O
adventismo do sétimo dia no seu afã de fazer discípulos divulga que a sua
origem é celestial, em outras palavras promulga aos quatro ventos que Deus
intentou em uma época da história trazê-los a existência. É sabido por todos
que para isso arrogam-se de que um homem chamado Guilherme Miller foi levantado
por Deus, a fim de cumprir o seu propósito.
Para
isso segundo o adventismo, Miller inspirado pelo Espírito Santo, pesquisou nas
escrituras e descobriu algo até então desconhecido, foi revelado para Ele que
Jesus voltaria em 1843 ou 1844. Como Miller procedeu? Miller se valeu de uma
contagem extra bíblico (algo que não é dito pelos líderes do adventismo)
conhecido como dia ano.
Em
outras palavras não foi Miller que descobriu isso induzido pelo Espírito Santo,
mas tal procedimento era comum no século XIX. O que estou dizendo nesta
abordagem é que a contagem do dia ano não existe! E que o surgimento profético
do adventismo também não existe. Vamos aos fatos.
No livro
O grande Conflito, de autoria de Ellen G. White, a profetiza dos adventistas do
7º dia na página 370 está escrito: “A
proclamação de um tempo definido para a vinda de Cristo despertou grande
oposição de muitos, dentre todas as classes, desde o pastor, no púlpito, até ao
mais ousado pecador.” Falando sobre Guilherme Miller Ela continua na
página 368: “Os escritos de Miller e seus
companheiros foram levados a países distantes. Em todo o mundo, onde quer que
houvessem penetrado missionários, para ali se enviaram as alegres novas da
breve volta de Cristo.” “ O testemunho das profecias que pareciam indicar
a vinda de Cristo na primavera de 1844, apoderou-se profundamente do espírito
do povo.”
O que
Levou Miller a proclamar a volta de Jesus para 1844? Como disse acima o
movimento adventista do 7º dia enfatiza que seu surgimento está intimamente
associado com a ordem de Deus, segundo eles as escrituras se cumpriram, apesar
de Jesus não ter voltado a terra acreditam que o surgimento do adventismo faz
parte do plano de Deus em restaurar a sua igreja. O que dizer deste
acontecimento? Na realidade nada de sobrenatural aconteceu naqueles dias, tudo
não passou de uma indução do contexto o qual Ele Miller pertencia.
No século XIX existia uma grande
expectativa com relação à volta de Jesus, não só a religiosidade da época
contribuiu para a disseminação do tão esperado retorno de Cristo, mas o que
mais influenciou algumas pessoas entre elas Guilherme Miller foi um conceito
conhecido como dia ano. O que significa isso? É dito que este princípio, em
profecias bíblicas estão relacionadas com o tempo, um dia sempre representa
um ano.
Na Bíblia há duas passagens em que
períodos proféticos são contados explicitamente dessa maneira: Números
14.34 e Ezequiel 4:6. No primeiro texto, como punição pelos seus erros,
os israelitas tiveram de vaguear pelo deserto durante quarenta anos,
contados segundo o número de dias que os espiões haviam espionado a
terra, ou seja, quarenta dias, “um dia por um ano”.
No segundo texto, Ezequiel
recebeu a ordem de se deitar sobre o seu lado esquerdo durante 390 dias e sobre
o seu lado direito durante 40 dias, levando profeticamente os erros de Israel e
Judá cometidos durante os anos que correspondem numericamente a esses dias, “um
dia por um ano”. Deve-se notar, porém, que estas interpretações específicas são
fornecidas a nós pela própria Bíblia.
A
expressão “um dia por um ano” não é declarada em parte alguma como um princípio
geral de interpretação que se aplica também a outros períodos proféticos. No
entanto os rabinos judaicos foram os primeiros a aplicar este modo de contar o tempo
profético. Apesar disto, o fato é que a aplicação “ano-dia” só foi expressa como
um princípio geral no primeiro século d.C pelo famoso rabino, Akiba ben José (50-132
d.C).
