domingo, 1 de março de 2015

A flexibilidade da palavra Deus na visão semítica.

Em outra postagem já tratei um pouco sobre este assunto, por ele ser abrangente merece ser destacado novamente. Este verso de hebreus é um daqueles que quando visto superficialmente parece apoiar a doutrina da trindade. Hb. 1.8 (Mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e: Cetro de equidade é o cetro do seu reino.) O nosso idioma faz uma clara distinção entre as palavras maiúscula e minúscula, por exemplo: (Deus e deus). Assim, em nossas Bíblias, o Pai celeste é chamado de "Deus", enquanto os ídolos ou mesmo as pessoas com autoridade dada por Deus e as pessoas importantes, como reis, também são chamados de "deus" 2ª Co. 4.4; (Nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.)
             
Jo. 10.34-35 (Replicou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses? Se ele chamou deuses àqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus, e Escritura não pode falhar.) At. 12.22 (E o povo clamava: É voz de um deus, e não de homem!) O idioma hebraico e aramaico não faz a distinção entre "Deus" e "deus". Pelo fato destes idiomas possuírem apenas a letra maiúscula. Apesar de a língua grega ter tanto as letras maiúsculas quanto as minúsculas os manuscritos gregos foram escritos em maiúsculo. Era o estilo de escrita na época do Novo Testamento escrever os manuscritos em letras maiúsculas, assim os manuscritos gregos ficaram como o texto hebraico, tudo em maiúsculo. 

Os estudiosos chamam esses manuscritos de unciais este estilo era muito popular até o início do século IX até que um script menor foi desenvolvido. Uma vez que todos os textos estavam em maiúsculo, se, por exemplo, Gênesis 1:1-2 fosse escrito, como se copiava os manuscritos hebraicos, ele seria diferente do que seria na atualidade. Nesta época tanto os escritos hebraico quanto os manuscritos gregos não havia espaços entre as palavras, e sem pontuação, sem capítulos e sem versículos. Os textos originais, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento foram escritos em maiúsculo, e os versos de Gênesis ficaria assim:

NOPRINCIPIOCRIOUDEUSOSCEUSEATERRAATERRAPOREMERASEMFORMAEVAZIAHAVIATREVASSOBREAFACEDOABISMOEOESPIRITODEDEUSPAIRAVASOBREASAGUAS

A bíblia foi impresso a mão exatamente da mesma maneira, com todas as letras maiúsculas e sem espaços entre quaisquer palavras. Como se pode ver, isso fazia com que a leitura se tornasse muito difícil, e por isso era comum ler em voz alta, mesmo quando se lia para si mesmo, para tornar a leitura mais fácil. É foi por isso que o evangelista Filipe pode ouvir o eunuco etíope ler o livro de Isaías At. 8.30.(Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo?) Tal texto era difícil de ler e muito mais difícil de ensinar. 

Imagine não ser capaz de dizer: "Vai para o capítulo 5, versículo 15." Por isso, as divisões no texto começaram a aparecer muito cedo. No entanto, porque os escribas viviam distantes e os manuscritos sendo copiadas à mão, as divisões nos vários manuscritos não foram uniformes. As primeiras divisões padronizadas entre versos surgiram por volta de 900 dC. E as modernas divisões de capítulos foram feitas no ano de 1200. Está claro então que não havia como distinguir entre as palavras "Deus" e "Deus" nos textos iniciais, e por isso deve ser sempre determinada a partir do contexto. Para saber se a palavra "Deus" está se referindo ao Pai ou a alguém de posição. 

As línguas semíticas o grego e o latim falado pelos primeiros cristãos usavam a palavra "Deus" com um significado mais amplo do que fazemos hoje. "Deus" era um título Descritivo, como foi dito a cima, aplicado a uma série de autoridades, incluindo grandes personalidades, governantes e pessoas que atuavam com a autoridade dada por Deus. Jo. 10.33 (Responderam-lhe os judeus: Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.) Quando os judeus desafiaram Jesus e disseram que ele estava afirmando ser "um deus" (mal traduzida na maioria das versões como "Deus" ele lhes respondeu, perguntando-lhes se eles tinham lido no Antigo Testamento, o qual diz que as pessoas a quem a Palavra de Deus fora direcionada foram chamadas de “deuses”.

