Uma
doutrina bíblica, só deve ser considerada doutrina quando ela for legitimamente
bíblica. Usar da tradição e da mística como suporte doutrinário, é ir contra
o que está escrito. Porém, a democracia deve imperar também na questão
teológica, sendo assim, quem está feliz em sua denominação deve permanecer
nela. Sou adepto ao diálogo teológico, avesso as agressões verbais. Outro fato
é que uma doutrina bíblica deve estar abalizada em um contexto (todo o
capítulo) e não em cima de insinuações, por exemplo, utilizar textos do capítulo
seis de João para dar suporte à transformação do pão no corpo de Cristo é um erro teológico crasso, é
ir além do que está escrito.
A
doutrina bíblica só pode ser reconhecida quando esta estiver embasada em cima
de um contexto. O que o contexto de João capítulo seis quer nos dizer? O
contexto do capítulo nos mostra que Jesus estava chamando a atenção dos seus
seguidores, isso pelo fato de muitos daqueles, estarem seguindo Jesus em busca
do alimento físico, em outras palavras muita gente estava seguindo Jesus devido
ao milagre que outrora Ele havia realizado. Mc. 6.35-38; 42-44 (Em declinando a tarde, vieram
os discípulos a Jesus e lhe disseram É deserto este lugar, e já avançada a
hora; despede-os para que, passando pelos campos ao redor e pelas aldeias,
comprem para si o que comer. Porém ele lhes respondeu: Dai-lhes vós mesmos de
comer. Disseram-lhe: Iremos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de
comer. Todos comeram e se fartaram; e ainda recolheram doze cestos cheios
de pedaços de pão e de peixe. Os que comeram dos pães eram cinco mil
homens.)
Jo. 6.22-26 (No dia seguinte,
a multidão que ficara do outro lado do mar notou que ali não havia senão um
pequeno barco e que Jesus não embarcara nele com seus discípulos tendo estes
partido sós. Entretanto, outros barquinhos chegaram de Tiberíades, perto do
lugar onde comeram o pão, tendo o Senhor dado graças. Quando, pois, viu a
multidão que Jesus não estava ali nem os seus discípulos tomaram os barcos e
partiram para Cafarnaum à sua procura. E, tendo-o encontrado no outro lado
do mar, lhe perguntaram: Mestre, quando chegaste aqui? Respondeu-lhes
Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes
sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes.)
Com a resposta dada por Jesus está fixada a base para
desvendarmos o que João capítulo seis está nos dizendo. Qual foi o assunto que
desenvolveu após isto? Sobre o pão que eles comeram! Pois bem, o pão foi
literal? Sim, matou a fome de milhares. Ele representava a ceia? O contexto não
diz nem mesmo insinua isto. O contexto foi útil para Jesus, visto que Ele
passou a utilizar do assunto, traçando um paralelo entre o maná que os judeus
comeram no deserto e pereceram e o pão que da a vida eterna, com o objetivo de
mostrar para o povo que eles deveriam buscar aquilo que era imperecível, não o
pão físico o qual eles buscavam, mas aquele que foi dado por Deus para a vida
eterna.
Muitos dirão: - então você concorda que Jesus é o pão da
vida? Sim, a bíblia diz isso, só não diz que o pão da ceia se transforma no
corpo de Cristo. Se admitirmos que comemos literalmente o corpo de Jesus
naturalmente estaremos praticando o canibalismo, o capítulo seis de João está
cheio de simbolismos, por exemplo: Jo.
