terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O que é o espírito?

O que nos vem à mente quando ouvimos a palavra espírito? Qual a interpretação que aplicamos? Imaginamos uma força desencarnada se movendo, independente do corpo? No AT. Escrito em hebraico o original da palavra espírito é ruach e tem vários significados, encontramos: fôlego, vento, sopro, respiração, hálito e entendimento, relacionado aquilo que nos anima; e esta palavra, ruach se aplica tanto ao espírito dos homens, dos animais, e a Deus que é Espírito. O contexto do assunto relatado pela bíblia, é o que diferencia a sua aplicação.

Espírito do homem. Jó. 32. 8 “Na verdade, há um espírito no homem, e a inspiração do Todo-Poderoso os faz sábios.” nesse contexto o verso está falando sobre o entendimento a mente humana; Sl. 31. 5 “Nas tuas mãos encomendo o meu espírito; tu me remiste, Senhor, Deus da verdade.” O salmista diz o mesmo, podemos entender esse espírito como sendo a nossa realidade última, ou aquilo que realmente somos.

Os versos a seguir falam do espírito no mesmo sentido, ou seja, retrata aquilo que realmente somos, Sl. 146. 4 “Sai-lhes o espírito, e eles tornam para sua terra; naquele mesmo dia, perecem os seus pensamentos.” Ec. 12. 7 “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” Zc. 12. 1 “ Peso da palavra do Senhor sobre Israel. Fala o Senhor, o que estende o céu, e que funda a terra, e que forma o espírito do homem dentro dele.”

O interessante é que em todos os versos aparecem no original a palavra ruach, por exemplo: Jó 27. 3 “Em quanto em mim estiver a minha vida, e o sopro= (ruach) de Deus nos meus narizes.” Novamente Jó descreve a essência, a qual foi soprada por Deus, que segundo ele é o que dá vida ao corpo, comparar com Gn. 2. 7 “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.” Estes dois versos falam do espírito, no entanto, não pode ser considerado como um simples vento, ou oxigênio, é algo mais profundo ou espiritual.

Diferentemente dessa vez, Jó aplica a palavra ruach ou espírito no sentido de respiração, Jó 19. 17 “O meu hálito é intolerável à minha mulher, e pelo mau cheiro sou repugnante aos filhos de minha mãe.” O mesmo diz o salmista, Sl. 104. 29 “Se ocultas o rosto, eles se perturbam; se lhes cortas a respiração, morrem e voltam ao próprio pó.” Vemos então uma grande possibilidade para podermos empregar a palavra espírito. No original hebraico o espírito de Deus também é chamado de ruach, palavra esta que tem o mesmo significado, vento, sopro, hálito e respiração, vida.

Gn. 6. 3 “Então, disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem, porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos.” Jó comparou o espírito de Deus com o sopro e com a vida Jó. 34. 14-15 “Se Deus pensasse apenas em si mesmo e para si recolhesse o seu espírito e o seu sopro, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó.” Em outras ocasiões a palavra ruach não é traduzida como espírito, mas sim como sopro ou respiração de Deus Sl. 33. 6 “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles.”

Os animais também possuem ruach, (espírito) esta forma de traduzir está de acordo com o sentido original da palavra, Ec. 3. 19 “Porque o que sucede aos filhos dos homens sucede aos animais; o mesmo lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo fôlego de vida, e nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais; porque tudo é vaidade.” A palavra ruach aparece 379 vezes em 348 versos no AT. Em algumas traduções a palavra ruach é traduzida como mente ou animo. Nos próximos dois versos o tradutor entendeu que a palavra ruach foi utilizada originalmente num sentido amplo, abrangente, figurado, simbólico e, portanto, não deveria ser traduzida ao pé da letra como espírito, vento ou fôlego.

1ª Cr. 28. 12 “Também a planta de tudo quanto tinha em mente, com referência aos átrios da Casa do Senhor, e a todas as câmaras em redor, para os tesouros da Casa de Deus e para os tesouros das coisas consagradas.” Cr. 21. 16 “Despertou, pois, o Senhor contra Jeorão o ânimo dos filisteus e dos arábios que estão do lado dos etíopes.” As palavras mente e ânimo são uma tradução da palavra ruach ou espírito.

O mesmo ocorre no NT. O sentido amplo da palavra espírito, foi usado por Paulo ao transcrever um texto de Isaías. O apóstolo reconheceu que o espírito de Deus é de modo figurado a sua mente. Comparando a transcrição feita por Paulo com o verso original seremos capazes de verificar qual o conceito que o apostolo tinha a respeito do espírito de Deus. Vejamos os versos: Is. 40. 13 “Quem guiou o Espírito do Senhor? E que conselheiro o ensinou?” Rm. 11. 34 “Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro?

Paulo chamou de “mente” o que Isaías havia chamado de espírito. Ao reescrever o texto usando a palavra mente, Paulo deixa claro qual era a sua compreensão a respeito do espírito do era a própria mente do Senhor. Se não fosse essa a interpretação de Paulo, ele jamais teria reescrito o verso de Isaías da forma como fez. Concluímos que a palavra espírito em todas as suas aplicações, tanto do homem como dos animais e até mesmo o espírito de Deus é ruach, ou seja, fôlego, sopro, ar, vida e até mesmo a mente, e não uma entidade desencarnada como é ensinado no meio cristão e muito menos uma suposta terceira pessoa da trindade.

Já no NT. escrito originalmente em grego, o termo traduzido como espírito é pneuma. Esta palavra grega tem o mesmo significado de ruach no hebraico, ou seja, é sinônimo de espírito, fôlego, vento, sopro, ar, vida e mente. É da palavra pneuma que derivam algumas palavras da língua portuguesa, tais como pneu, pneumático, pneumonia, todas relacionadas a respiração ou ao ar. No novo testamento a palavra pneuma é aplicada para o espírito de Deus e também para o espírito do homem, . Rm. 8. 16 “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” (O mesmo pneuma testifica com o nosso pneuma...)

Sendo assim, podemos entender que o homem é formado do pó (corpo físico) mais espírito (fôlego de vida, algo incompreensível para nossa visão material podemos entender como sendo o nosso verdadeiro eu) que é proveniente de Deus, essa fusão resulta em uma alma vivente. Não podemos nos influenciar pelo conceito popular achando que o homem é uma pessoa e o seu espírito é outra pessoa, uma entidade independente que subsiste fora do corpo.

O pneuma (espírito, a nossa vida, é parte integrante do nosso ser. O mesmo ocorre com Deus, Deus é Espírito, não diz que Ele tem um Espírito, não diz que existe um outro ser Espírito formando uma trindade de Deus. Vale salientar também, que os manuscritos mais antigos do novo testamento foram escritos em um padrão baseado apenas em letras maiúsculas. Portanto, não havia distinção entre a letra maiúscula e minúscula, isso significa que a palavra espírito no original era escrito desta forma “ESPÍRITO” não importava se estava relacionando o homem, ou Deus, e ambas, era pneuma, ou seja, espírito, vento, fôlego sopro, ar, vida e mente.