É difícil escapar à noção moderna de que "Deus" refere-se ao Deus verdadeiro e “deuses” refere-se a “divindades” menores. Qualquer estudo das palavras para "Deus" no hebraico e no grego vai mostrar que eles foram aplicados a pessoas, bem como a Deus. Isso é estranho para as pessoas que falam nosso idioma, porque nós usamos "Deus", em referência apenas ao Deus verdadeiro, mas o hebraico e o grego usam a palavra "Deus" em maiúsculo para qualquer personalidade que tenha autoridade. 

É o contexto que determina se a palavra "Deus" está se referindo a Deus ou a uma grande personalidade. Esta é realmente uma causa de discordância entre os tradutores, e às vezes eles discutem sobre se "Deus" refere-se a Deus, o Pai, ou a uma pessoa poderosa ou representante de Deus. Um exemplo disso ocorre em Ex. 21.6 (Então, o seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre.) A palavra juízes é Elohim, ou deus e também a palavra senhor que é Adown. Porém, o contexto nos mostra que tais palavras não se refere a o Deus supremo.

Assim ocorre em Hebreus 1.8 só porque a palavra " theos" (" Deus ") é usada, não significa que ele se refere ao Pai. Ela poderia facilmente estar se referindo a "deus" no sentido bíblico de que os grandes homens são chamados de "deus". A Septuaginta usa a palavra theos para Deus, mas também para os homens, como por exemplo, o Salmo 82, onde os homens representam a Deus. O contexto deve ser o fator determinante para decidir a que "Deus" refere-se. Neste caso, em Hebreus o contexto é claro. Ao longo de todo o contexto de Hebreus, Cristo é visto como sendo menor do que Deus, o Pai. Portanto, o uso de " theos "aqui deve ser traduzida como" deus ".

O contexto deve determinar se Cristo está sendo referido como o Ser Supremo, ou apenas um homem com grande autoridade, por isso deve ser lido com cuidado. Neste caso, no entanto, não é preciso ler muito para descobrir que Cristo, apesar de ser chamado de "Deus" tem um "Deus." Hb. 1.9 (Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria como a nenhum dos teus companheiros.) Assim, Cristo não pode ser o Deus supremo, porque o Deus supremo não tem um Deus. Além disso, o Deus de Cristo está acima dos outros, e o próprio Cristo foi "ungido" por Ele.

Isso deixa bem claro que o uso de theos aqui em Hebreus não está se referindo a Cristo como sendo o Deus supremo, mas sim um homem com grande autoridade sob outro Deus, governantes juízes e autoridades em geral. Aqui o contexto prova que a palavra "Deus" não denota o Ser Supremo, mas é usado em um sentido inferior. Neste contexto a palavra Filho é abordada pelo título Deus, mas o contexto mostra que é um título oficial, que o designa como um rei, ele tem um reino, um trono e um cetro; e no versículo nove ele é comparado com outros reis, que são chamados de seus companheiros; porém Deus não pode ter companheiros. Já o filho por ser homem, pode ser classificado com os reis da terra, e sua superioridade sobre eles consiste no fato de que ele é ungido com o óleo da alegria acima deles; na medida em que seus tronos são temporários, mas o seu será eterno. O verso de hebreus capítulo um é uma citação de Sl. 45.6-7. (O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu reino. Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria, como a nenhum dos teus companheiros.)
        
Apesar de ler esses versículos por séculos e, sabendo que a flexibilidade da palavra os "Deus", os judeus nunca disseram que o Messias iria de alguma forma fazer parte de um Deus Uno e Trino. O verso é uma referência do Antigo Testamento, e o fato de Deus, está chamando Seu Cristo de um "deus", é simplesmente pelo fato dele (Cristo) ter recebido autoridade divina.