segunda-feira, 19 de julho de 2010

O TESTE TEOLÓGICO

João, o Apóstolo, nos ensina a aplicar o teste teológico. Este teste é a medida de nossa própria compreensão da pessoa de Jesus. Quem é o verdadeiro Jesus? O teste é o seguinte:

1 João 4:2 - Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus.

2 João 7 - Porque {já} muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este {tal} é o enganador e o anticristo.

O que significa confessar que Jesus “veio em carne”? A expressão “veio em carne” não é uma expressão corrente em nossa língua. É uma expressão que indica SIMPLESMENTE que Jesus era um ser humano (de carne e ossos). Então este teste é vital para a nossa compreensão. Existem sistemas de teologia existentes em nosso tempo, que negam que Jesus veio como um ser humano, PLENAMENTE?

O leitor deve entender que não se trata apenas de uma “CONFISSÃO TEÓRICA” que Jesus é um ser humano, pois até mesmo os trinitarianos dizem que Jesus é UM SER HUMANO. Eles apenas complementam que além de ser homem Ele era Deus também. Definir corretamente a natureza de Cristo é essencial para nossa salvação. Se dissermos que Jesus é O Filho preexistente ou um anjo, ou qualquer outra coisa que não homem no sentido pleno da palavra, seremos anticristos, e destinados à destruição pela ira de Deus que será revelada. Este teste também mostra um reconhecimento de que Deus e Jesus são pessoas diferentes. As diferenças entre Jesus e Deus são os aspectos mais básicos de suas naturezas.

Os defensores da preexistência, por sua vez, aplicam esta mesma interpretação para dizer que Jesus “VEIO” em carne, o que na concepção deles significa que O Jesus preexistente (FILHO DE DEUS) quando chegou o tempo, tomou a forma humana, SE TORNOU EM CARNE, VINDO DO CÉU À TERRA. Desta forma esta confissão teórica sobre Jesus está também deturpada de seu sentido, pois ela está apoiada exclusivamente nas decisões “oficiais” do credo de calcedônia e não na BÍBLIA.

Jesus na definição dos credos é chamado de homem “no sentido genérico, mas não é um homem realmente”. Ele tem a natureza humana, mas não é uma pessoa humana. A pessoa em si é a segunda pessoa da Santíssima Trindade, uma pessoa PREEXISTENTE. Jesus não tem um centro humano pessoal. Esta é a forma como o Concílio contorna o possível problema de dupla personalidade.

A definição dos concílios diz que o homem Jesus é verdadeiro. Mas se há duas naturezas nele [divina e humana, FUNDIDAS OU SEPARADAS PELO TEMPO], é evidente que uma vai dominar. E Jesus torna-se imediatamente muito diferente de nós e está longe da experiência humana comum. Jesus é tentado, mas não pode pecar, porque ele é Deus. Que tipo de tentação é essa? Ele tem pouco em comum com o tipo de lutas que estamos familiarizados.

Quando João nos mostra como aplicar o teste teológico, Ele o faz baseado na crença comum judaica e bíblica de quem seria o UNGIDO DE DEUS (UM SER HUMANO, NÃO UM SER PREEXISTENTE). Ele próprio em seu evangelho nos diz que o escreveu para que “creiamos que JESUS É O CRISTO (UNGIDO), O FILHO DE DEUS, e para que crendo tenhamos vida em seu nome. (João 20:31)”. Não confessar que Jesus veio em carne, significa NÃO CONFESSAR QUE JESUS, FILHO DE DEUS POSSUÍA UMA NATUREZA HUMANA COMPLETA.

Esta carta foi escrita por João contra os gnósticos que afirmavam que o nascimento de Jesus foi ilusório e que em realidade Jesus não era um ser humano senão apenas em aparência, disfarçado de ser humano.

Veja este importante paralelo descrito na própria epístola de João:

1 João 2:22 – Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que “JESUS é O CRISTO? É O anticristo esse mesmo que nega O PAI e O FILHO”. (Duas pessoas diferentes).

1 João 4:15 – Qualquer que confessar que “JESUS é O FILHO DE DEUS”, Deus está nele e Ele em Deus.

Em Mateus 16:16 vemos que Pedro afirma por revelação de Deus que Jesus é O Ungido, O Filho do Deus Vivo: E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo

Essa relação fica clara nas palavras de Natanael a Jesus: Rabi, tu és o Filho de Deus; tu és o Rei de Israel. (João 1:49). Crer, portanto no Filho de Deus é crer que Ele é o futuro Rei de Israel.

Em Marcos 15:32 encontramos novamente esta mesma relação nas palavras dos escribas e sacerdotes: O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que o vejamos e acreditemos. Também os que com ele foram crucificados o injuriavam.

O título FILHO DE DEUS equivale a Messias (Ou Ungido) e isto quer dizer também que corresponde ao título de “Rei de Israel”.

As igrejas são forçadas a esta posição por causa da sua convicção de que a pessoa de Jesus é o eterno segundo membro da Trindade. Jesus para as igrejas é essencialmente o próprio Deus que mais tarde se coloca sobre a natureza humana.

Cristo para os defensores da preexistência possui uma natureza humana completa sem uma personalidade humana completa, porque esta personalidade anteriormente DIVINA foi substituída por uma personalidade humana criada em Cristo.

Devemos lembrar que O TESTE VITAL DA VERDADE que se aplica a qualquer sistema de ensino tem a ver com a crença de que o verdadeiro Jesus é um verdadeiro ser humano (I João 4:2, II João 7).

Surpreendentemente, o FILHO DE DEUS PREEXISTENTE/ SEGUNDA PESSOA DA TRINDADE da crença tradicional não é uma pessoa humana genuína. Poderia o descendente prometido de Davi viver antes de Davi e ainda ser considerado seu descendente ? Uma única pessoa pode ser 100% Deus e 100% homem? Deus pode morrer? Se Jesus é Deus, e Deus não pode morrer (I Timóteo 6:16), Jesus não poderia ter morrido!

E se Jesus é Deus, ele deve ser onisciente. No entanto, o Jesus da Bíblia disse que ele não era onisciente. Ele não sabia o dia da sua vinda futura (Marcos 13:32).

Confessar que Jesus veio na carne implica também em aceitar que como ser humano Ele teve que ser ressuscitado por Deus, que era maior do que Ele. Saber que nosso irmão Jesus Cristo é um ser humano e que toda a sua grandeza foi premiada por suas realizações em sua vida, sua dedicação, sua humildade, seu sofrimento, seu amor e dedicação, quando era apenas carne e que Jesus é o homem que todos devemos imitar, deve encher nossos corações de alegria. Isto sim, em minha opinião é a essência do cristianismo primitivo.

Estou convencido de que uma cristologia bíblica deve ser enraizada na história. Para apoiar uma forte fé, a confissão deve ser submetida a uma análise rigorosa, histórica, teológica e exegética. O que seguimos não é apenas um exercício de frio intelectualismo. É uma luta de coração e mente em busca de uma confissão, que corresponde ao modelo apostólico na cristologia: a fé e compromisso com o Jesus histórico e ressuscitado, como o Messias.

MARCELO ALEXANDRE DO VALLE

[e-mail – marceloalexandrevalle@yahoo.com.br]