sábado, 2 de abril de 2016

Qual o modelo de ceia se aproxima mais da bíblia?

Como alguém que acredita no evangelho não deixo de participar da santa ceia, tento seguir a ordem do mestre. Lc. 22.19E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim”.  (Grifo meu) Assim como várias doutrinas cristãs as quais cremos foram desenvolvidas ao longo dos séculos o mesmo podemos perceber acerca da santa ceia. Mediante isso fiquei pensando, qual ensinamento acerca da ceia do Senhor se aproxima mais do ensinamento bíblico? Este pensamento veio a mente com dois intuitos, (1) me aproximar mais daquele que se aproxima do modelo bíblico e (2) rejeitar por inteiro aquilo que não tem apoio da mesma.  

Bem, podemos dizer que quatro são as concepções acerca da Ceia do Senhor dominantes no meio cristão e são elas: transubstanciação, consubstanciação, presença espiritual e memorial. Analisaremos as quatro questões expostas e veremos qual delas se aproxima mais do modelo bíblico. No entanto esta postagem irá tratar apenas da transubstanciação quanto aos outros modelos tentarei apresentar em outra postagem. Mt. 26.26 Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo.”

(1) Transubstanciação: Transubstanciação é a conjunção de duas palavras latinas: trans (além) e (substantia), e significa a mudança da substância do pão e do vinho na substância do Corpo e sangue de Jesus Cristo no ato da consagração. A doutrina da transubstanciação é defendida pela Igreja Católica Romana, sendo um dos temas centrais de sua teologia e prática. De acordo com essa visão, a ceia deve ser ministrada ao povo num só elemento, a hóstia, nome dado a um pequeno pão sem fermento, de formato arredondado. Esse elemento, dizem, após ser consagrado pelo sacerdote ministrante passa por uma transformação em sua substância (daí o termo transubstanciação), tornando-se, literalmente, carne, sangue de Cristo.

Os católicos entendem que essa transformação não é visível porque ocorre apenas na substância do pão e não na matéria. Assim, conforme entendem, o elemento eucarístico, ainda que apresente em sua forma e aparência os atributos do pão, é, na verdade, em sua essência, carne humana! Uma das implicações da doutrina da transubstanciação é que sempre que a eucaristia é celebrada no culto católico (e isso acontece em todas as missas), o sacrifício de Cristo se repete.

Portanto, se várias missas forem realizadas num só domingo numa mesma catedral, naquele dia o sacrifício de Cristo se repetirá ali várias vezes, o mesmo ocorrendo em outras igrejas romanistas ao redor do mundo. É essa suposta repetição contínua do sacrifício do Senhor que dá o motivo pelo qual as igrejas católicas celebram sua ceia num altar e não numa mesa. A doutrina da transubstanciação também explica porque os padres, pelo menos há alguns anos, orientavam os fiéis a não morder a hóstia, mas sim deixá-la dissolver-se na boca.

Essa era uma forma de tentar infundir nas pessoas incultas um entendimento maior acerca do suposto mistério presente no “corpo eucarístico de Cristo”. Essa doutrina é ainda o fundamento pelo qual os sacerdotes católicos tendem a fazer o “sepultamento” de hóstias consagradas que sobrou depois de encerrada a missa. No seu entender, jogá-las fora seria sacrilégio cometido contra o próprio corpo de Cristo e armazená-las não seria o modo digno de lidar com um cadáver tão santo.

Os católicos acreditam que é somente graças ao milagre da transubstanciação que o homem pode efetivamente conhecer Cristo como o pão da vida e se alimentar dele para viver eternamente, para isso valem-se dos seguintes versos. Jo 6.48 e 54. Eu sou o pão da vida”. “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. Segundo eles, comer a hóstia consagrada ajudará o fiel a conquistar a salvação, sendo imensos os benefícios espirituais que emanam da eucaristia.

Evidentemente, não há como sustentar essa concepção da ceia, nem lógica nem tampouco biblicamente. Primeiro porque não faz sentido propor a hipótese de uma mudança de substância sem uma consequente alteração na matéria, pois os acidentes de determinada substância pertencem necessariamente a ela. Assim, não há como um pedaço de pão deixar de ser pão e continuar com as células do pão. Negar isso seria contrariar as mais elementares noções de lógica.

O absurdo dessa concepção também é percebido quando se leva em conta a própria história da instituição da ceia. Ora, é óbvio que, quando o Senhor disse “isto é o meu corpo”, não estava segurando um pedaço dele próprio. Com efeito, naquele momento o pão estava nas mãos de Jesus, não era parte do seu corpo.

A doutrina da transubstanciação, com todos os seus desdobramentos, também não leva em conta ensinos fundamentais da Palavra de Deus. As Escrituras ensinam que o sacrifício de Cristo ocorreu uma vez por todas, não havendo necessidade de que se repita Rm 6.9-10 Sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus”.

Hb 7.27 “Que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu”. Ademais, quando Jesus afirmou ser o pão da vida, sendo necessário comer o seu corpo e beber o seu sangue para ser salvo, não pretendia com isso ensinar algum tipo de antropofagia ou canibalismo, como entenderam seus ouvintes naquela ocasião, Jo 6.52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne?

Na verdade Jesus estava figuradamente ensinando aos seus seguidores que aquilo que ele oferecia era melhor do que o maná distribuído na peregrinação de Israel. Jo. 6.35 Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede”.  O seu discurso registrado em João 6 deve ser entendido à luz do verso acima. Esse versículo revela a que Jesus se referiu quando fez alusão aos atos de comer sua carne e beber seu sangue. De fato, João 6.35 apresenta Jesus como o Pão da Vida, destacando que quem vai a ele se alimenta, e quem crê nele mata a sede. Logo, comer a carne de Cristo é buscá-lo; enquanto beber seu sangue é crer nele.  

Alimenta-se, pois, de Cristo, o indivíduo que o busca e deposita nele sua confiança. Este faz de Cristo sua comida e sua bebida, jamais tendo fome ou sede outra vez, lógico dito isto de uma forma espiritual. Fica claro que o ensinamento de ceia apresentado como transubstanciação não se aproxima do modelo bíblico, portanto na minha concepção fica rejeitado.

Evandro.