Começo este assunto com uma pergunta que talvez
para um cristão soe até deselegante, a pergunta é a seguinte: somos ou não potenciais
idólatras? Acredito que até o final do assunto teremos a resposta. A bíblia nos
dois testamentos condena totalmente a idolatria, porém nos dias bíblicos era
fácil detectar um idólatra, ou seja, um idólatra era aquele que fazia e se
prostrava diante de um ídolo. Is.
44.14-15 “Um
homem corta para si cedros, toma um cipreste ou um carvalho, fazendo escolha
entre as árvores do bosque; planta um pinheiro, e a chuva o faz crescer. Tais
árvores servem ao homem para queimar; com parte de sua madeira se aquenta e
coze o pão; e também faz um deus e se prostra diante dele, esculpe uma imagem e
se ajoelha diante dela”.
O conceito de idolatria na atualidade deve seguir
o mesmo padrão estipulado pela bíblia, no entanto a sua abrangência é
infinitamente maior. Mediante o ensinamento da bíblia podemos definir o que era
idolatria e assim ter uma base para poder interpretar a idolatria dos dias
atuais. Um pouco da idolatria nos dias do AT. Gn. 31.19 “Tendo ido Labão fazer a tosquia das ovelhas,
Raquel furtou os ídolos do lar que pertenciam a seu pai”. Ídolos do lar são algumas espécies de imagens em
que o povo da época fazia (e faz) o seu culto doméstico.
Ex. 32. 3-4
“Então,
todo o povo tirou das orelhas as argolas e as trouxe a Arão. Este, recebendo-as
das suas mãos, trabalhou o ouro com buril e fez dele um bezerro fundido. Então,
disseram: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do
Egito”. Para os judeus daqueles dias não existia a possibilidade
de se conceber a Deus, a menos que fosse por meio de uma imagem de escultura.
Tanto é assim que eles disseram: “São estes, ó Israel, os teus deuses, que te
tiraram da terra do Egito”.
Sendo assim nos dias antigos e mesmo nos dias
atuais a idolatria era e é confiar aos ídolos aquilo que só é devido a Deus, em
outras palavras o ídolo não serve como meio intermediário que represente ou intermedeie entre os homens e Deus,
ou seja, as invenções da mente humana não podem nem mesmo tentar reproduzir a
Deus, Dt. 4.15 “Guardai, pois,
cuidadosamente, a vossa alma, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o Senhor, vosso Deus, vos falou em Horebe,
no meio do fogo”.
Para o povo bíblico idolatria era se envolver com
os ídolos, a despeito de acharem que o ídolo era a melhor maneira de descrever
a Deus. E nos dias atuais, como se dá a idolatria? Naturalmente ainda nos dias
de hoje as pessoas que se servem dos ídolos os quais pensam representar a Deus
ou mesmo os ídolos que servem como seu intermediário, dentro do ensinamento
bíblico é acusado de idolatria. Porém, mediante a bíblia o conceito de
idolatria para os dias atuais é um tanto mais abrangente.
E de uma forma mais abrangente, como se dá a
idolatria? Vários são os ramos da idolatria, por exemplo, no mundo capitalista em que
vivemos podemos dizer seguramente que o dinheiro é um ídolo bastante adorado.
Vale ressaltar aqui que o adorar não significa apenas ajoelhar emocionalmente
ou sem nenhuma razão para quem quer que seja. Naturalmente a adoração prestada
a Deus é racional espiritual e isenta de egoísmo, já a adoração ao dinheiro é
uma adoração ao inverso, ela é mundana, desprovida de espiritualidade e
egoísta.
Muitos poderão dizer: - Quer dizer que você não
corre atrás do dinheiro? Na realidade em um mundo capitalista quem não tem
dinheiro não pode sobreviver. O que estou dizendo não é o fato de se preocupar em
ter ou não dinheiro, mas o que fazem para ter o dinheiro, esta é a questão.
Inúmeras são as formas ilícitas as quais temos presenciado em que as pessoas se
submetem para poder adquirir dinheiro e manter um status, desde um pequeno
roubo até um terrível assassinato, se esses métodos não são idolatria o que
mais será?
Além da famigerada perseguição ao dinheiro para
satisfazer ao ídolo chamado ego os ramos que abrangem a idolatria são variados, todos os
dias nos deparamos com tentações as quais nos instigam a criar novos ídolos, ídolos
esses nos quais muitas das vezes depositamos nossa esperança. Esta esperança e
confiança, em qualquer outra coisa, que não Deus, é a essência da idolatria. Em
termos bíblicos um ídolo é qualquer coisa que toma o lugar de Deus,
principalmente aquilo em que empregamos o nosso coração. Vale ressaltar também
que diferentemente da interpretação popular empregar o coração não é só
simplesmente está cativo a algo, mas empregar o tempo as forças e os recursos.
