terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Distinção entre juízo local e volta de Jesus.

A bíblia é clara em dizer que os seguidores de Jesus acreditavam que o seu retorno seria em breve. At. 1.6 (Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?) Observa-se no entanto que Jesus não tentou refutar tal pensamento, antes, não precisou uma data, não disse que o reino visível de Deus estava longe nem perto. At. 1.7 (E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.)

Sendo assim, acredito no fato de que os discípulos acreditavam e ensinavam sobre o iminente retorno de Jesus Cristo, acreditar que eles esperavam o reino de Deus para um futuro distante, algo com dois mil anos ou mais não faz sentido. O pensamento da breve volta de Jesus faz parte de qualquer seguidor comprometido com o retorno de Cristo, ou seja, acreditar que em sua época ou em um período breve posterior Jesus voltará, não há nada de errado nisso, no entanto isso não garante que Jesus retornará naquele período.

Algo que não podemos deixar passar despercebido é o fato de que todos os seguidores de Jesus aguardavam o reino de Deus, porém eles aguardavam um reino visível onde o próprio Cristo iria reinar, acreditar que Jesus estabeleceu o reino de Deus usando para isso o império romano é um tanto temerário. Tal pensamento serve somente para coadunar a ideia e o ensinamento de que os discípulos disseram que a volta de Jesus era iminente e que o tempo estava próximo e etc.

Pois bem, segue então as premissas e sua conclusão: (1) Jesus voltará para estabelecer o reino. (2) O reino não foi estabelecido. (3) Logo, Jesus não voltou. 

Se já no primeiro século era chegado o reino de Deus não podemos entender como o reino de Deus foi estabelecido sem o retorno de Jesus, mesmo porque o reino o qual esperavam os discípulos era um reino físico que passaria de nação para nação e consequentemente encheria a terra.  

A crença judaica do reino de Deus é baseada no seu estabelecimento literal sobre a terra, Dn. 7.27 (O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão.) Os primeiros seguidores no NT. Mantiveram a crença e para eles esse reino seria estabelecido a qualquer momento por Jesus.

Segundo o NT. precisamos distinguir a crença dos discípulos na vinda de Cristo e o estabelecimento do reino, de um juízo iminente para os judeus daqueles dias. O preterismo afirma que o reino de Deus foi estabelecido quando os romanos destruíram Jerusalém no ano 70 dC. Mas, se fizermos uma analise até mesmo superficial de algumas passagens no NT. Veremos uma tremenda distinção entre retorno de Jesus e estabelecimento do reino de Deus e o juízo sobre os incrédulos judeus daqueles dias.

1ª Ts. 1.10 (E para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura.) É desnecessário eu dizer que as cartas tinham como primazia a igreja a qual era dedicada, portanto 1ª e 2ª Tessalonicenses foram direcionadas para as igrejas daquela região. No verso acima descrito Paulo estava querendo dizer o que realmente? Acredito piamente que o seu foco era o ensinamento da vinda literal de Jesus.

1ª Ts. 4.14-17 (Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem. Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor.)

Alegam o fato de Paulo ter dito que estaria vivo por ocasião da volta de Jesus, e que encontraria com ele nos ares, isso é garantia para afirmarem que “Jesus já voltou” em 70 dC. Acredito que a linguagem de Paulo era de um homem sensato que aguardava o reino e que sobretudo estava vivo naquele momento, pois de maneira nenhuma ele poderia dizer que seria ressuscitado dos mortos, para isso ele precisava estar morto, mas como morto não fala, então ele se utilizou de uma linguagem óbvia que os vivos pudessem compreender.

Segue então a questão: (1) A trombeta de Deus não ressoou. (2) Os mortos em Cristo não ressuscitaram. (3) Portanto, Jesus não voltou. (4)  E a conclusão óbvia é: se Jesus não voltou o reino não foi estabelecido.

Outra questão importante se dá no fato de Paulo apesar de direcionar os seus ensinamentos para judeus distantes de Jerusalém no caso, Tessalônica entre outros, nos mostra que os “judeus estrangeiros” não provaram do desgosto físico que se abateu sobre os judeus de Jerusalém, portanto mesmo que forcemos a interpretação de que a destruição de Jerusalém “foi a volta de Jesus” todos os judeus dispersos inclusive os gentios não viram os juízos de Deus.

E porque não viram o juízo de Deus? Pelo simples fato de o juízo de Deus ter sido local, direcionado a um povo, e Deus se valeu das mão humanas(os romanos) e não uma ação direta (estabelecimento do reino). E os seguidores de Cristo distinguiam isso claramente, 1ª Ts. 2.14-16 (Tanto é assim, irmãos, que vos tornastes imitadores das igrejas de Deus existentes na Judéia em Cristo Jesus; porque também padecestes, da parte dos vossos patrícios, as mesmas coisas que eles, por sua vez sofreram dos judeus, os quais não somente mataram o Senhor Jesus e os profetas, como também nos perseguiram, e não agradam a Deus, e são adversários de todos os homens, a ponto de nos impedirem de falar aos gentios para que estes sejam salvos, a fim de irem enchendo sempre a medida de seus pecados. A ira, porém, sobreveio contra eles, definitivamente.)

Observe que apesar de dizer que o juízo estava se abatendo sobre os incrédulos judeus de Jerusalém nada disse a respeito do reino de Deus ser estabelecido. Portanto os discípulos fizeram uma clara distinção entre juízo de Deus sobre uma nação e o retorno de Jesus. 1ª Pe. 4.7 (Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações.)

Acreditam os preteristas que este verso reforça a sua causa, no entanto o fato de Pedro ter dito que o fim de todas as coisas estava próximo e isso nos seus dias, não significa necessariamente que Jesus tenha voltado nos seus dias. A julgar pelo contexto o fim de todas as coisas bem poderia ser todas as coisas em Jerusalém, sim lógico, fato é que todas as coisas permanecem.

Apesar de ter sido destruída mesmo Jerusalém ainda permanece, isso significa que não foi um fim escatológico. A palavra eggizo que é traduzida para próximo encontrada no verso acima não quer dizer algo iminente, antes significa aproximar-se, juntar uma coisa a outra, chegar perto.

No final do capítulo 4 mais precisamente no verso 17 Pedro diz que a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada, lógico isso nos seus dias. (Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?) Percebe-se claramente uma distinção entre Juízo pela casa de Deus ou Jerusalém e seu templo e volta de Jesus em poder e glória, são acontecimentos distintos, em épocas distintas.

Evandro.