quinta-feira, 11 de abril de 2013

A ceia do Senhor. II


Uma doutrina bíblica, só deve ser considerada doutrina quando ela for legitimamente bíblica. Usar da tradição e da mística como suporte doutrinário, é ir contra o que está escrito. Porém, a democracia deve imperar também na questão teológica, sendo assim, quem está feliz em sua denominação deve permanecer nela. Sou adepto ao diálogo teológico, avesso as agressões verbais. Outro fato é que uma doutrina bíblica deve estar abalizada em um contexto (todo o capítulo) e não em cima de insinuações, por exemplo, utilizar textos do capítulo seis de João para dar suporte à transformação do pão no corpo de Cristo é um erro teológico crasso, é ir além do que está escrito.

A doutrina bíblica só pode ser reconhecida quando esta estiver embasada em cima de um contexto. O que o contexto de João capítulo seis quer nos dizer? O contexto do capítulo nos mostra que Jesus estava chamando a atenção dos seus seguidores, isso pelo fato de muitos daqueles, estarem seguindo Jesus em busca do alimento físico, em outras palavras muita gente estava seguindo Jesus devido ao milagre que outrora Ele havia realizado. Mc. 6.35-38; 42-44 (Em declinando a tarde, vieram os discípulos a Jesus e lhe disseram É deserto este lugar, e já avançada a hora; despede-os para que, passando pelos campos ao redor e pelas aldeias, comprem para si o que comer. Porém ele lhes respondeu: Dai-lhes vós mesmos de comer. Disseram-lhe: Iremos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer. Todos comeram e se fartaram; e ainda recolheram doze cestos cheios de pedaços de pão e de peixe. Os que comeram dos pães eram cinco mil homens.)

Jo. 6.22-26 (No dia seguinte, a multidão que ficara do outro lado do mar notou que ali não havia senão um pequeno barco e que Jesus não embarcara nele com seus discípulos tendo estes partido sós. Entretanto, outros barquinhos chegaram de Tiberíades, perto do lugar onde comeram o pão, tendo o Senhor dado graças. Quando, pois, viu a multidão que Jesus não estava ali nem os seus discípulos tomaram os barcos e partiram para Cafarnaum à sua procura. E, tendo-o encontrado no outro lado do mar, lhe perguntaram: Mestre, quando chegaste aqui? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes.)

Com a resposta dada por Jesus está fixada a base para desvendarmos o que João capítulo seis está nos dizendo. Qual foi o assunto que desenvolveu após isto? Sobre o pão que eles comeram! Pois bem, o pão foi literal? Sim, matou a fome de milhares. Ele representava a ceia? O contexto não diz nem mesmo insinua isto. O contexto foi útil para Jesus, visto que Ele passou a utilizar do assunto, traçando um paralelo entre o maná que os judeus comeram no deserto e pereceram e o pão que da a vida eterna, com o objetivo de mostrar para o povo que eles deveriam buscar aquilo que era imperecível, não o pão físico o qual eles buscavam, mas aquele que foi dado por Deus para a vida eterna.

Muitos dirão: - então você concorda que Jesus é o pão da vida? Sim, a bíblia diz isso, só não diz que o pão da ceia se transforma no corpo de Cristo. Se admitirmos que comemos literalmente o corpo de Jesus naturalmente estaremos praticando o canibalismo, o capítulo seis de João está cheio de simbolismos, por exemplo: Jo. 6.35 (Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.) Este é o verdadeiro sentido de se alimentar de Cristo, ir a Ele, essa era a grande questão, o contexto estava relacionado ao alimento os judeus disseram- “nossos pais comeram do maná eles tiveram um grande sinal por meio de Moisés, por isso creram”. Após terem comido do pão, resultante do milagre de Jesus, os incrédulos procuravam ainda algum sinal. Jo. 6.30-31 (Que sinal fazes para que o vejamos e creiamos em ti? Quais são os teus feitos? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer pão do céu. Por isso Jesus utilizou do mesmo para dirigir as palavras para os incrédulos que ora estavam ali. E neste contexto que entra o pão do céu, Jesus lhes respondeu:

