domingo, 21 de agosto de 2011

O Reino de Deus. No céu, ou na terra?

O tema do reinado messiânico sobre a terra tem causado repulsa para alguns leitores, isso acontece devido ao ensinamento tradicional da morada no céu que permeia a mentalidade cristã, e que contrasta com este ensinamento. Sendo assim, já com as mentes cristalizadas muitos resistem a estudar e acima de tudo em aceitar essa maravilhosa realidade bíblica.

No entanto, o ensinamento sobre o reino milenar do Messias sobre a terra não é um tema novo, remonta desde os dias bíblicos, antes mesmo da era cristã. Contudo, os defensores da morada no céu argumentam que só se consegue explicar a doutrina do reinado milenar sobre a terra baseado em textos bíblicos isolados. Percebe-se, porém através dos relatos bíblicos, que isso não é uma realidade, não passa de desculpas de pessoas que querem fazer prevalecer os seus ensinamentos.

Creio que o mesmo argumento deve ser usado para inquirir como se conseguem estabelecer a doutrina da morada no céu, não seria também um sequestro dos textos bíblicos do seu contexto? Ou melhor, quais os textos bíblicos que comprovadamente ensinam sobre a morada no céu?Analisaremos alguns textos sobre a morada no céu, ou que são erroneamente utilizados para sustentar tal doutrina. Mc. 10: 21; E Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me.

Faz-se necessário duas perguntas: ter um tesouro no céu, significa possuir tal tesouro no céu mesmo? Ou é uma forma de declarar a “recompensa” resultante do altruísmo do jovem rico? O fato de distribuir a sua e riqueza aos pobres, o individuo seria galardoado com uma riqueza eterna no reino de Deus, [reino no céu significa durabilidade em contraste com a efemeridade das riquezas humanas.] Tanto é assim que o próprio Jesus disse no verso 23 que dificilmente os que possuem riquezas e põe o seu coração na mesma entrarão no reino de Deus. Mt. 6: 19-21; Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.

Longe de fortalecer a doutrina da morada no céu este verso não apoia tal idéia como também esclarece o verso anterior. De que forma podemos acumular tesouros no céu? Naturalmente Jesus utilizou aqui de uma linguagem figurada, o acumular tesouro no céu é na realidade priorizar, ter em maior estima o reino de Deus ao invés do reino dos homens. Jo. 14: 2-3; Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.

Algumas citações interessantes: (1) Jesus não disse que os levaria para o céu, é pura dedução teológica pelo fato de Jesus ter subido ao céu. (2) algumas traduções dizem onde eu estou, significa que após o seu retorno os discípulos estarão em Jerusalém com Jesus? pois é ali que eles estavam. (3) Outras traduções dizem, onde eu estiver... Dá no mesmo, continua indefinido o lugar, o verso por si só não prova nada. A idéia de ir para o céu após a morte, ou mesmo em ocasião futura entra em choque com o verso de apocalipse 21: 3; Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles .

Encontramos neste verso ao menos três questões que são obstáculos para a doutrina da morada no céu, examinaremos as palavras grafadas e são elas: Eis, do Grego Idou que significa: veja! olhe! repare! Denotando uma novidade. Não seria novidade nenhuma para os salvos no céu. A segunda é habitará, se olharmos do ponto de vista do nosso idioma significa que Deus estará conosco e consequentemente nós com ele somente após a descida da nova Jerusalém, o que é uma realidade, pois habitará está no futuro. No Grego esta palavra é Skenoo que quer dizer: fixar, permanecer, residir em um tabernáculo. A terceira do ponto de vista do Português, também está no futuro, no original é esomai do verbo “estar”.

Outro verso utilizado se encontra em Fl. 3: 20; Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Utilizar este verso para provar a morada no céu é forçar a interpretação bíblica, Paulo está primeiramente contrapondo o modelo de muitos que se diziam cristãos, mas que na realidade eram tremendamente mundanos. Outro fato é que o verso por si só nos leva a compreendermos que (1) o modelo do reino vindouro é celestial, ou seja diferente do que conhecemos atualmente, (2) ...também aguardamos o Salvador... A palavra “também”pressupõe que, assim como aguardamos o Messias, devemos aguardar a pátria, o modelo o reino ou mesmo a nova Jerusalém.

O ensinamento puro e bíblico nos mostra que Jesus veio cumprir tudo que foi declarado pela lei e os profetas, Lc. 24: 44; A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Jesus disse ...tudo o que de mim está escrito... A profecia do servo sofredor, simbolizando o cordeiro de Deus, se cumpriu exatamente como disseram os profetas, naturalmente devemos esperar que a profecia do Jesus assentado sobre o trono de Davi se cumpra, pois assim declararam os profetas, 2ª Sm. 7: 12-16; Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; se vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de homens e com açoites de filhos de homens. Mas a minha misericórdia se não apartará dele, como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti. Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre.

Os defensores do reino “no céu” dirão: “este texto deve ser aplicado aos dias de Davi, ele fala imediatamente de Salomão, não do Messias.” É uma realidade, porém a profecia bíblica teve um começo uma promessa e portanto vários protagonizadores até o Cristo, é a ordem natural. 1ª Cr. 17: 14; Mas o confirmarei na minha casa e no meu reino para sempre, e o seu trono será estabelecido para sempre. A palavra sempre desse verso é olam e quer dizer: longa duração, para sempre, etc. Mediante isso cabe uma pergunta: falhou Deus em cumprir a sua promessa? Foi condicional como afirmam os adventistas?

Vejamos: Sl. 89: 3-4; Fiz aliança com o meu escolhido e jurei a Davi, meu servo: Para sempre estabelecerei a tua posteridade e firmarei o teu trono de geração em geração. Reparem que Deus fez uma aliança, e não diz que ela seria condicional. Sl. 89: 35-37; Uma vez jurei por minha santidade (e serei eu falso a Davi?): A sua posteridade durará para sempre, e o seu trono, como o sol perante mim. Ele será estabelecido para sempre como a lua e fiel como a testemunha no espaço. O sol e a lua deixaram de existir? Se eles são utilizados nestes versos como sinal de fidelidade ao cumprimento da aliança entre Deus e Davi, como a aliança pode ter sido condicional?

Quando Cristo nasceu Israel já se encontrava sem rei, isso se deu devido a transgressão dos líderes e consequentemente do povo, o resultado foi o cativeiro e a deposição dos monarcas. Esta seria a oportunidade para que as promessas feitas a Davi pudessem ter sido anuladas. Lc. 1: 31-33; Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. A promessa e a profecia de que alguém se assentaria sobre o trono de Davi estavam cumpridas, e rejeitar este fato é rejeitar os escritos bíblicos.

Percebemos então que vários homens se assentaram sobre o trono de Davi, mas não foram o Messias. Nós cristãos acreditamos que o anjo falou literalmente com Maria, mãe de Jesus. Para os que crêem numa morada no céu, estaria o anjo equivocado? Pois, ele disse com relação a Jesus: ...e o Senhor lhe dará o trono de Davi... Sabemos que Davi reinou na terra e não no céu. Baseado nas promessas e nos escritos dos profetas o que esperavam os judeus nos dias de Cristo? At. 1: 6-7; Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor será este o tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade. Notem que ao indagar sobre a restauração do reino a Israel, Jesus não mencionou que os seus discípulos estavam equivocados quanto ao local e a restauração, apenas disse que tal acontecimento daria em ocasião determinada por Deus.