O
presente artigo tem como objetivo em fazer uma pequena análise de uma questão
doutrinária pouco difundida no meio religioso cristão. Refiro-me a lei de Deus.
Alguns seguimentos doutrinários ensinam que após o NT. Não estamos mais
sujeitos a lei, para este seguimento religioso o fim da lei é Cristo, no
entanto, do outro lado outros partidários contestam veementemente, alegando que
tal ensinamento é um anti-nomismo, ou seja, declaração daqueles que são
contrários a lei.
Assim
sendo, estes últimos alegam que a lei deve ser observada num todo, ou melhor,
naquilo que é descrito nos dez mandamentos. Desta forma, como um contra ataque
aqueles que são tidos como sendo contrários a lei atacam os seus oponentes,
dizendo que estes são legalistas, e assim vão, injuriando e sendo injuriados.
Neste assunto quero destacar que ambos os lados defendem erros e acertos. Rm. 10. 4 “Porque o fim da lei é Cristo, para
justiça de todo aquele que crê.”
Neste
verso percebemos que os ditos anti-nomistas estão com a razão, ou se aceita o
que Paulo escreveu ou repudia-o de vez, como fizerem os judeus, para os judeus,
Paulo foi um traidor, At. 21. 24 “Toma-os,
purifica-te com eles e faze a despesa necessária para que raspem a cabeça; e
saberão todos que não é verdade o que se diz a teu respeito; e que, pelo
contrário, andas também, tu mesmo, guardando a lei.” No meio judaico estava sendo
proclamado que Paulo estava quebrantando a lei, e aqui posso assegurar que
tanto os judeus, quanto aqueles que dizem que não mais existe lei estão equivocados.
Mas Paulo não disse que o fim da lei é Cristo? assim
sendo aqueles que são tidos por legalistas estão certos? Sim, Paulo disse
realmente que o fim da lei é Cristo, mas aqueles que defendem uma
perpetualidade da lei como um todo, ou melhor, aquela parte descrita nos dez
mandamentos como sendo necessária para se obter a salvação também estão
equivocados. O erro daqueles que querem a todo custo erradicar a lei de Deus se
encontra no fato de que o universo como um todo é regido por leis.
Com relação aos seres humanos não seria diferente, em um
reino os súditos que vivem sem lei naturalmente estão sem rei, ou se estão
debaixo da regência de um rei, logo são considerados como subversivos e
anarquistas, neste sentido podemos observar que a lei existe, Rm. 3. 5- 6 “Mas, se a nossa injustiça traz a lume a justiça de Deus, que diremos?
Porventura, será Deus injusto por aplicar a sua ira? (Falo como homem.) Certo
que não. Do contrário, como julgará Deus o mundo?”
O juízo de Deus é uma realidade demonstrada constantemente
pela bíblia, mas se não existe nenhuma lei, como julgará Deus o mundo? Devemos
entender o contexto em que a bíblia se aplica, por exemplo: no mundo judaico a
lei como um todo (não em partes) ou seja, dividida, era o padrão para definir o
certo do errado, era o aferidor para medir o caminho dos judeus, para aqueles a
qual foram dadas a promessa da Canaã, no oriente médio, a lei era o padrão que
permitia viver ou não viver.
Para os cristão a lei que define o caminho de vida eterna
é um caráter renovado, é ser contrário a tudo aquilo que é definido como as
obras da carne, assim sendo para Paulo, tal pessoa só conseguirá obter tal
transformação se estiver unido com Cristo, por isso para ele o fim da lei é
Cristo, ou seja, não estamos mais dependentes da lei, até por que a lei foi
administrada para um período que se deu do êxodo até Cristo, era um sistema
estabelecido para uma época para reger um povo e um regime.
Mas, segundo a teologia paulina o fim da lei é Cristo, no
sentido de estarmos unidos com Ele, em outras palavras, a justiça do homem
nunca procedeu da lei, mas de Cristo, Gl.
2. 21 “Não anulo a graça de Deus;
pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão.” Hb. 7. 19
“ (pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma),
e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a
Deus.” O intuito de Paulo não foi falar mal da lei,
nem mesmo dizer que ela não existe.
O que Ele disse na verdade, é que a lei não é mais o
método utilizado para guiar o povo de Deus, no entanto, por outro lado a lei
existe. Neste sentido tanto aqueles que defendem uma perpetuidade da lei ou ao
menos alguma parte dela, e mesmo aqueles, do meio cristão os quais asseguram
que a lei não mais existe, ambos estão equivocados. Para aqueles que estão
unidos com Cristo, o espírito santo os orienta, revelando e dizendo o caminho a
seguir.
Já a lei será a norma pela qual Deus utilizará para
julgar o mundo, 1ª Tm. 1. 8-10 “Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém
dela se utiliza de modo legítimo, tendo em vista que não se promulga lei para
quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores,
ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas impuros, sodomitas,
raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã
doutrina.
Assim sendo, isso seria o mesmo que dizer que Deus
condenará aqueles que não tem a lei ou melhor os dez mandamentos como norma de
conduta? Para os que estão em Cristo não, 2ª
Co. 5. 15 “E ele morreu por todos,
para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por
eles morreu e ressuscitou.” Só assim a lei deixa de existir, se alguém não
está unido com Cristo logo será julgado pela lei, mas que lei seria essa, seria
transgredir o sábado, por exemplo? Não, a lei do evangelho não está vinculada
com cerimônias, mais sim com o caráter.
Outro fato já destacado é que a lei não deve ser
restringida ou mesmo dividida, se alguém diz observar a lei deve viver para
observar toda a lei, Gl. 3. 10 “Todos quantos, pois, são das obras da lei
estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que
não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las.
Percebemos nas cartas de Paulo uma teologia espiritual, muito além daquela
ensinada pelos mestres dos seus dias, naturalmente só foi possível ele
visualizar e mesmo informar tal acontecimento, através do espírito santo.
Por isso Paulo não entra em contradição, Ele por um lado
defende a validade da lei, Rm. 3. 31
“Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de
maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei.” Faz isso
sabendo que ela como um todo incluindo a lei do evangelho será a norma pela
qual Deus irá julgar aqueles que não estão em Cristo; e diz também que agora
estamos sem lei, Rm. 3. 21 “Mas agora, sem
lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas.
Faz isso confirmando que o fim da lei só se dá para
aqueles que estão unidos com Cristo, ou seja, os que estão em Cristo segundo o
ensinamento do evangelho deveria ser nova criatura, e nova criatura não vive na
prática do pecado, logo, se não vive na prática do pecado, não pode ser
condenado pela lei.