segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Ezequiel 37 apoia a ressurreição da carne?

 O cristianismo quase que na sua totalidade, acredita e ensina que o capítulo 37 de Ezequiel apoia a ideia da ressurreição da carne. Está mesmo o profeta ensinando isso mesmo? O capítulo em si, confirma esse pensamento? Ez. 37. 1-2 “Veio sobre mim a mão do Senhor, e ele me fez sair no Espírito do Senhor, e me pôs no meio de um vale que estava cheio de ossos. E me fez passar em volta deles; e eis que eram mui numerosos sobre a face do vale, e eis que estavam sequíssimos.”

Israel nessa época estava submetido ao cativeiro babilônico, e nesse período Ezequiel teve essa visão. Na verdade quando olhamos mais atentamente para o capítulo 37 percebemos que a visão obtida por Ezequiel, não ensina uma ressurreição da carne, muito menos de todas as gentes. Primeiro devemos atentar para o fato de que Israel nesse época estava podemos dizer “sem vida”.

De baixo de um cativeiro e distante de Deus, esse distanciamento na realidade causou a sua subjugação não só moral, mais também e principalmente espiritual. Longe da sua terra, sem o templo e os seus ritos, rejeitados naquele período por Deus, culminou com sua queda e morte, Portanto, o vale de ossos secos de Ezequiel representa Israel nos dias do seu cativeiro físico e espiritual.

Os versos quatro ao dez de Ezequiel 37 descrevem a “ressurreição” de uma forma simples e bastante clara, ou seja, os nervos e a carne cobrindo os ossos a força animadora que é o espírito dando vida. Ou seja, uma forma humana para descrever a ressurreição do povo, Ez. 37. 11 “Então me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eis que dizem: Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperança; nós mesmos estamos cortados.”

O verso resume o que acabei de dizer, o profeta estava tratando de um assunto espiritual usando contudo, de palavras literais e contextuais. Vejamos mais dois versos, Ez. 37. 12 “Portanto profetiza, e dize-lhes: Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu abrirei os vossos sepulcros, e vos farei subir das vossas sepulturas, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel.” A primeira impressão parece realmente que o verso está tratando de uma forma física (o subir da sepultura) induz esse pensamento, no entanto não é assim.

Ez. 37. 14 “E porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos porei na vossa terra; e sabereis que eu, o Senhor, disse isto, e o fiz, diz o Senhor.” Ora, se os ossos estavam secos, significa que estavam mortos em suas sepulturas, mas como pode o morto reclamar algo? Os mortos nesse contexto era a casa de Israel que estava em cativeiro, “a morte” foi todo o trâmite ocorrido e suportado pelos judeus.

Isso fica evidente vendo os versos 11 e 14. Eles argumentam de que os próprios ossos ressecaram, (os mortos não falam) e no verso 14 Deus prometeu o seu Espírito, não o espírito do homem, isso significa que eles seriam restaurados espiritualmente e voltariam à sua terra. Sendo assim, não há evidência de que Ezequiel 37 apoie a ressurreição da carne.

O desenrolar do capítulo 37 nos mostra a restauração espiritual de Israel, ainda que as palavras do profeta se desenrole de uma forma contextual. Ez. 37. 21- 22 “Dize-lhes pois: Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu tomarei os filhos de Israel dentre os gentios, para onde eles foram, e os congregarei de todas as partes, e os levarei à sua terra. E deles farei uma nação na terra, nos montes de Israel, e um rei será rei de todos eles, e nunca mais serão duas nações; nunca mais para o futuro se dividirão em dois reinos.” O secar dos ossos na sepultura, significa o cativeiro entre os povos devido a transgressão por eles cometida, ao passo que ser tirado das nações e ser reintroduzido na sua terra, representa o despertar o ressuscitar da nação, isso ainda se dará.

Esse episódio ainda não aconteceu, apesar de em 1948 Israel ter sido nomeado como uma nação, não é apenas isso que o capítulo 37 de Ezequiel está tratando, na verdade está se falando nesse contexto de algo superior, isto é, espiritual. Essa profecia se cumprirá no reino vindouro onde “Davi” será rei. Na realidade o profeta cita Davi como rei, valendo-se apenas da linguagem contemporânea, sabemos no entanto, que o descendente de Davi reinará.

Os dois versos a seguir contribuem grandemente para o que estou dizendo: Ez. 37. 26-27 “E farei com eles uma aliança de paz; e será uma aliança perpétua. E os estabelecerei, e os multiplicarei, e porei o meu santuário no meio deles para sempre. E o meu tabernáculo estará com eles, e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo”. O NT. Nos dá essa informação, onde no final do reino messiânico, Deus estabelecerá o seu tabernáculo no nosso meio.

Ap. 21. 3 “E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus está com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.” O tabernáculo o qual o NT. Se refere é a própria cidade santa, Ap. 21. 2-3 “E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, preparada como uma esposa adornada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus está com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.”

Em resumo, Ezequiel 37 não apoia literalmente a ideia da ressurreição da carne, usa sim de uma linguagem de fácil entendimento, relacionado com as questões humanas, vida, morte, cativeiro e etc. Contudo, o mesmo capítulo trata sim da instauração do reino de Deus, regido a princípio pelo Messias descendente de Davi. Fala também da necessidade da ressurreição espiritual a qual dará acesso ao reino de Deus.

Mas, todas as figuras utilizadas, como sendo nervos, peles, respiração tomando posse dos ossos secos, representam na verdade a ressurreição do incorruptível, tem até mesmo o fato de que a ressurreição do corpo carnal seria temporário, necessitar-se-ia de uma nova ressurreição e assim sucessivamente.