores dessa versão, influenciados por essa crença, escolhiam os pronomes pessoais, em vez de neutro, referindo-se ao Espírito Santo em português. Como dito acima, o fato de existir um pronome pessoal para o espírito santo, não significa que esteja tratando de uma pessoa, por exemplo: Mt. 10.12-13 “E, quando entrardes nalguma casa, saudai-a; E, se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz”. Percebe-se neste verso o pronome pessoal feminino designando à casa, no entanto, podemos afirmar com certeza de que a casa não é alguém, mas sim algo.

Jo. 16. 13 “Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.” Para os trinitarianos o pronome masculino ele desse verso comprova a pessoalidade do espírito santo, pois diz “ele vos guiará” lembrando sempre que, alguns versículos referentes ao espírito nos quais um pronome pessoal masculino foi adicionado é por causa da teologia do tradutor.

Mas, os verbos gregos não têm gênero, Como os trinitarianos acreditam que o contexto de João 16 é a "Pessoa", "do Espírito Santo", eles traduziram “ele vos guiará” como o verbo não tem gênero, poderia ser traduzido como: “guiará” ou “ela guiará”, o que for melhor apoiado pelo contexto. Outra questão interessante se encontra em Lc. 11. 24-26 “Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, procurando repouso; e, não o achando, diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, tendo voltado, a encontra varrida e ornamentada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem se torna pior do que o primeiro.”

Mas temos certeza de que o demônio é um "ele"? O verbo grego não tem gênero e pode ser masculino, feminino ou neutro, devido à teologia convencional, ninguém diz "ela". Na mente de todos, o demônio é um ser masculino ainda que não comprovado, (1) ninguém viu o sexo dos demônios (2) o demônio era uma crença que abrangia as pessoas daquela época e isso devido a influencia, o local e o contexto.

Jo. 14. 17 “O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós.” Os trinitarianos bradam dizendo: “ele habita convosco” é prova de que é uma pessoa. Não mesmo. As palavras "Ele habita convosco" é uma interpretação do grego, que é simplesmente "habita" na terceira pessoa do singular e, portanto, poderia ser "ele habita", "ela habita" ou "habita". Nesse caso, Jesus está falando do dom de Deus, do espírito santo, que é "algo" e não uma "Pessoa", portanto, é apropriado sim dizer "ele habita", ou em outras traduções “permanece conosco”, ou seja, o presente de Deus, o dom, a dádiva de Deus, ele, ela, ou habita, permanece conosco.