Lc. 12.29 “Não andeis, pois, a indagar
o que haveis de comer ou beber e não vos entregueis a inquietações”. Mt. 6.24 “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um
e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a
Deus e às riquezas”. Podemos atestar enfaticamente que Toda sorte de coisas são
ídolos em potencial, claro que isso depende das nossas atitudes e ações em
relação a elas. Em muitos casos o idólatra não negará a existência de Deus. E
mais, a idolatria pode ser um afeto excessivo a alguma coisa que configura algo
perfeitamente lícito. Um ídolo pode ser um objeto físico, uma propriedade, uma
pessoa, uma atividade, uma posição, uma instituição, uma esperança, uma imagem,
uma ideia, um prazer, um herói, qualquer coisa que possa substituir o Deus
criador.
A bíblia nos dá duas diretrizes as quais devemos
sempre estar atentos afim de não sairmos do caminho que leva a vida eterna a
primeira dela se encontra em 1ª Jo. 5.4
“porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que
vence o mundo: a nossa fé”. Vencer o mundo, esta é uma ordem dada por
Jesus e seus discípulos, porém temos percebido que este mandamento ou não é
obedecido ou é interpretado de forma inversa ao ensinamento de Cristo. Na
mentalidade cristã vencer o mundo não é sobrepujá-lo, ao contrário é evitá-lo, Rm. 12.2 “ E não
vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus”.
Conformar com este século significa estar
padronizado com o modelo mundano. Existem aqueles os quais conseguem ainda que
parcialmente se separar das influências mundanas, no entanto a maior batalha
encontrada na vida dos cristãos é a segunda diretriz mencionada logo acima, são
as obras da carne, Ef. 5.5 “Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou
impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus”. Todas essas práticas
estão associadas ao deus ego o qual é de certa forma “cultuado”.
Assim sendo todos nós em maior ou menor grau
somos idólatras. Outro exemplo de ídolo é o orgulho. Qual deve ser a atitude de
uma pessoa quando essa é corrigida, ou aconselhada? Isto é claro para o seu
próprio bem. Em outras palavras se alguém leu este assunto e desaprovou, não
gostou achando que ela não se encaixa em tal definição, creia em algo muito
real, o seu ego ou o ídolo foi ferido. Naturalmente tal pessoa deveria ser
grata, mas a realidade humana tem demonstrado um número muito pequeno daqueles
que aceitam uma advertência como sendo uma repreensão construtiva, a maioria fica
irados raivosos isso só demonstra que o ídolo foi ferido, Rm. 4.15 “Porque a
lei suscita a ira; mas onde não há lei, também não há transgressão”.
Sabendo que somos idólatras por natureza qual
deve ser a nossa atitude em relação a Deus, visto que lhe somos devedores
quando as suas instruções e salvação? Ou seja, vemos nas escrituras que o
idólatra não herdará o reino de Deus e idolatria aqui não se restringe apenas
ao ídolo mudo mais todas as suas formas e ramificações, Cl. 3.5 “Fazei, pois, morrer
a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo
maligno e a avareza, que é idolatria”.
Muitos podem argumentar dizendo que Paulo está falando que à
avareza é idolatria, pode ser, mas se o amor ao dinheiro é idolatria o que
dizer de todos os itens mencionados no verso acima, todos eles escravizam e todos
eles trazem satisfação para o ego sendo assim todos os itens mencionados se
transforma em um ídolo. Isso só nos faz meditar que não podemos censurar como
fazem os evangélicos em relação aos católicos romanos, para os evangélicos só
os católicos são idólatras, ledo engano, quantos evangélicos temos presenciado
que são tremendamente idólatras. Claro está que não estou concordando com a
atitude dos católicos de se curvar perante uma imagem.
N a questão religiosa os católicos estão sendo restritos na adoração aos ídolos, ao passo
que os evangélicos estão sendo abrangentes em sua idolatria. Naturalmente eles
não estão sozinhos neste erro, Rm. 3.10 “Como está escrito: Não há justo, nem um
sequer”. E quanto o que fazer em meio a esta situação
aparentemente normal, mas degradante a vida espiritual? Acredito que o primeiro
e principal fato é reconhecer que não estamos em uma posição de privilégio com
relação aquilo que nos é requisitado pela bíblia, segundo, aceitar o fato de
sermos falhos e pecadores, não pensar como os mundanos os quais agem assim
mesmo naturalmente.
Evandro.