domingo, 1 de maio de 2011

E o diabo? Parte II

O novo testamento, sob diversos nomes, alude 73 ao que comumente hoje se chama demônios. O novo testamento usa, além de daimonion, os nomes: “diabo e seus anjos” Mt. 25: 41; “espíritos imundos” Mt. 10: 1; “espírito impuro” Mc. 1: 23 etc. Demônios e os outros termos se usam indistintamente. No singular ou no plural. Assim, por exemplo, a mesma pessoa que, segundo Marcos 5: 2 é possuída por um espírito impuro, no singular, pouco depois, no mesmo Marcos verso 13 está possuída por espíritos imundos, no plural; segundo Lucas 8: 27 essa mesma pessoa está possuída por demônios, no plural; mas imediatamente, no mesmo evangelho de Lucas verso 29 Jesus identifica esses demônios como um espírito impuro e no verso seguinte (30) Lucas diz que são muitos demônios. Termo “demônio” no antigo testamento? Uma primeira constatação é que o termo demônio (ou o equivalente hebraico para traduzir exatamente o termo grego daimonion), tão freqüente no novo testamento, não aparece nos originais do antigo. A palavra demônio no antigo testamento é só fruto de traduções posteriores. Quem ou o que é o demônio? Uma análise primeiramente sobre o que chamam de demônio no antigo testamento. Ídolos. Os sátiros (espécie mitológica de bode), “seres peludos” descritos por Isaías, inspirado nas divindades mesopotâmicas, são convertidos na tradução dos setenta em demônios, Is. 13: 21; esses mesmos sátiros, esses mesmos demônios, em Levíticos, são na tradução na tradução dos setenta, simplesmente “ídolos e coisas vãs” Lv. 17: 7. Coisas, não existem como seres pessoais. Em outra oportunidade os ídolos se traduzem por demônios, Is. 65: 3 condena os ritos dos pagãos, que fazem sacrifícios aos ídolos nos jardins e queimam perfumes sobre lajes, irritando assim a Deus. Quando adoram os ídolos, adoram aos “demônios que não existem”, de acordo com a tradução dos setenta. Moisés repreende aos que sacrificavam (em honra de) demônios, falsos deuses, a deuses que não haviam conhecido novos, recentemente chegados Dt. 32: 17. Abertamente chama-se demônios (sedin) em todas as traduções, às divindades Cananéias. Só em outra oportunidade aparece na bíblia a mesma palavra sedin, que mais uma vez é traduzida por demônios, e de novo representam os ídolos de Canaã, aos quais se ofereciam sacrifícios humanos: “Eles serviram seus ídolos... e sacrificaram seus filhos e suas filhas aos demônios (sedin), e derramaram o sangue inocente de seus filhos e de suas filhas que sacrificaram aos ídolos de Canaã” Sl. 106: 36, também no verso 37 os deuses, touros alados da mitologia Assíria, são traduzidos por demônios. E quando Is. 65: 11 fala de Gad. o deus arameu da fortuna, os setenta substituem Gad. por demônio. Influencias pagãs. A antiqüíssima demonologia-divindade da literatura suméria, os perniciosos deuses-demônios chamados udug, e a demonologia acádia influenciaram os hebreus do Antigo Testamento, e através dos caldeus penetraram o mundo grego e depois o romano. Pouco antes de Cristo, a influência volta aos judeus, através da cultura grega, resultante da dominação romana. Dois séculos antes de Cristo e no próprio século 1º d.C., a demonologia judaica manifesta reflexos da demonologia mesopotâmica e grego-romana. Demônios e demônio são as traduções vernáculas para os termos daímones no plural e daímon no singular na versão dos Setenta. Tenhamos em conta que esta tradução foi feita precisamente nesta época neo-testamentária. Ora, na literatura grega e na época helenística, daímon e daímones significam deus e deuses: divindades de grau inferior. Os judeus na época neo-testamentária, também adotaram esta denominação. Flávio Josefo, o historiador judeu que escrevia no século primeiro, várias vezes emprega o termo daímones como sinônimo de deuses. Levemos em conta que o todo o Novo Testamento foi escrito em grego. O termo daímon procede de daiomai, que significa distribuir: eram os deuses que distribuíam os bens e os castigos aos homens. Neste mesmo sentido, os pagãos usam o termo daímones com referência à pregação de Paulo. “Dir-se-ia um pregador de divindades daímones exóticas, porque ele anunciava Jesus e a Ressurreição” At 17: 18. Os que escutavam Paulo usaram o termo daímones no plural porque acreditavam que Jesus era anunciado como um deus e a Ressurreição como uma deusa. Tudo influencia os primeiros cristãos. Se os povos orientais influenciaram muito os judeus e, em seqüência, em Paulo, influíram mais ainda na demonologia dos primeiros cristãos. Justino, Clemente de Alexandria etc. refletem claramente a mentalidade demonológica dos egípcios. Orígenes, no começo do século III, teve uma influência decisiva na demonologia cristã que lamentavelmente permanece até hoje. Os demônios maus. O daímon, demônio, divindade inferior, vai deixar de ser um intermediário entre Deus e as criaturas, para o bem ou para o mal, e converte-se num ser unicamente mau. Para Paulo, apostatar da fé é equivalente a escutar os ensinamentos dos demônios-deuses pagãos 1 Tm 4,1; a idolatria equivale a misturar-se com demônios-ídolos, que sustentam o paganismo 1 Cor 10: 20. E assim passou-se a considerar os demônios como seres maus e desprezíveis.
Extraído do livro: Antes que os demônios voltem.