6.35 (Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu
sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais
terá sede.) Este é o verdadeiro
sentido de se alimentar de Cristo, ir a Ele, essa era a grande questão, o
contexto estava relacionado ao alimento os judeus disseram- “nossos pais comeram
do maná eles tiveram um grande sinal por meio de Moisés, por isso creram”. Após
terem comido do pão, resultante do milagre de Jesus, os incrédulos procuravam ainda
algum sinal. Jo. 6.30-31 (Que sinal fazes para que o vejamos e
creiamos em ti? Quais são os teus feitos? Nossos pais comeram o maná no
deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer pão do céu. Por isso Jesus utilizou do mesmo para dirigir as palavras
para os incrédulos que ora estavam ali. E neste contexto que entra o pão do
céu, Jesus lhes respondeu:
(1) Não foi
Moisés que realizou o milagre do maná, (2) Vossos pais comeram e morreram,
(3) Vocês precisam de um pão que lhes de a vida eterna, (4) E Ele
cabalmente lhes disse: Eu Sou este pão. Nada de místico pode ser encontrado
nestas declarações, somente símbolos. A salvação não depende de comer ou não,
até porque isso não garantiria salvação a ninguém, a salvação está explicitada
nestas palavras de Jesus. Jo. 6.40 (De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha
a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
Crer em Cristo é ser transformado por Ele envolve fé,
rito e cerimônia não transformam ninguém. Alguns sendo persuadidos por Jesus
disseram: Jo. 6.34 (Então, lhe disseram: Senhor, dá-nos sempre
desse pão.) qual foi a resposta de Jesus? “Depois da minha morte Eu me
transformarei em pão, então vocês poderão se alimentar de Mim” Não, não foi
isso, Jo. 6.35 (Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim
jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.) Reparem que a fome espiritual termina quando vamos a Cristo
e cremos nEle, este é o verdadeiro sentido de nutrirmos dEle.
Outra
questão lógica que não podemos fugir é: (a) o contexto de João capítulo seis
nada tem em comum com a ceia do Senhor, (b) se a transubstanciação fosse uma
realidade teológica, bíblica, que espécie de pão Jesus e os apóstolos comeram
antes da sua morte? Em outras palavras se o pão literalmente se transforma no
corpo de Cristo, que tipo de pão Jesus e os discípulos comeram? João capítulo
seis tem o seu enfoque em Jesus, aquele que nos da vida, contrastando o maná
que os antigos comeram no deserto e pereceram.
Os
incrédulos buscaram a Jesus com o objetivo primário, em se saciar fisicamente
utilizando dos recursos provindos dos milagres (pão, peixe etc.) realizados por
Jesus. A partir daí não entendendo que as palavras de Cristo eram espirituais,
creram de forma literal que Jesus estava estimulando o canibalismo entre a
nação, não creram em
Cristo. Apesar de terem visto o milagre, pediram um sinal,
disseram que Moisés havia realizado um sinal, ao qual Cristo contesta dizendo
que o maná fora uma ação divina.
O fato
de estarem procurando por comida (pão) e terem falado do maná, (pão) do céu,
foi a oportunidade que Jesus teve para dar sequência ao assunto e dizer que
eles precisavam de algo espiritual, em outras palavras precisavam de um
alimento que lhes proporcionasse vida. Foi aí que entrou a analogia, (maná pão
do céu, e Cristo pão do céu). Mas alguém poderá objetar dizendo: e o verso 51
de João 6? (Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se
alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo
é a minha carne.)
Realmente Jesus disse ser o pão, porém disse que suas
palavras tinham um significado espiritual, Jo.
6.63 (O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras
que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) De igual modo Jesus foi
representado por um cordeiro, cordeiro este que era comido pelo povo Judeu, Ex. 12.5 (O cordeiro será sem defeito, macho de um ano...) Ex.
12.46 (O cordeiro há de ser comido
numa só casa; da sua carne não levareis fora da casa, nem lhe quebrareis osso nenhum.) Jo. 1.36 (e, vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus! Será que o povo de Deus do
passado comeram literalmente a carne de Jesus? Jesus igualmente disse ser a
porta, Jo. 10.9 (Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e
achará pastagem.) Também disse ser a luz, a estrela da manhã, o caminho, a pedra e etc.
Porém ninguém acredita que Jesus esteja falando de uma
forma literal, sujeito ao rigor das palavras, todos sabem que era uma forma
figurada de dizer. Por que então o pão deve ser literal? Não faz sentido. O
próprio Cristo disse que devemos fazer em memória dEle Lc. 22.19 (E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo:
Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.) A
palavra grega nesta passagem para memória é anamnesis e
significa literalmente, lembrança, recordação.