Joaquim
de Flores (1130-1202), abade do mosteiro cisterciense de Corace, Itália, foi
mui provavelmente o primeiro expositor cristão que aplicou o princípio ano-dia
aos diferentes períodos de tempo de Daniel e de apocalipse.
As obras
de Joaquim deram início a uma nova tradição de interpretação, na qual o
“princípio ano-dia” era a própria base das interpretações proféticas. Durante
os séculos seguintes foram fixadas inúmeras datas para o segundo advento de
Cristo, sendo a maioria delas edificadas com base no princípio ano-dia. Na
época da Reforma (no século 16), Martinho Lutero e a maioria dos outros
reformadores acreditavam nesse princípio, e ele era amplamente aceito entre os eruditos
protestantes até bem dentro do século dezenove. Na longa história da
especulação profética, John Aquila Brown, da Inglaterra, desempenha um papel
destacado.
Embora
não tenha sido encontrada qualquer informação biográfica sobre Brown até agora,
ele influenciou fortemente o pensamento apocalíptico de sua época. Ele foi o
primeiro expositor que aplicou os supostos 2.300 anos-dias de Daniel 8.14 de
forma que terminassem em 1843 (depois 1844). Esta veio a ser uma data chave
para o movimento do Segundo Advento.
Ainda no
livro O Grande Conflito na página 328 está escrito: “Miller e seus companheiros a princípio creram que os 2.300 dias
terminariam na primavera de 1844, ao passo que a profecia indicava o
outono daquele ano.” Como foi dito anteriormente, Miller foi influenciado
pelo pensamento corrente que os estudiosos mantinham a respeito da questão dia
ano. Defendendo o ponto de vista milerita E.G.W faz uma comparação entre Miller
e um profeta bíblico, Ela diz: O Grande Conflito página 331 “ Assim como Eliseu
foi chamado quando à rabiça do arado acompanhava os bois no campo de trabalho,
a fim de receber o manto da consagração ao ofício de profeta, também Guilherme
Miller foi chamado para deixar o arado e desvendar ao povo os mistérios do
reino de Deus.”
O que E.G.W não admitiu foi o
fato da contagem do tempo baseado no dia ano ser uma prática dos seus dias,
para ela a obra de Miller foi uma motivação do espírito de Deus. Miller
apresentou quinze“provas” diferentes em apoio da sua data 1843, a maioria das quais
sendo cálculos baseados nos vários períodos de anos-dias, incluindo os 2300 e
os 2520 anos-dias. Alguns líderes mileritas que também apoiavam a data 1844 —
entre, eles Apollos Hale, Joseph Turner, Samuel Snow e Barnett
Matthias afirmavam que Jesus tinha realmente vindo como Noivo em
1844, embora de maneira espiritual e invisível, “não por descer pessoalmente do
céu, mas por assumir o trono espiritualmente.” Em 1844, diziam eles, o
“reino deste mundo” foi dado a Cristo.
Naturalmente
não foi o Espírito de Deus que o induziu a marcar uma data para volta de Jesus
pelo fato de que a bíblia não apóia tal ação e pensamento. Infelizmente o que
os adventistas não admitem é o fato de que Miller não foi o precursor da idéia
da contagem dia ano, mas praticamente todas as posições que eles sustentavam
sobre as várias profecias, tinham sido ensinadas por outros expositores
anteriores ou contemporâneos.
Miller
estava simplesmente seguindo outros ao finalizar os “tempos dos gentios” em
1843 ou 1844. A questão da interpretação dia ano contribuiu não só para o
aparecimento da igreja adventista, contribuiu para os seguintes movimentos: incluindo
a Igreja Adventista do Sétimo Dia, as Testemunhas de Jeová e certas denominações
da Igreja de Deus.
Para uma
compreensão mais detalhada a respeito de como surgiu à interpretação conhecida
como dia ano, recomendo a leitura do excelente livro: Os tempos dos gentios reconsiderados. De
Carl Olof Jonsson.