A bíblia
é clara em dizer que os seguidores de Jesus acreditavam que o seu retorno seria
em breve. At. 1.6 (Aqueles, pois, que
se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste
tempo o reino a Israel?) Observa-se no entanto que Jesus não tentou refutar tal pensamento, antes, não precisou uma data, não disse que o reino visível de Deus estava longe nem
perto. At. 1.7 (E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai
estabeleceu pelo seu próprio poder.)
Sendo assim, acredito no fato de que os discípulos
acreditavam e ensinavam sobre o iminente retorno de Jesus Cristo, acreditar que
eles esperavam o reino de Deus para um futuro distante, algo com dois mil anos
ou mais não faz sentido. O pensamento da breve volta de Jesus faz parte de
qualquer seguidor comprometido com o retorno de Cristo, ou seja, acreditar que
em sua época ou em um período breve posterior Jesus voltará, não há nada de
errado nisso, no entanto isso não garante que Jesus retornará naquele período.
Algo que não podemos deixar passar despercebido é o fato
de que todos os seguidores de Jesus aguardavam o reino de Deus, porém eles
aguardavam um reino visível onde o próprio Cristo iria reinar, acreditar que
Jesus estabeleceu o reino de Deus usando para isso o império romano é um tanto
temerário. Tal pensamento serve somente para coadunar a ideia e o ensinamento de que os
discípulos disseram que a volta de Jesus era iminente e que o tempo estava
próximo e etc.
Pois bem, segue então as premissas e sua conclusão: (1)
Jesus voltará para estabelecer o reino. (2) O reino não foi estabelecido. (3)
Logo, Jesus não voltou.
Se já no primeiro século era chegado o reino de Deus
não podemos entender como o reino de Deus foi estabelecido sem o retorno de
Jesus, mesmo porque o reino o qual esperavam os discípulos era um reino físico
que passaria de nação para nação e consequentemente encheria a terra.
A crença judaica do reino de Deus é baseada no seu
estabelecimento literal sobre a terra, Dn.
7.27 (O reino, e o domínio, e a
majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do
Altíssimo; o seu reino será reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe
obedecerão.) Os primeiros seguidores no NT. Mantiveram a crença e para eles
esse reino seria estabelecido a qualquer momento por Jesus.
Segundo o NT. precisamos distinguir a crença dos
discípulos na vinda de Cristo e o estabelecimento do reino, de um juízo
iminente para os judeus daqueles dias. O preterismo afirma que o reino de Deus
foi estabelecido quando os romanos destruíram Jerusalém no ano 70 dC. Mas, se
fizermos uma analise até mesmo superficial de algumas passagens no NT. Veremos
uma tremenda distinção entre retorno de Jesus e estabelecimento do reino de
Deus e o juízo sobre os incrédulos judeus daqueles dias.
1ª Ts. 1.10 (E para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre
os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura.) É
desnecessário eu dizer que as cartas tinham como primazia a igreja a qual era
dedicada, portanto 1ª e 2ª Tessalonicenses foram direcionadas para as igrejas
daquela região. No verso acima descrito Paulo estava querendo dizer o que
realmente? Acredito piamente que o seu foco era o ensinamento da vinda literal
de Jesus.
1ª Ts. 4.14-17 (Pois, se cremos que Jesus
morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua
companhia, os que dormem. Ora, ainda vos declaramos, por palavra do
Senhor, isto nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo
algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra
de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos
céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os
que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o
encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor.)
Alegam o fato de Paulo ter dito que estaria vivo por
ocasião da volta de Jesus, e que encontraria com ele nos ares, isso é garantia
para afirmarem que “Jesus já voltou” em 70 dC. Acredito que a linguagem de Paulo
era de um homem sensato que aguardava o reino e que sobretudo estava vivo
naquele momento, pois de maneira nenhuma ele poderia dizer que seria
ressuscitado dos mortos, para isso ele precisava estar morto, mas como morto não
fala, então ele se utilizou de uma linguagem óbvia que os vivos pudessem
compreender.
Segue então a questão: (1) A trombeta de Deus não
ressoou. (2) Os mortos em Cristo não ressuscitaram. (3) Portanto, Jesus não
voltou. (4) E a conclusão óbvia é: se Jesus não voltou o reino não foi estabelecido.
Outra questão importante se dá no fato de Paulo apesar de
direcionar os seus ensinamentos para judeus distantes de Jerusalém no caso,
Tessalônica entre outros, nos mostra que os “judeus estrangeiros” não provaram
do desgosto físico que se abateu sobre os judeus de Jerusalém, portanto mesmo
que forcemos a interpretação de que a destruição de Jerusalém “foi a volta de
Jesus” todos os judeus dispersos inclusive os gentios não viram os juízos de
Deus.
E porque não viram o juízo de Deus? Pelo simples fato de
o juízo de Deus ter sido local, direcionado a um povo, e Deus se valeu das mão
humanas(os romanos) e não uma ação direta (estabelecimento do reino). E os
seguidores de Cristo distinguiam isso claramente, 1ª Ts. 2.14-16 (Tanto é assim,
irmãos, que vos tornastes imitadores das igrejas de Deus existentes na Judéia
em Cristo Jesus; porque também padecestes, da parte dos vossos patrícios, as
mesmas coisas que eles, por sua vez sofreram dos judeus, os quais não
somente mataram o Senhor Jesus e os profetas, como também nos perseguiram, e
não agradam a Deus, e são adversários de todos os homens, a ponto de nos
impedirem de falar aos gentios para que estes sejam salvos, a fim de irem
enchendo sempre a medida de seus pecados. A ira, porém, sobreveio contra eles,
definitivamente.)
Observe que apesar de dizer que o juízo estava se abatendo
sobre os incrédulos judeus de Jerusalém nada disse a respeito do reino de Deus
ser estabelecido. Portanto os discípulos fizeram uma clara distinção entre
juízo de Deus sobre uma nação e o retorno de Jesus. 1ª Pe. 4.7 (Ora, o fim de
todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das
vossas orações.)
Acreditam os preteristas que este verso reforça a sua
causa, no entanto o fato de Pedro ter dito que o fim de todas as coisas estava
próximo e isso nos seus dias, não significa necessariamente que Jesus tenha
voltado nos seus dias. A julgar pelo contexto o fim de todas as coisas bem
poderia ser todas as coisas em Jerusalém, sim lógico, fato é que todas as
coisas permanecem.
Apesar de ter sido destruída mesmo Jerusalém ainda
permanece, isso significa que não foi um fim escatológico. A palavra eggizo que
é traduzida para próximo encontrada no verso acima não quer dizer algo
iminente, antes significa aproximar-se, juntar uma coisa a outra, chegar perto.
No final
do capítulo 4 mais precisamente no verso 17 Pedro diz que a ocasião de começar
o juízo pela casa de Deus é chegada, lógico isso nos seus dias. (Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é
chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não
obedecem ao evangelho de Deus?) Percebe-se claramente uma distinção entre Juízo pela casa
de Deus ou Jerusalém e seu templo e volta de Jesus em poder e glória, são acontecimentos
distintos, em épocas distintas.
Evandro.