segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Tentação, de onde vem?

Todos nós vemos, ouvimos, ou de alguma forma presenciamos a corrupção generalizada que se abate sobre a terra. Por vezes perguntamos: quando é que Jesus irá estabelecer o seu reino de justiça e paz sobre a terra? Infelizmente não possuímos o dom de prever o futuro, e conseqüentemente, desconhecemos os tempos e as estações determinadas por Deus. O fato é que o reino de Deus com a regência do Messias Jesus, será uma realidade.

Porém a questão principal que deve nos incomodar não é a época da implantação do reino, mas sim estar, ser participante do reino. Pensando nisso me reportei para Mateus 18: 3. (Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus.) Temos aqui ao menos três questões interessantes. Conversão, agir como crianças, a terceira depende dessas duas, ou seja entrar no reino dos céus, (reparem, reino dos céus, não reino nos céus.)

A segunda questão é consequencia da primeira “se tornar como crianças” nada mais é do que ter o sentimento a atitude a ingenuidade e a sinceridade de uma criança. Isso é resultado da conversão a ação do espírito de Deus em nossas vidas, não existe outro meio ou possibilidades. Quando penso nestas palavras de Jesus me vem a mente uma questão interessante: quão difícil é ter uma atitude de uma criança, isso contrastando apenas com a nossa natureza caída, imaginem então se além de subjugar as nossas tendências tivermos que vencer também um ser espiritual infinitamente superior aos humanos?

Baseado nas palavras imperativas de Jesus, de que se não nos convertemos não seremos participantes do reino, creio que se tivermos um inimigo espiritual temido como um “deus”, o nosso caso será catastrófico. Será mesmo que a bíblia cita algum inimigo espiritual do homem, além de sua própria natureza caída? Gn. 6: 5. (E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente.) Jr. 17: 9. (Enganoso é o coração, mais do que todas as cousas, e perverso: quem o conhecerá?) Nestes dois versos percebemos que a maldade que se multiplicou sobre a terra era conseqüência da maldade do coração humano, e que a maldade procede do homem, nada, além disso. E Jeremias nos diz que o coração humano não só engana como também é perverso, como pode o engano que procede do “coração” humano ser atribuído a satanás, um anjo caído?

Jesus disse que os maus desígnios procedem do próprio homem, Mt. 15: 18-19; (Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.) Jesus não disse que toda a sorte de mazelas procede de um ser diabólico, que influencia o ser humano, mas que a fonte dos maus desígnos é o próprio homem, ou sua natureza caída. Nós entendemos por tentação tudo aquilo que nos leva de encontro com a vontade de Deus. O interessante que em lugar nenhum a bíblia diz que o pecado é consequência da tentação de um ser espiritual, ou de anjo caído. Pelo contrário, diz que tais acontecimentos procede diretamente do homem. Tg. 4: 1; (De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne?)

Naturalmente não devemos entender como sendo somente esses tipos de pecado, mas sim todos. Gl. 5: 17; (Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.) Reparem aqui que a tendência para o pecado brota de dentro do homem, não de fora. Procede da carne. Manifestamente, Jesus e os apóstolos não nos ensinam a lutar contra poderes sobrenaturais, mas a dominar o que nasce no coração humano, a vencermos a nós mesmo libertando-nos das nossas paixões, a fomentar nossa tendência a Deus em busca da perfeição. Esta é a nota tônica do evangelho (arrependimento e conversão) é a base do reino de Deus.

A lista das obras que procedem da carne que nos apresenta o apostolo Paulo é fruto da tentação proveniente do diabo? A bíblia não diz isso, vemos vários textos que nos mostram que tais procedimentos são provenientes do próprio homem. Gl. 5: 19-21; (Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria,feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.) Reparem obras da carne. Rm. 5: 12; (Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.) percebam que a bíblia insiste em dizer que o pecado entrou no mundo por causa do homem, ou seja, o único responsável pelo pecado foi o homem, ninguém mais.

Muitos dirão: sim entrou por causa do homem, mas este último foi influenciado por satanás. Esta é uma afirmação sem base bíblica, se pensarmos assim, seremos obrigados a acrediatar que alguém influenciou satanás para que ele pudesse pecar, algo absurdo. O fato é que a doutrina da tentação humana só ganhou força devido a influencia dos pais da igreja, infelizmente eles viveram em uma época onde o pensamento sobre a existência do diabo como um ser espiritual era predominante. “O homem sozinho não era responsável pelas tentações que se abatem sobre ele, o homem seria o campo de luta entre o príncipe do bem e o espírito do mal, o Anjo de luz e o Anjo das trevas, que queriam ser donos por direito de posse, da alma humana”. Este conceito qunraniano (Qunran) parecia refletir-se na epístola de Barnabé, e certamente no Pastor de Hermas, século II dC. Neles se funamentata Orígines. (Pastor de hermas 6º preceito.) Vários outros líderes cristãos dos primeiros séculos compartilhavam o mesmo pensamento e ensinamento, devemos censurá-los por isso? De maneira nenhuma, pelo fato de terem vivido sobre a influencia demonológica dos primeiros séculos.

Muitos cristãos irão argumentar dizendo: mas, o próprio Jesus não disse que Pedro estava sendo usado por satanás com o objetivo de tenta-lo? Mt. 16: 23; (Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens.) Percebemos dois fatos interessantes neste verso, Jesus disse que Pedro pensava muito nas coisas dos homens, não disse que Pedro foi usado pelo diabo, fato é que satanás aqui representa alguém que se opõe a outro em propósito ou ação, não um ser espiritual. O simples fato de pensar que é a ação de um ser espiritual é devido ao ensinamento tradicional que está cristalizado nas mentes de muitos. Com relação as tentações, Paulo nos informa que o pecado que habita em nós é que impulsiona as tentações. Rm. 7: 16-21; (Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.) Notem que Paulo não menciona que seja satanás o causador das tentações, ele diz simplesmente que é o pecado, ou a natureza caída.

Ainda falando sobre a tentação Paulo conforta todos aqueles que esperam na implantação do reino de nosso Senhor Jesus Cristo, falando sobre a nossa caminhada espiritual ele diz que não devemos nos preocupar com outro inimigo além da nossa própria natureza pecaminosa, 1ª Co. 10: 13; (Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.) Naturalmente nós compreendemos que tentação humana é o que todos sofremos, ao passo que tentação não humana ou sobre humana em outras traduções, refere-se a um tipo de tentação que não brota da mente, ou mais especificamente espiritual, sendo assim como explicar as investidas de satanás? Reparem que o texto continua dizendo que Deus não permitirá que sejamos tentados além das nossas forças. Naturalmente um ser espiritual nos importunaria muito além de nossas forças.