quarta-feira, 11 de abril de 2012

Eterno enquanto durar.

Respondendo a alguns e-mails sobre a postagem anterior, e a indagação de um amigo o qual insiste que existe uma diferenciação na lei de Deus, segue essa postagem. Ele me questionou o seguinte: “Existem vários versos que nos mostram que a lei dos dez mandamentos são eternas e existem também versos que nos mostram as leis cerimoniais como representando a Cristo e tendo o seu cumprimento nEle. Portanto, essas leis cerimônias sim, perderam o seu valor.” 

No que concerne a questão religioso, tenho presenciado várias pessoas que o que elas acreditam como sendo a verdade bíblica é somente o que elas aprenderam em suas denominações e nada mais do que isso. Estão fechadas completamente para qualquer estudo que lhes mostre algo mais claro e traga com isso uma evolução no conhecimento bíblico. 

Respondendo para aqueles, inclusive para a pessoa que me questionou sobre a divisão de leis, uma pergunta se faz necessária: O que entendemos ser uma lei cerimonial? Bem, para os que não admitem uma evolução no conhecimento bíblico e acham que o que aprenderam é a verdade última dirão que são todos os ritos que foram praticados pelos judeus, e que hoje não se faz necessário. Páscoas, Holocaustos, Festas e etc. 

Mas, a bíblia descreve vários preceitos que entendemos que foram cerimoniais, porém foram tidos como perpétuos. Gn 17.12-13. (O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua.) Sabemos que a circuncisão tem suas conotações espirituais, mas atualmente ninguém que não se circuncide está quebrando uma lei, contudo foi dito ser um mandamento perpétuo. 

Ex. 12.11 e 14. (Desta maneira o comereis: lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão; comê-lo-eis à pressa; é a Páscoa do Senhor. Este dia vos será por memorial, e o celebrareis como solenidade ao Senhor; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo.) 

Reparem outras leis que foram tidas como perpétuas. Lv. 23.41 (Celebrareis esta como festa ao Senhor, por sete dias cada ano; é estatuto perpétuo pelas vossas gerações; no mês sétimo, a celebrareis.) Várias outras leis que temos como cerimoniais também foram declaradas como sendo a Lei de Deus ou a lei do Senhor, exemplos: ofertas e holocaustos. 2ª Cr. 31.3. (A contribuição que fazia o rei da sua própria fazenda era destinada para os holocaustos, para os da manhã e os da tarde e para os holocaustos dos sábados, das Festas da Lua Nova e das festas fixas, como está escrito na Lei do Senhor.) Lei do Senhor ou lei de Moisés? Lei do Senhor é claro! 

Ex. 13.5 e 9, Quando o Senhor te houver introduzido na terra dos cananeus, e dos heteus, e dos amorreus, e dos heveus, e dos jebuseus, a qual jurou a teus pais te dar, terra que mana leite e mel, guardarás este rito neste mês. E será como sinal na tua mão e por memorial entre teus olhos; para que a lei do Senhor esteja na tua boca; pois com mão forte o Senhor te tirou do Egito. Vemos aqui o ritual dos pães ázimos sendo declarado no verso cinco como sendo um rito e também como pertencendo a lei do Senhor. Deve ficar claro que as divisões entre lei moral e lei cerimonial não é encontrado na bíblia. 

Se os escritores bíblicos acreditavam que todas as leis que existiam e regiam a nação de Israel fossem leis do Senhor e estatuto perpétuo, naturalmente eles não criam e muito menos ensinavam que existia uma lei cerimonial. E de maneira nenhuma diziam que só os dez mandamentos constituíam-se como lei moral. Por outro, lado se sabiam mesmo antes de Cristo que existiam divisões na lei, porque não declararam isso? Lógico que não poderiam declarar e e isso por dois motivos (1) não existia e não existe tal distinção, (2) a própria bíblia no antigo testamento declara que todos os mandamentos são perpétuos. 

Como foi perpétuo se não existe e não é necessário em nossos dias? Podemos afirmar que foi perpétuo até quando durou, até quando foi necessário. Foi perpétuo para o contexto do sacerdócio levítico, neste caso Deus não poderia dizer de outra forma. Então, tal divisão de leis foi uma necessidade teológica encontrada para que se preservasse alguns mandamentos da velha aliança. Sendo assim quando a bíblia declara que os mandamentos são eternos deve ser entendido que são eternos enquanto durarem. 

Foi exatamente isso que Deus quis dizer, caso contrário teríamos que guardar as festividades, os holocaustos, a circuncisão da carne e tantas outras ordenanças. Os judeus na sua maioria não assimilaram tal pensamento, exceto os que aceitaram a Cristo, os apóstolos, discípulos e etc. Muitos utilizam da declaração do salmista que diz: Sl. 119.152. (Quanto às tuas prescrições, há muito sei que as estabeleceste para sempre.) Alegam que o salmista está dizendo que as prescrições referidas não são todos os mandamentos, mas somente os dez mandamentos. Vimos porém, que não pode existir tal ensinamento, pelo fato de para isso terem que ignorar todos os mandamentos bíblicos tidos como perpétuos. 

O salmista não era conhecedor de tal divisão de lei, algo que só foi possível com a chegada da nova aliança, visto que antes desse período uma era a lei do Senhor, alias continua sendo, mas criaram arranjos teológicos necessários para sustentarem determinados movimentos religiosos. Portanto, nenhum escritor ou leitor bíblico nos dias do antigo testamento tinha uma visão dualista da lei de Deus, ou seja, quando liam que guardar o primogênito era lei do Senhor, liam que os sacrifícios eram lei do Senhor. Liam também que a páscoa era eterna. Que a circuncisão da carne era por estatuto perpétuo. Portanto, ninguém dizia que só o decálogo era eterno. 

Para Eles uma era a aliança e uma só a lei, como entender então, quando nos é dito: Hb. 8.13 (Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer.) O que faremos, seremos como muitos judeus que continuaram a crer que todo o sistema da lei continua? Faremos como Paulo e outros da Nova Aliança que insistiram em dizer que o antigo pacto e tudo no que nele estava vinculado acabou? Ou seguimos a teologia arranjada de que o que caducou foi o sistema cerimonial, e que eterno mesmo são só os dez mandamentos? Mesmo que a bíblia quando lida sem preconceitos não apóia tal ensinamento?