(1) Não foi Moisés que realizou o milagre do maná, (2) Vossos pais comeram e morreram, (3) Vocês precisam de um pão que lhes de a vida eterna, (4) E Ele cabalmente lhes disse: Eu Sou este pão. Nada de místico pode ser encontrado nestas declarações, somente símbolos. A salvação não depende de comer ou não, até porque isso não garantiria salvação a ninguém, a salvação está explicitada nestas palavras de Jesus. Jo. 6.40 (De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.

Crer em Cristo é ser transformado por Ele envolve fé, rito e cerimônia não transformam ninguém. Alguns sendo persuadidos por Jesus disseram: Jo. 6.34 (Então, lhe disseram: Senhor, dá-nos sempre desse pão.) qual foi a resposta de Jesus? “Depois da minha morte Eu me transformarei em pão, então vocês poderão se alimentar de Mim” Não, não foi isso, Jo. 6.35 (Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.) Reparem que a fome espiritual termina quando vamos a Cristo e cremos nEle, este é o verdadeiro sentido de nutrirmos dEle.

Outra questão lógica que não podemos fugir é: (a) o contexto de João capítulo seis nada tem em comum com a ceia do Senhor, (b) se a transubstanciação fosse uma realidade teológica, bíblica, que espécie de pão Jesus e os apóstolos comeram antes da sua morte? Em outras palavras se o pão literalmente se transforma no corpo de Cristo, que tipo de pão Jesus e os discípulos comeram? João capítulo seis tem o seu enfoque em Jesus, aquele que nos da vida, contrastando o maná que os antigos comeram no deserto e pereceram.

Os incrédulos buscaram a Jesus com o objetivo primário, em se saciar fisicamente utilizando dos recursos provindos dos milagres (pão, peixe etc.) realizados por Jesus. A partir daí não entendendo que as palavras de Cristo eram espirituais, creram de forma literal que Jesus estava estimulando o canibalismo entre a nação, não creram em Cristo. Apesar de terem visto o milagre, pediram um sinal, disseram que Moisés havia realizado um sinal, ao qual Cristo contesta dizendo que o maná fora uma ação divina.

O fato de estarem procurando por comida (pão) e terem falado do maná, (pão) do céu, foi a oportunidade que Jesus teve para dar sequência ao assunto e dizer que eles precisavam de algo espiritual, em outras palavras precisavam de um alimento que lhes proporcionasse vida. Foi aí que entrou a analogia, (maná pão do céu, e Cristo pão do céu). Mas alguém poderá objetar dizendo: e o verso 51 de João 6? (Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne.)

Realmente Jesus disse ser o pão, porém disse que suas palavras tinham um significado espiritual, Jo. 6.63 (O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) De igual modo Jesus foi representado por um cordeiro, cordeiro este que era comido pelo povo Judeu, Ex. 12.5 (O cordeiro será sem defeito, macho de um ano...)  Ex. 12.46 (O cordeiro há de ser comido numa só casa; da sua carne não levareis fora da casa, nem lhe quebrareis osso nenhum.) Jo. 1.36 (e, vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus! Será que o povo de Deus do passado comeram literalmente a carne de Jesus? Jesus igualmente disse ser a porta, Jo. 10.9 (Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem.) Também disse ser a luz, a estrela da manhã, o caminho, a pedra e etc.

Porém ninguém acredita que Jesus esteja falando de uma forma literal, sujeito ao rigor das palavras, todos sabem que era uma forma figurada de dizer. Por que então o pão deve ser literal? Não faz sentido. O próprio Cristo disse que devemos fazer em memória  dEle Lc. 22.19 (E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.) A palavra grega nesta passagem para memória é anamnesis e significa literalmente, lembrança, recordação.