quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Daniel 7 e 8 não prova o surgimento do adventismo.

A igreja adventista do 7º dia é famosa por promover estudos bíblicos e dentre eles os estudos que falam sobre profecias, quantos leigos não ficaram deslumbrados com as palestras sobre Daniel e apocalipse? Quantos não foram convertidos ao adventismo por participar de uma semana de profecia? (nome dado pelos adventistas quando acontece uma semana de oração com estudos sobre profecias.)

Geralmente nestas semanas proféticas é dado ênfase sobre o livro de Daniel, o objetivo principal é doutrinar os leigos visitantes, com o intuito em esclarecer a "verdade" oculta e com isso converte-los ao adventismo; geralmente os estudos abrangem mais os livros proféticos, mais especificamente o livro do profeta Daniel capítulos sete e oito, e nesse estudo é enfatizado que ambos os capítulos, o sete e o oito representam ou simbolizam o poder de Roma, o capítulo oito a fase imperial ou como dizem os adventistas a fase pagã e o capítulo sete representa a fase papal ou a cristã.

Qual é o objetivo principal dessas semanas de profecias? O principal mesmo é fortalecer a denominação internamente, dizendo com isso tanto para os membros comungantes quanto ao leigos visitantes que a denominação é a única verdadeira, àquela que possui a luz da revelação dada por Deus e que fora dela só existe a condenação no inferno. Mediante a isso, o que devemos fazer? Somente ouvir acreditar e dar-se por satisfeito? Ou pesquisar, principalmente em cima  daqueles versos utilizados, os mesmos que baseiam sua tese?

Naturalmente devemos pesquisar e caso ela esteja com a razão dar-nos-emos por satisfeitos, se não, cai o exclusivismo. Como dito a cima, Para os adventistas, tanto Daniel capítulo sete quanto o capítulo oito representam Roma, para eles, o capítulo (8) representa a fase imperial e o outro (7) a papal; e como eles interpretam isso? Baseados nos chifres pequenos encontrados em ambos os capítulos. Será que tal interpretação é procedente? Vejamos:

Dn. 7. 7-8 "Depois disto eu continuei olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível e espantoso, e muito forte, o qual tinha dentes grandes de ferro; ele devorava e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele, e tinha dez chifres. Estando eu a considerar os chifres, eis que, entre eles subiu outro chifre pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava grandes coisas".

Percebemos por estes versos encontrados no capítulo sete, que este chifre pequeno está associado a besta a qual representa o quarto império, tanto que nas visões de Daniel no verso sete é dito o "quarto animal", onde realmente a maioria dos estudiosos acreditam ser uma representação do império romano. E o chifre do capítulo oito? Estaria ele representando um rei ou um reino oriundo do quarto império? Relembrando também que animal e chifres em profecias e isso segundo a bíblia representa reinos e reis, Dn. 7. 23-24 " Disse assim: O quarto animal será o quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços. E, quanto aos dez chifres, daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis".

Mas, voltando a pergunta anterior, o chifre pequeno do capítulo oito, também procede do quarto animal? Não! Dn. 8. 8-9 "E o bode se engrandeceu sobremaneira; mas, estando na sua maior força, aquele grande chifre foi quebrado; e no seu lugar subiram outros quatro também insignes, para os quatro ventos do céu. E de um deles saiu um chifre muito pequeno, o qual cresceu muito para o sul, e para o oriente, e para a terra formosa".

Quem ou o que representa o bode do capítulo oito? Dn. 8. 20-21 "Aquele carneiro que viste com dois chifres são os reis da Média e da Pérsia, Mas o bode peludo é o rei da Grécia; e o grande chifre que tinha entre os olhos é o primeiro rei". Percebe-se claramente uma distinção, este chifre pequeno o qual irá profanar santuário surgiu não do quarto império, mas sim do seu antecessor, isto é, do império grego. 

É dito também que o chifre pequeno do capítulo sete surge da cabeça de um animal, já o chifre pequeno do capítulo oito surge de um chifre já existente, percebemos ainda que o chifre pequeno do capítulo sete aparece em meio aos 10 chifres já existentes, e este chifre não surgiu da cabeça do bode. Já o chifre pequeno do capítulo oito surge de um dos quatro chifres, da cabeça do bode, não do animal terrível do capítulo sete.

Assim sendo, vemos as suas diferenças, o do capítulo sete surge de uma besta, arranca três chifres durante o seu surgimento, é diferente dos outros dez chifres, indicando com isso que ele seria um poder novo e diferente, Dn. 7. 20 "E também a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça, e do outro que subiu, e diante do qual caíram três, isto é, daquele que tinha olhos, e uma boca que falava grandes coisas, e cujo parecer era mais robusto do que o dos seus companheiros".

