quarta-feira, 15 de março de 2017

Comer ou não comer. Os gentios e a questão da impureza.

Vimos em outro assunto que os animais impuros representavam os gentios, para isso usei passagens bíblicas tais como: Lv. 11. 45-47 Eu sou o Senhor, que vos faço subir da terra do Egito, para que eu seja vosso Deus; portanto, vós sereis santos, porque eu sou santo. Esta é a lei dos animais, e das aves, e de toda alma vivente que se move nas águas, e de toda criatura que povoa a terra, para fazer diferença entre o imundo e o limpo e entre os animais que se podem comer e os animais que se não podem comer.”

Lv. 20. 25-26 “Fareis, pois, distinção entre os animais limpos e os imundos e entre as aves imundas e as limpas; não vos façais abomináveis por causa dos animais, ou das aves, ou de tudo o que se arrasta sobre a terra, as quais coisas apartei de vós, para tê-las por imundas. Ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus.”

E que também a proibição não se referia a questão de saúde. Pelo fato de algumas plantas serem venenosas, mas nem por isso elas estão listadas como algo proibido. Naturalmente nem todas as carnes são fontes de alimento, mas a bíblia também não diz se o camelo tem mais bactérias do que as vacas, nem mesmo porque as abelhas são consideradas imundas e o mel produzido por elas é próprio para alimento. A bíblia se limita a dizer: puro e impuro.

Outra questão bastante relevante está no fato da bíblia relacionar a questão cerimonial com um período de tempo; lembrando sempre, na maioria das vezes aqueles que se tornavam impuros eram considerados como tais, até a tarde. Lv. 11. 31Estes vos serão por imundos entre todo o enxame de criaturas; qualquer que os tocar, estando eles mortos, será imundo até à tarde.” Isso significa que estou estimulando as pessoas a comerem qualquer coisa? Bem, cada qual come e bebe o que quiser, mas não é isso, Eu mesmo me restrinjo a comer o que não gosto e aquilo que pode não me fazer bem.

O que estou dizendo é que a proibição encontrada no AT. Não se referia a questão de saúde, mas sim uma questão religiosa cerimonial, ou seja, a separação de judeus e gentios, isso é confirmado no NT. O livro de Atos nos diz mais sobre isso; At. 10. 9-14 “No dia seguinte, indo eles de caminho e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao eirado, por volta da hora sexta, a fim de orar. Estando com fome, quis comer; mas, enquanto lhe preparavam a comida, sobreveio-lhe um êxtase; então, viu o céu aberto e descendo um objeto como se fosse um grande lençol, o qual era baixado à terra pelas quatro pontas, contendo toda sorte de quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu. E ouviu-se uma voz que se dirigia a ele: Levanta-te, Pedro! Mata e come. Mas Pedro replicou: De modo nenhum, Senhor! Porque jamais comi coisa alguma comum e imunda.”

Antes de tudo quero dizer que estes versos não provam nem apoiam nada sobre a questão de comer animais considerados imundos, Pedro teve uma visão, e o que ele viu estava relacionado com aquilo que ele mais desejava naquele momento, Pedro estava com fome. Tanto é assim que ele mesmo passa a narrar os acontecimentos, At. 10. 17Enquanto Pedro estava perplexo sobre qual seria o significado da visão, eis que os homens enviados da parte de Cornélio, tendo perguntado pela casa de Simão, pararam junto à porta.” 

Pedro mesmo reconheceu ser uma visão, não uma ordem direta para comer o que lhe foi apresentado; os versos a seguir mostram o significado da visão, At. 10. 28 “Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo.” Os animais aparecem para Pedro em algo semelhante a um lençol suspenso, depois os homens do Centurião romano Cornélio aparecem na casa onde ele estava hospedado, e depois o próprio Pedro diz, que após a nova aliança não podemos considerar ninguém imundo. Isso demonstra claramente o que significava a proibição de comer e não comer certos tipos de animais.

Assim sendo a visão de Pedro relatada em atos capítulo 10 demonstra claramente que os gentios outrora considerados impuros sob a nova aliança, não mais são considerados como tais. Porém, o contexto do assunto nos mostra que o panorama principal não é a liberação dos alimentos considerados impuros que está sendo destacado, isso é claramente demonstrado, o que está sendo enfatizado é que os gentios representados pelos animais suspensos numa espécie de lençol, não mais são considerados imundos ou impuros para o reino de Deus.

Assim sendo muitos se encherão “daquele orgulho denominacional” e dirão: - “lógico, o contexto está tratando de uma aplicação simbólica, não uma realidade literal”. Sim, isso é uma realidade, no entanto, não podemos desassociar os fatos, se para um judeu como foi o caso de Pedro, os gentios eram considerados impuros, ou mesmo imundo como certo tipo de animal, para ele ficou nítido que tais pessoas consideradas impuras as quais foram representadas por animais não eram mais consideradas assim.

Em outras palavras, se Pedro compreendeu que os gentios foram purificados, naturalmente aquilo que os representava foram também. At. 10. 34-35Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável.” At. 11. 7-9 “Ouvi também uma voz que me dizia: Levanta-te, Pedro! Mata e come. Ao que eu respondi: de modo nenhum, Senhor; porque jamais entrou em minha boca qualquer coisa comum ou imunda. Segunda vez, falou a voz do céu: Ao que Deus purificou não consideres comum.”

A objeção pode ocorrer da seguinte forma: - “o verso está dizendo que as pessoas foram purificadas não os animais.” Sim, no entanto, o que está sendo usado para demonstrar a purificação das pessoas são os animais. Foi o que Eu disse, Pedro deve ter entendido que ambos foram purificados, ele não poderia desassociar um do outro, ou seja, como ele poderia acreditar que os gentios foram purificados mas aquilo que os representava não  foi; parece que Paulo também não teve problemas para fazer a associação.

Rm. 14. 14 “Eu sei e estou persuadido, no Senhor Jesus, de que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para esse é impura.” Aqui Paulo está falando de alimento, e não é só isso a palavra grega para coisa é oudemia e quer dizer nada, ninguém. 1ª Co. 10. 25 “Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência.” Aqui muitos objetarão dizendo: -“ele está falando de comida sacrificada aos ídolos.” Sim pode ser, mais será que aquele que sacrificava aos ídolos se preocupava em sacrificar somente alimentos considerados puros? A palavra mercado é makellon e quer dizer, lugar onde carne e outros artigos alimentícios eram vendidos, açougue.

Portanto, cada qual come e bebe o que quer, muito propriamente aquilo que em nossa sociedade temos como alimento, mas dizer que isso e aquilo são proibidos pelo fato do AT. Dizer, não é correto, muito menos dizer que tais leis foram dadas por motivos de saúde.