Reparem que o chifre pequeno de Daniel 7. 20 é mais forte ou robusto que os seus companheiros simbolizados pelos dez chifres. O seu campo de influência é a totalidade do quarto império, pois surge da cabeça da besta e se converte no chifre dominante entre os outros dez chifres. Se levanta contra “o Altíssimo” e os “santos do Altíssimo”. Em primeira instância estes são os santos de Deus através de todo o quarto império. Estas são apenas algumas características do chifre pequeno de Daniel sete.

Iremos comparar as características dos chifres e veremos que são plenamente distintos vimos em Daniel 8. 9 que o chifre pequeno surgiu de um dos quatros chifres da cabeça do bode, diferente do surgimento do outro chifre do capítulo sete, que surgiu da cabeça da besta, assim sendo este chifre é um chifre que nasce de um chifre, e também não arranca nenhum chifre durante seu surgimento não diz que este chifre seja novo, ou diferente em alguma maneira.

As palavras aramaicas para chifre pequeno nos capítulos sete e oito se traduzem precisamente como “outro chifre, um pequeno”, já as palavras hebraicas para chifre pequeno nos capítulos sete e oito se traduzem precisamente como “um chifre de pequeno tamanho; ainda sobre o chifre do capítulo oito nos é dito que ele é um chifre que sai de um chifre e um “chifre de pequeno tamanho” significando com isso que é um tanto insignificante quando se compara com os quatro “chifres notáveis” e o primeiro chifre do bode.

E é dito ainda que ele pertence somente a uma das quatro divisões do poder do bode. Sua atenção se restringe principalmente a uma província menor de uma divisão do império do bode (Grécia) Dn. 8. 9 "E de um deles saiu um chifre muito pequeno, o qual cresceu muito para o sul, e para o oriente, e para a terra formosa". Ou seja, a “terra gloriosa” que é a Palestina. E a sua malevolência é dirigida contra o povo judeu, ao sumo sacerdote, os sacrifícios, e o santuário, o próximo verso nos diz exatamente isso.

Dn. 8. 10 "E se engrandeceu até contra o exército do céu; e a alguns do exército, e das estrelas, lançou por terra, e os pisou". Dn. 8. 23 "Mas, no fim do seu reinado, quando acabarem os prevaricadores, se levantará um rei, feroz de semblante, e será entendido em adivinhações". E falando ainda sobre este chifre que resolveu investir contra Jerusalém é nos dito que a palavra rei para este verso é Melek que quer dizer rei e não malkuw que quer dizer reino, portanto o verso 23 está tratando de uma pessoa, um rei e não do império romano e sua extensão. 

Dn. 12 "E um exército foi dado contra o sacrifício contínuo, por causa da transgressão; e lançou a verdade por terra, e o fez, e prosperou". O príncipe do exército é Jesus? De maneira nenhuma o verso está dizendo isso. A palavra príncipe é SAR e é o mesmo que, governante, líder, chefe, comandante, oficial, capitão, líderes, príncipes (referindo-se a ofícios religiosos). O sacrifício diário foi tirado por este rei por causa das transgressões, transgressões não dos cristãos como diz EGW, mais sim dos judeus dos dias de Daniel esta é a verdade.

Outro fato que joga por terra a interpretação adventista é a questão das tardes e manhãs, Dn. 8. 14 "Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado". A palavra tarde deste verso é ereb, é o mesmo que tarde, por do sol, e manhã boqer que quer dizer fim da noite, nascer do sol. O verso está dizendo literalmente 2300 tardes e manhãs. Caso fosse 2300 dias a palavra deveria ser yowm que quer dizer dia. Outro fato bastante relevante e que contribui grandemente para jogar por terra a teoria adventista do santuário está no fato da purificação do santuário de Daniel 8. 14 nada tem a ver com a purificação de Levítico 16.

A palavra purificado de Daniel é tsadaq que quer dizer, ser justo, ser correto, ao passo que o verso de Levítico 16.33 que fala sobre a expiação é kaphar que é o mesmo que cobrir, purificar, fazer expiação, fazer reconciliação. Percebemos então que os versos são completamente diferentes, e nada tem a ver a purificação do santuário Levítico com as 2300 tardes e manhãs de Daniel 8. 14.

Assim sendo, duas questões importantes merecem ser destacadas: (1) a profanação do santuário não foi feito pelo chifre do capítulo sete, ou o chifre que surge do império romano, o chifre que profanou o santuário surgiu dos quatro chifres os quais descenderam da cabeça do bode, o qual segundo Daniel representa o império grego. (2) Para o adventismo a doutrina do santuário é a base que sustenta a coluna central da denominação, o problema é que esta base é extremamente frágil e essa fragilidade pode começar a ser entendida neste assunto.